terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Jovens Escritores: Brasileiros




A moça das flores e o tropeiro


Francisca nasceu no século XIX em uma fazenda do interior paulista. Aprendeu costurar e bordar. Naquela época uma boa moça tinha que possuir tais habilidades. Mas o que ela realmente apreciava era cavalgar pelos campos, contemplar a beleza da região, sentir o vento em seu corpo, em seus longos cabelos. Gostava de observar pássaros e flores, vivia em harmonia com a natureza. Todos os jarros do casarão eram abastecidos com flores que ela cuidadosamente escolhia e colhia, por isso a chamavam carinhosamente de “a moça das flores”.

Certo dia quando Francisca foi colher flores, próximo de um rio que cortava a fazenda, percebeu a aproximação de um tropeiro que lhe despertou atenção. Apesar do traje rústico dele e da aparência cansada, observou profundamente seus olhos azuis, parecia um príncipe.
Por alguns instantes os dois se entreolharam, foram tomados pela magia do encantamento, se sentiram magnetizados um pelo outro. Os dois ficaram apaixonados, um caso de amor à primeira vista. O tropeiro chamava-se Joaquim, estava conduzindo gado do sul de Minas para uma fazenda em São Paulo.

Dali em diante o tropeiro jamais parou de pensar na moça das flores. Com ela aconteceu o mesmo. Era raro ele entregar mercadorias ou gado naquela região, mas, depois da fulminante paixão, ele passou a alterar alguns itinerários somente para vê-la. Da parte dela, vivia contando os dias.

Havia um abismo entre ambos. A moça das flores era rica, o pai (um autoritário português) não permitia o namoro de sua única filha com um tropeiro. Tanto Francisca quanto Joaquim tinham conhecimento da realidade, ainda assim ele pediu permissão para namorá-la, sem sucesso.

A moça das flores tinha esperança que seu pai pudesse voltar atrás, com o tempo, mas isto não aconteceu. Ela disse para sua mãe Thereza que iria para um convento, se tornaria uma freira se não casasse com o tropeiro. Não desejava outra pessoa a não ser ele. O recado foi transmitido ao pai, que preferia ver a filha reclusa, se assim ela decidisse. Por precaução paterna, o tropeiro foi proibido de chegar perto do casarão. Se fosse apanhado na região seria alvejado com a certeira pontaria do português Antonio. A espingarda tinha inúmeras serventias para ele, inclusive espantar indesejados.

Alguns meses se passaram, até que certo dia o tropeiro recebeu uma encomenda especial para entregar justamente na fazenda do português Antonio. A carga era de querosene, sal, trigo, sementes e algumas ferramentas O português não gostou de encontrar-se novamente com o tropeiro Joaquim. Foi objetivo, conferiu a encomenda, pagou a importância negociada e ordenou que o tropeiro Joaquim partisse rapidamente. Com um jeito bem humilde, o tropeiro solicitou ao português permissão para repousar algumas horas, alegou que estava cansado, seu cavalo e mulas também. Foi atendido a contragosto.

Era a oportunidade caída dos céus. O tropeiro instalou-se em um local reservado, e enquanto descansava, imaginou inúmeras possibilidades para conversar com sua amada. Como ele conhecia os costumes dela, sabia que em um determinado momento ela iria apanhar seu cavalo no estábulo para buscar flores.

Com muita cautela o tropeiro conseguiu aproximar-se dela. Coração acelerado, ansioso, mesmo assim conseguiu declamar uma poesia de amor para ela. E depois disse que a amava mais que tudo, desejava casar, ter filhos, fez as juras de amor de um apaixonado. A moça das flores ficou com a face avermelhada, as pernas ficaram trêmulas e o coração palpitava desesperadamente. Ela nem conseguia falar, não precisava. Diante da recíproca daquele amor, o tropeiro sugeriu algo para ela:

- Vamos fugir, Francisca? Ela respondeu ...“sim”!

A solução para a união daquele amor havia sido encontrada, não havia outro jeito, tinha que ser imediatamente. Como na fazenda todos tinham o costume de adormecer cedo para economizar querosene das lamparinas, assim que sentiu ser o momento adequado, a moça das flores pulou por uma janela, se acomodou no cesto de uma das mulas do tropeiro, saíram da fazenda sem alarde. Ninguém percebeu, a não ser, horas depois, quando os dois estavam a léguas de distância. Na época foi um escândalo.

Para quem não sabe, os cestos artesanais (cassuá, jacá) eram muito utilizados para entregar mercadorias. Eram confeccionados com fibras resistentes, suportavam peso. Alguns eram revestidos com couro, para que as encomendas não ficassem visíveis.

Francisca “a moça das flores” foi deserdada, nunca mais teve contato com seu pai e sua mãe. Foi o preço que pagou para estar ao lado de seu amor. Dizem que os dois tiveram muitos filhos, constituíram um lar feliz, na base do respeito e amor. Os dois se fixaram em Minas Gerais, na região de Alfenas, Paraguaçu. Dizem que por lá existem jardins maravilhosos!


Algumas postagens, nesse mês, serão dedicadas a tornar conhecidos jovens escritores: brasileiros e portugueses. Não haverá correção dos textos, mas respeito pela linguagem e estilo dos autores.


Autora: Marina Moreno Leite Gentile (Salvador / BA)

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