sexta-feira, 29 de abril de 2011



Parte: XIII


Desejo a todos os senhores uma ótima saúde e um pouco mais de cortesia. Diga-se de passagem, senhores, que esta é uma casa muito bem construída. (Quase não sabia o que dizia, em meu insopitável desejo de falar com naturalidade). Poderia, mesmo, dizer que é uma casa excelentemente construída. Estas paredes – os senhores já se vão? – estas paredes são de grande solidez.  
         
Nessa altura, movido por pura e frenética fanfarronada, bati com força, com a bengala que tinha na mão, justamente na parte da parede atrás da qual se achava o corpo da esposa do meu coração.  
            
Que Deus me guarde e livre das garras de Satanás! Mal o eco das batidas mergulhou no silêncio, uma voz me respondeu do fundo da tumba, primeiro com um choro entrecortado e abafado, como os soluços de uma criança; depois, de repente, com um grito prolongado, estridente, contínuo, completamente anormal e inumano.            

Um uivo, um grito agudo, metade de horror, metade de triunfo, como somente poderia ter surgido do inferno, da garganta dos condenados, em sua agonia. E dos demônios exultantes com a sua condenação.       
         
Quanto aos meus pensamentos, é loucura falar. Sentindo-me  desfalecer, cambaleei até à parede oposta. Durante um instante, o grupo de policiais deteve-se na escada, imobilizado pelo terror. Decorrido um momento, doze braços vigorosos  atacaram a parede, que caiu por terra. O cadáver, já em adiantado estado de decomposição, e coberto de sangue coagulado, apareceu, ereto,  aos olhos dos presentes. Sobre sua cabeça, com a boca vermelha dilatada e o único olho chamejante, achava-se pousado o animal odioso, cuja astúcia me levou ao assassínio e cuja voz reveladora me entregava ao carrasco. Eu havia emparedado o monstro dentro da tumba!

Por: Edgar Allan Poe

Ler a biografia desse autor (Interessante!):

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