sexta-feira, 29 de abril de 2011

A HISTÓRIA DO ÁLCOOL

Michelangelo, Embriaguez de Noé, Capela Sistina, 1508-10.

Segundo alguns registros arqueológicos, os primeiros indícios do consumo de álcool pelo ser humano datam de mais de oito mil anos. No primeiro momento, as bebidas eram produzidas apenas pela fermentação e, por isso, tinham um baixo teor alcoólico.

Com o desenvolvimento do processo de destilação, começaram a surgir as primeiras bebidas mais fortes e mais perigosas. Com a Revolução Industrial, a bebida passou a ser produzida em série, o que aumentou consideravelmente o número de consumidores e, por conseqüência, os problemas sociais causados pelo abuso no consumo do álcool.

Quando tudo começou . . .

Acredita-se que a bebida alcoólica teve origem na Pré-História, mais precisamente durante o período Neolítico quando houve a aparição da agricultura e a invenção da cerâmica. A partir de um processo de fermentação natural ocorrido há aproximadamente 10.000 anos o ser humano passou a consumir e a atribuir diferentes significados ao uso do álcool. Os celtas, gregos, romanos, egípcios e babilônios registraram de alguma forma o consumo e a produção de bebidas alcoólicas.

 A embriaguez de Noé

Em uma das mais belas passagens do Antigo Testamento da Bíblia (Gênesis 9: 21) Noé, após o dilúvio, plantou vinha e fez o vinho. Fez uso da bebida a ponto de se embriagar. Reza a bíblia que Noé gritou, tirou a roupa e desmaiou. Momentos depois seu filho Cão o encontrou "tendo à mostra as suas vergonhas". Foi a primeiro relato que se tem conhecimento de um caso de embriaguez. Michelangelo, famoso pintor renascentista (1475-1564), se inspirou nesse episódio pintar um belíssimo afresco, com esse nome, no teto da Capela Sistina, no Vaticano. Nota-se, assim, que não apenas o uso de álcool, mas também a sua embriaguez são aspectos que acompanham a humanidade desde seus primórdios.

O ÁLCOOL ATRAVÉS DA HISTÓRIA


1. Grécia e Roma

O solo e o clima na Grécia e em Roma eram especialmente ricos para o cultivo da uva e produção do vinho. Os gregos e romanos também conheceram a fermentação do mel e da cevada, mas o vinho era a bebida mais difundida nos dois impérios tendo importância social, religiosa e medicamentosa.
    
No período da Grécia Antiga o dramaturgo grego Eurípedes (484 a.C.-406 a.C.) menciona nas Bacantes duas divindades de primeira grandeza para os humanos: Deméter, a deusa da agricultura que fornece os alimentos sólidos para nutrir os humanos, e Dionísio, o Deus do vinho e da festa (Baco para os Romanos). Apesar de o vinho participar ativamente das celebrações sociais e religiosas greco-romanas, o abuso de álcool e a embriagues alcoólica já eram severamente censurados pelos dois povos.

2. Egito Antigo    

Os egípcios deixaram documentadas nos papiros as etapas de fabricação, produção e comercialização da cerveja e do vinho. Eles também acreditavam que as bebidas fermentadas eliminavam os germes e parasitas e deveriam ser usadas como medicamentos, especialmente na luta contra os parasitas provenientes das águas do Nilo.

3. Idade Média    

A comercialização do vinho e da cerveja cresce durante este período, assim como sua regulamentação. A intoxicação alcoólica (bebedeira) deixa de ser apenas condenada pela igreja e passa a ser considerada um pecado por esta instituição.

4. Idade Moderna    

Durante e Renascença passa a haver a fiscalização dos cabarés e tabernas, sendo estipulados horários de funcionamento destes locais. Os cabarés e tabernas eram considerados locais onde as pessoas podiam se manifestar livremente e o uso de álcool participa dos debates políticos que mais tarde vão desencadear na Revolução Francesa.

5. Idade Moderna    

O fim do século 18 e o início da Revolução Industrial são acompanhados de mudanças demográficas e de comportamentos sociais na Europa. É durante este período que o uso excessivo de bebida passa a ser visto por alguns como uma doença ou desordem. Ainda no início e na metade do século 19 alguns estudiosos passam a tecer considerações sobre as diferenças entre as bebidas destiladas e as bebidas fermentadas, em especial o vinho. Neste sentido, Pasteur em 1865, não encontrando germes maléficos no vinho declara que esta é a mais higiênica das bebidas.    

Durante o século 20 países como a França passam a estabelecer a maioridade de 18 anos para o consumo de álcool e em janeiro de 1920 o estado Americano decreta a Lei Seca que teve duração de quase 12 anos. A Lei Seca proibiu a fabricação, venda, troca, transporte, importação, exportação, distribuição, posse e consumo de bebida alcoólica e foi considerada por muitos um desastre para a saúde pública e economia americana.    

Foi no ano de 1952 com a primeira edição do DSM-I (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) que o alcoolismo passou a ser tratado como doença.   

No ano de 1967, o conceito de doença do alcoolismo foi incorporado pela Organização Mundial de Saúde à Classificação Internacional das Doenças (CID-8), a partir da 8ª Conferência Mundial de Saúde. No CID-8, os problemas relacionados ao uso de álcool foram inseridos dentro de uma categoria mais ampla de transtornos de personalidade e de neuroses.
  
Esses problemas foram divididos em três categorias: dependência, episódios de beber excessivo (abuso) e beber excessivo habitual. A dependência de álcool foi caracteriza pelo uso compulsivo de bebidas alcoólicas e pela manifestação de sintomas de abstinência após a cessação do uso de álcool.

”O processo é feito com diagnóstico médico, elaborado por psiquiatra e ou clínico especialista."

BELA CONSTRUÇÃO NARRATIVO-TEMÁTICO


O GATO PRETO
Parte: I

Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã posso morrer e, por isso, gostaria, hoje de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas conseqüências, tais acontecimentos me aterrorizaram, torturaram e destruíram. No entanto, não tentarei esclarecê-los. Em mim, quase não produziram outra coisa senão horror – mas, em muitas pessoas, talvez lhes pareçam menos terríveis que grotescos. Talvez, mais tarde, haja alguma inteligência que reduza o meu fantasma a algo comum – uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que a minha, que perceba, nas circunstâncias  a que me refiro com terror, nada mais do que uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais.


OBS.: Essa narrativa foi organizada em 13 partes


Escrita por Edgar Allan Poe, O Gato Preto, serve como exemplo da evolução narrativo-temática sobre os efeitos do álcool, as consequências (implícitas no enredo) desse hábito na vida das pessoas, enfim, a associação desse vício com o mundo do crime. Esse texto compõe o acervo de Histórias Superfantásticas desse autor; histórias quase de terror.
Parte: II

Desde a infância, tornaram-me patentes a docilidade e o sentido humano de meu caráter. A ternura do meu coração era tão evidente, que me tornava alvo dos gracejos de meus companheiros. Gostava, especialmente, de animais, e meus pais me permitiam possuir grande variedade deles. Passava com eles quase todo o meu tempo, e jamais me sentia tão feliz como quando lhes dava de comer ou os acariciava. Com os anos, aumentou esta peculiaridade de meu caráter e, quando me tornei adulto, fiz dela uma das minhas principais fontes de prazer.

Aos que já sentiram afeto por um cão fiel e sagaz, não preciso dar-me ao trabalho de me explicar a natureza ou a intensidade da satisfação que se pode ter com isso. Há algo, no amor desinteressado, e capaz de sacrifícios, de um animal, que toca diretamente o coração daqueles que tiveram ocasiões freqüentes de comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade de um simples homem.

Casei cedo, e tive a sorte de encontrar em minha mulher disposição semelhante à minha. Notando o meu amor pelos animais domésticos, não perdia a oportunidade de arranjar as espécies mais  agradáveis de bichos. Tínhamos pássaros, peixes dourados, um cão, coelhos, um macaquinho e um gato.

Este último era um animal extraordinariamente grande e belo, todo negro e de espantosa sagacidade. Ao referir-se à  sua inteligência, minha mulher, que, no íntimo de seu coração, era um tanto supersticiosa, fazia freqüentes alusões à antiga crença popular de que todos os gatos pretos são feiticeiras disfarçadas. Não que ela se referisse seriamente a isso: menciono o fato apenas porque aconteceu lembrar-me disso neste momento.
Parte: III

Pluto – assim se chamava o gato – era o meu preferido, com o qual eu mais me distraía. Só eu o alimentava, e ele me seguia sempre pela casa. Tinha dificuldade, mesmo, em impedir que me acompanhasse pela rua.

Nossa amizade durou, desse modo, vários anos, durante os quais não só o meu caráter como o meu temperamento – enrubesço ao confessá-lo – sofreram, devido ao demônio da intemperança, uma modificação radical para pior. Tornava-me, dia a dia, mais taciturno, mais irritadiço, mais indiferente aos sentimentos dos outros. Sofria ao empregar a linguagem desabrida ao dirigir-me à minha mulher.

No fim, cheguei mesmo a tratá-la com violência.  Meus animais, certamente, sentiam a mudança operada em meu caráter. Não apenas não lhes dava atenção alguma, como, ainda, os maltratava. Quanto a Pluto, porém, ainda despertava em mim consideração suficiente que me impedia de maltratá-lo, ao passo  que não sentia escrúpulo algum em maltratar os coelhos, o macaco e mesmo o cão, quando, por acaso ou afeto, cruzaram em meu caminho. Meu mal, porém, ia tomando conta de mim – que outro mal pode se comparar ao álcool? – e, no fim até Pluto, que começava agora a envelhecer e, por conseguinte, se tornava um tanto rabugento, até mesmo Pluto começou a sentir os efeitos de meu mau humor.

Certa noite, ao voltar a casa,  muito embriagado, de uma de minhas andanças pela cidade, tive a impressão de que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, assustado ante a minha violência, me feriu a mão, levemente, com os dentes. Uma fúria demoníaca apoderou-se, instantaneamente, de mim. Já não sabia mais o que estava fazendo. Dir-se-ia que, súbito, minha alma abandonara o corpo, e uma perversidade mais do que diabólica,  causada pela genebra, fez vibrar todas as fibras de meu ser.

Tirei do bolso um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e, friamente, arranquei de sua órbita um dos olhos! Enrubesço, estremeço, abraso-me de vergonha, ao referir-me, aqui, a essa abominável atrocidade. 
Parte: IV

Quando, com a chegada da manhã, voltei à razão –  dissipados já os vapores de minha orgia noturna -, experimentei, pelo crime que praticara, um sentimento que era um misto de horror e remorso; mas não passou de um sentimento superficial e equívoco, pois minha alma permaneceu impassível. Mergulhei novamente em excessos, afogando logo no vinho a lembrança do que acontecera.

Entrementes, o gato se restabeleceu, lentamente. A órbita do olho perdido apresentava, é certo, um aspecto horrendo, mas não parecia mais sofrer qualquer dor. Passeava pela casa como de costume, mas, como bem se poderia esperar, fugia, tomado de extremo terror, à minha aproximação. Restava-me ainda o bastante de meu antigo coração para que, a princípio, sofresse com aquela evidente aversão por parte de animal que, antes, me amara tanto. Mas esse sentimento logo se transformou em irritação. E, então, como para perder final e irremissivelmente, surgiu o espírito da perversidade. Desse espírito, a filosofia não toma conhecimento. Não obstante, tão certo como existe minha alma, creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração – uma das faculdades, ou sentimentos primários que dirigem o caráter do homem. Quem não se viu, centenas de vezes, a cometer ações vis  ou estúpidas, pela única razão de que sabia que não deveria cometê-las? Acaso não sentimos uma inclinação constante. Mesmo quando  estamos no melhor de nosso juízo, para violar aquilo que é lei, simplesmente porque a compreendemos como tal? Esse espírito de perversidade, digo eu, foi a causa de minha queda final. 

Parte: V

O vivo e insondável desejo da alma de atormentar-se a si mesma. De violentar sua própria natureza, de fazer o mal pelo próprio mal,  foi o que me levou a continuar, e afinal, a levar a cabo o suplício que afligira ao inofensivo animal.  Uma manhã, a sangue frio,  meti-lhe um nó corredio em torno do pescoço e enforquei-o no galho de uma árvore. Fi-lo com os olhos cheios de lágrimas, com o coração transbordante do mais amargo remorso. Enforquei-o porque sabia que ele me amara, e porque reconhecia que não me dera motivo algum para que me voltasse contra ele. Enforquei-o porque sabia que estava cometendo um pecado – um pecado mortal que comprometia a minha alma imortal, afastando-a, se é que isso é possível, da misericórdia de um Deus infinitamente misericordioso e infinitamente terrível .

Na noite do dia em que foi cometida essa ação tão cruel, fui despertado pelo grito de “fogo!”. As cortinas de minha cama estavam em chamas. Toda a casa ardia. Foi com grande dificuldade que minha mulher, uma criada e eu conseguimos escapar do incêndio. A destruição foi completa. Todos os meus bens terrenos foram tragados pelo fogo, e, então, me entreguei ao desespero.

Não pretendo estabelecer relação alguma entre causa e efeito – entre o desastre e a atrocidade por mim cometida. Mas estou descrevendo uma seqüência de fatos, e não desejo omitir nenhum dos elos dessa cadeia de acontecimento. No dia seguinte ao do incêndio, visitei as ruínas. 
Parte: VI

As paredes, com exceção de uma apenas, tinham desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior, situado no meio da casa, junto ao qual se achava a cabeceira de minha cama. O reboco havia, aí, em grande parte, resistido à ação do fogo – coisa que atribuí ao fato de ter sido ele construído recentemente. Densa  multidão se reunira em torno dessa parede, e muitas pessoas examinavam, com partícula atenção e minuciosidade uma parte dela. As palavras  “estranho!”, “singular!”, bem como outras expressões semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei-me e vi, como se gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem era uma exatidão verdadeiramente maravilhosa. Havia uma corda em torno do pescoço do animal.

Logo que vi tal aparição – pois poderia considerar aquilo como sendo outra coisa -, o assombro e o terror que se me apoderaram foram extremos. Mas, finalmente, a reflexão veio em meu auxílio. O gato, lembrei-me, fora enforcado num jardim existente junto à casa. Aos gritos de alarme, o jardim fora imediatamente invadido pela multidão. Alguém deve ter retirado o animal da árvore, lançando-o , através de uma janela aberta, para dentro do meu quarto. Isso foi feito, provavelmente, com a intenção de despertar-me,. A queda das outras paredes havia comprimido a vítima de minha crueldade no gesso recentemente colocado sobre a parede que permanecera de pé. A cal do muro, com as chamas e o amoníaco desprendido da carcaça, produzira a imagem tal qual eu agora a via.

 Embora isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo. De maneira completa, com minha consciência, pois surpreendente fato que acabo de descrever não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão. Durante meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse espaço de tempo, nasceu em meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o fosse. Cheguei, mesmo, a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos lugares que então frequentava, outro bichano da mesma espécie e de aparência semelhante que pudesse substituí-lo.
Parte: VII

Uma noite, em que me achava sentado, meio aturdido, num antro mais do que infame, tive a atenção despertada, subitamente, por um objeto negro que jazia no alto de um dos enormes barris, de genebra ou rum, que constituíam quase que o único mobiliário do recinto. Fazia já alguns minutos que olhava fixamente ao alto do barril, e o que então me surpreendeu foi não ter visto antes o que havia sobre o mesmo. Aproximei-me e toquei-o com a mão. Era um gato preto, enorme tão grande quanto Pluto  e que, sob todos os aspectos, salvo um, assemelhava a ele. Pluto não tinha um único pêlo branco em todo o corpo – o bichano que ali estava possuía uma mancha larga e branca, embora de forma indefinida, a cobrir-lhe quase toda a região do peito.

Ao acariciar-lhe o dorso, ergueu-se imediatamente, ronronando com força e esfregando-se em minha mão, como se a minha atenção lhe causasse prazer. Era, pois, o animal que eu procurava. Apressei-me em propor ao dono a sua aquisição, mas este não manifestou interesse algum pelo felino. Não o conhecia,  jamais o vira antes.

 Continuei a acariciá-lo e, quando me dispunha a voltar para casa,  o animal demonstrou disposição de acompanhar-me. Permiti que o fizesse – detendo-me, de vez em quando, no caminho, para acariciá-lo. Ao chegar, sentiu-se, imediatamente à vontade, como se pertencesse à casa, tornando-se, logo, um dos bichanos preferido de minha mulher.

De minha parte, passei a sentir logo aversão por ele. Aconteceu, pois, justamente o contrário do que eu esperava. Mas a verdade é que – não sei como nem porque  - seu evidente amor por mim me desgostava e aborrecia.  Lentamente, tais sentimentos de desgosto e fastio se converteram no mais amargo ódio. Evitava o animal. Uma sensação de vergonha,  bem como a lembrança da crueldade que praticara impediam-me de maltratá-lo fisicamente. Durante  algumas semanas, não lhe bati nem pratiquei contra ele qualquer violência; mas, aos poucos – muito gradativamente -, passei a sentir por ele inenarrável horror, fugindo, em silêncio, de sua odiosa presença, como se fugisse de uma peste.

Sem dúvida, o que aumentou o meu horror pelo animal foi a descoberta, na manhã do dia seguinte ao que o levei para casa, que, como Pluto, também havia sido privado de um dos olhos. Tal circunstância, porém, apenas contribuiu  para que minha mulher sentisse por ele maior carinho, pois, como já disse, era dotada, em alto grau, dessa ternura de sentimentos que constituíra, em outros tempos, um de meus traços principais, bem como fonte de muitos de meus prazeres mais simples e puros. 
Parte: VIII

No entanto, a preferência que o animal demonstrava pela minha pessoa parecia aumentar em razão direta da aversão que sentia por ele. Seguia-me os passos com um pertinácia, que dificilmente poderia fazer com que o leitor compreendesse.

Sempre me sentava, enrodilhava-se embaixo de minha cadeira, ou me saltava ao colo, cobrindo-me com suas odiosas carícias. Se me levantava para nadar, metia-se-me entre as pernas e quase me derrubava, ou então, cravando suas longas e afiadas garras em minha roupa, subia por ela até o meu peito. Nessas ocasiões, embora tivesse ímpetos de matá-lo de um golpe, abstinha-me de fazê-lo devido, em parte, à lembrança de meu crime anterior, mas, sobretudo - apresso-me a confessá-lo - pelo pavor extremo que o animal me despertava.

Esse pavor não era exatamente um pavor de mal físico e, contudo, não saberia defini-lo de outra maneira. Quase me envergonha confessar – sim, mesmo nesta cela de criminoso -, quase me envergonha confessar que o terror e o pânico que o animal me inspirava eram aumentados por uma das mais puras fantasias que se possa imaginar.

Minha mulher, mais de uma vez, me chamara a atenção para o aspecto da mancha branca a que já me referi, e que constituía a única diferença visível entre aquele estranho animal e o outro, que eu enforcara. O leitor, decerto, se lembrará de que aquele sinal, embora grande, tinha a princípio, uma forma bastante indefinida. Mas, lentamente, de maneira quase imperceptível – que a minha imaginação, durante muito tempo, lutou por rejeitar como fantasiosa -, adquirira, por fim, uma nitidez rigorosa de contornos. 
Parte: XIX

Era, agora, a imagem de um objeto cuja menção me faz tremer... E, sobretudo por isso, eu encarava como a um monstro de horror e repugnância, do qual eu,  se tivesse coragem, me teria livrado.

Era agora, confesso,  a imagem de uma coisa odiosa, abominável: a imagem da foca! Oh, lúgubre e terrível máquina de horror e de crime, de agonia e de morte!

Na verdade, naquele momento eu era um miserável  - um ser que ia além da própria humanidade. Era uma besta-fera, cujo irmão fora por mim desdenhosamente destruído...  uma besta-fera que se engendrara em mim, homem feito à imagem do Deus Altíssimo. Oh, grande e insuportável infortúnio! Ai de mim! Nem de dia, nem de noite, conheceria jamais a bênção do descanso! Durante o dia, o animal não me deixava sós um único momento; e, à noite, despertava de hora em hora, tomado de indescritível terror de sentir o hálito quente da coisa sobre o meu rosto, e o seu enorme peso – encarnação de um pesadelo que não podia afastar de mim – pousado eternamente sobre o meu coração!

Sob a pressão de tais tormentos, sucumbiu o pouco que restava em mim de bom. Pensamentos maus converteram-se  em meus únicos companheiros – os mais sombrios e os mais perversos dos pensamentos. Minha rabugice habitual se transformou em ódio por todas as coisas e por toda a humanidade – e, enquanto eu, agora, me entregava cegamente a súbitos, freqüentes e irreprimíveis acesos de cólera, minha mulher – pobre dela! – não se queixava  nunca, convertendo-se na mais paciente  e sofredora das vítimas. 
Parte: X

Um dia, acompanhou-me, para ajudar-me numa das tarefas domésticas, até o porão do velho edifício em que nossa pobreza nos obrigava a morar. O gato seguiu-nos e,  quase fazendo-me rolar escada abaixo, me exasperou a ponto de perder o juízo. Apanhando uma machadinha e esquecendo o terror pueril que até então contivera minha mão, dirigi ao animal um golpe que teria sido mortal, se atingisse o alvo.     

Mas minha mulher segurou-me o braço, detendo o golpe. Tomado, então, da fúria demoníaca, livrei  o braço do obstáculo que o detinha e cravei-lhe a machadinha no cérebro. Minha mulher caiu morta instantaneamente, sem lançar um gemido.    
     
Realizado o terrível assassínio, procurei,  movido por súbita resolução, esconder o corpo. Sabia que não poderia retirá-lo da casa, nem de dia nem de noite sem correr o risco de ser visto pelos vizinhos. Ocorreram-me vários planos. Pensei, por instante, em cortar o corpo em pequenos pedaços e destruí-los por meio do fogo. Resolvi, depois,  cavar uma fossa no chão da adega. Em seguida, pensei em atirá-lo ao poço do quintal. Mudei de idéia e decidi metê-lo num caixote, como se fosse uma mercadoria, na forma habitual, fazendo com que um carregador o retirasse da casa. Finalmente, tive a idéia que pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo na adega, como faziam os monges da Idade Média com suas vítimas.    
      
Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido construídas com muito cuidado e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora tapada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia facilmente retirar os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita.            
Parte: XI

E não me enganei em meus cálculos. Por meio de uma alavanca, desloquei facilmente os tijolos e, tendo depositado o corpo, com cuidado, de encontro à parede interior, segurei-o nessa posição, até poder recolocar, sem grande esforço, os tijolos em seu lugar, tal como estavam anteriormente.
  
Arranjei cimento, cal e areia e, com toda a precaução possível, preparei uma argamassa que não se podia distinguir da anterior, cobrindo com ela, inescrupulosamente, a nova parede.  Ao terminar, senti-me satisfeito, pois tudo ocorrera bem. A parede não apresentava o menor sinal de ter sido rebocada. Limpei o chão com o maior cuidado e, lançando o olhar em torno, disse, de mim para comigo: “Pelo menos aqui, o meu trabalho não foi em vão”.     
        
O passo seguinte foi procurar o animal que havia sido a causa de tão grande desgraça, pois resolvera, finalmente, matá-lo. Se, naquele momento, tivesse podido encontrá-lo, não haveria dúvida quanto à sua sorte: mas parece que o esperto animal se alarmara ante a violência de minha cólera, e procurava não aparecer diante de mim enquanto me encontrasse naquele estado de espírito.        
     
Impossível descrever ou imaginar  o profundo e abençoado alívio que causava a ausência de tão detestável felino. Não apareceu também durante a noite – e, assim, pela primeira vez, desde sua entrada em casa, consegui dormir tranqüilo e profundamente. Sim, dormi, mesmo com o peso daquele assassínio sobre a minha alma.            
Parte: XII

Transcorreram o segundo e o terceiro dia  e o meu algoz não apareceu. Pude respirar, novamente, como homem livre. O monstro, aterrorizado, fugira para sempre de casa. Não tornaria a vê-lo! Minha felicidade era infinita! A culpa de minha tenebrosa ação pouco me inquietava. Foram feitas algumas investigações, mas respondi prontamente a todas as perguntas. Procedeu-se, também, a uma vistoria  em minha casa, mas, naturalmente, nada podia ser descoberto. Eu considerava já como coisa certa a minha felicidade futura.  
          
No quarto dia após o assassinato, uma caravana policial chegou, inesperadamente, à minha casa, e realizou, de novo, rigorosa investigação. Seguro, no entanto, de que ninguém descobrira jamais o lugar em que eu ocultara o cadáver, não experimentei a menor perturbação. Os policiais pediram-me que os acompanhasse em sua busca.   
          
Não deixaram de esquadrinhar um canto sequer da casa. Por fim, pela terceira  ou quarta vez, desceram novamente ao porão. Não me alterei o mínimo que fosse. Meu coração batia calmamente, como o de um inocente. Andei por todo oporão, de ponta a ponta. Com os braços cruzados no peito, caminhava, calmamente, de um lado para outro. A polícia estava inteiramente satisfeita e preparava-se para sair. O júbilo que me inundava o coração era forte demais pra que pudesse contê-lo. Ardia de desejo de dizer uma palavra, uma única palavra, à guisa de triunfo, e também para tornar duplamente evidente a minha inocência.    
        
- Senhores – disse, por fim, quando os policiais já subiam a escada -, é para mim motivo de grande satisfação haver desfeito qualquer suspeita.           



Parte: XIII


Desejo a todos os senhores uma ótima saúde e um pouco mais de cortesia. Diga-se de passagem, senhores, que esta é uma casa muito bem construída. (Quase não sabia o que dizia, em meu insopitável desejo de falar com naturalidade). Poderia, mesmo, dizer que é uma casa excelentemente construída. Estas paredes – os senhores já se vão? – estas paredes são de grande solidez.  
         
Nessa altura, movido por pura e frenética fanfarronada, bati com força, com a bengala que tinha na mão, justamente na parte da parede atrás da qual se achava o corpo da esposa do meu coração.  
            
Que Deus me guarde e livre das garras de Satanás! Mal o eco das batidas mergulhou no silêncio, uma voz me respondeu do fundo da tumba, primeiro com um choro entrecortado e abafado, como os soluços de uma criança; depois, de repente, com um grito prolongado, estridente, contínuo, completamente anormal e inumano.            

Um uivo, um grito agudo, metade de horror, metade de triunfo, como somente poderia ter surgido do inferno, da garganta dos condenados, em sua agonia. E dos demônios exultantes com a sua condenação.       
         
Quanto aos meus pensamentos, é loucura falar. Sentindo-me  desfalecer, cambaleei até à parede oposta. Durante um instante, o grupo de policiais deteve-se na escada, imobilizado pelo terror. Decorrido um momento, doze braços vigorosos  atacaram a parede, que caiu por terra. O cadáver, já em adiantado estado de decomposição, e coberto de sangue coagulado, apareceu, ereto,  aos olhos dos presentes. Sobre sua cabeça, com a boca vermelha dilatada e o único olho chamejante, achava-se pousado o animal odioso, cuja astúcia me levou ao assassínio e cuja voz reveladora me entregava ao carrasco. Eu havia emparedado o monstro dentro da tumba!

Por: Edgar Allan Poe

Ler a biografia desse autor (Interessante!):

Literatura: vitalidade para o pensamento humano



Segundo Mario Vargas Llosa, em artigo publicado pela revista Seleções Reader’s Digest de maio de 2003, pág.98-102, a literatura é atividade das mais nobres e estimulantes à criatividade dos seres humanos. Por isso, deveria fazer parte de todas as formas de educação, desde as primeiras idades, no lar, até os programas educativos nas escolas. Gostar de ler não é questão de tempo, e sim, de hábito. E quanto mais cedo esse hábito tem início em nossas vidas, mais ele se torna uma necessidade vital para nossos espíritos, assim como o alimento o é para o corpo.

É incontestável que a especialização traz benefícios às pessoas, por possibilitar o progresso da sociedade por meio de pesquisas e experimentos úteis para vida coletiva. Mas também pode dificultar a permuta de pensamentos culturais diversos, dificultando a comunicação e a solidariedade, segregando as pessoas nos seguimentos culturais particulares. Somente a literatura pode unir a sociedade e não a deixar se desintegrar em centenas de especialidades. A tecnologia e a ciência, portanto, não conseguem exercer essa função unificadora da cultura de que a literatura é a base.

Os bons romances permitem-nos enxergar com clareza, nas manifestações da criatividade humana, a grande verdade da igualdade entre todos nós, independentemente da raça, da cultura, da riqueza material, do posicionamento político, da religiosidade ou não de cada criatura. A boa leitura nos permite aprender o que somos e como somos perante o mundo, com nossos atos, idealismos, ousadias, medos ou fantasias. A literatura estabelece um elo fraterno entre os seres humanos que transcende todas as barreiras do tempo e espaço.

A pessoa que lê muito, refletidamente, tem como benefício o domínio linguístico, passando a exprimir-se com mais riqueza de detalhes, mais criativamente, com clareza e correção. Por outro lado, quem nunca ou pouco lê pode até falar muito, mas sempre dirá pouco, porque dispõe de um repertório mínimo de palavras para se expressar.

Sem a literatura, a mensagem crítica sofreria irreparável perda, pois a boa literatura proporciona radical questionamento do mundo em que vivemos. O bom texto literário sempre nos faz refletir, emociona, informa e, de algum modo, transforma.

Uma sociedade livre precisa contar com cidadãos livres, intelectualmente, críticos, responsáveis e criativos. É essa liberdade que nos permitirá examinar o mundo em que vivemos para buscar torná-lo em o mundo onde gostaríamos de viver. Não fosse a insatisfação, a rebeldia dos idealistas de todos os tempos, estaríamos ainda num mundo primitivo, sem progressos científicos, sem direitos humanos e, consequentemente, sem liberdade.

A figura de D. Quixote, na visão de Llosa, inspira os utopistas de todos os tempos a lutarem por uma humanidade real, na qual todos os homens se igualem como seres que merecem respeito, tratamento digno, oportunidades iguais e, por fim, uma vida melhor. Este é o papel da literatura: libertar consciências para transformar utopias em realidades.

Outro objetivo da literatura é o de agir como o traço de união entre as mais diversas culturas, sem o que a criatura, por mais conhecimento técnico que possua, será sempre alienada intelectualmente.

A boa literatura não somente é instrumento importantíssimo de ampliação cultural do leitor, como, também, é base para a produção de textos criativos. Podemos, pois, encerrar com esta expressão de Llosa (op.cit., pág. 98): “A Literatura é mais do que passatempo. É um meio indispensável para formar cidadãos”.

Autor: Jorge Leite de Oliveira

Referência bibliográfica:

OLIVEIRA, Jorge Leite de. Texto Acadêmico: Técnicas de redação e de pesquisa científica, Editora Vozes, 2011.

Esse e outros textos que postarei do mesmo autor são excelentes exemplos de dissertação argumentativa. Ele desenvolve um raciocínio bem sequenciando, ideias bem articuladas; apresenta um bem elaborado projeto de texto o que indica o completo domínio desse gênero. Sigam a sugestão do autor: Leiam textos literários! Próximo texto é um bom exemplo do discurso literário.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

ÁLCOOL E PUBLICIDADE


País está “de joelhos” para indústria da cerveja, diz Pimenta


Pimenta: Congresso tem que mostrar coragem e enfrentar “lobby” da indústria

O deputado federal Paulo Pimenta (PT) resolveu tratar fortemente da questão da venda (e sobretudo da publicidade) de cerveja e a sua relação, que é real, com as mortes no trânsito. Nos últimos dias, tem sido seu tema prioritário. E está recebendo apoio por isso, pelo alerta que faz e providências que cobra.

“Pimenta questiona papel social de cantores, esportistas e artistas em propagandas de cerveja

O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) ocupou a tribuna da Câmara, na manhã desta sexta-feira (18/03/2011), para chamar atenção da sociedade brasileira para a relação trágica entre a publicidade de cerveja, aumento de consumo da bebida e a mortes no trânsito. A crítica do parlamentar, dessa vez, foi dirigida a esportistas, cantores e artistas que vinculam suas imagens às grandes empresas de álcool no país.

Além de cobrar medidas legislativas, como a sugestão da Organização Mundial da Saúde que indica a restrição da publicidade de cerveja para redução da violência no trânsito, o deputado defendeu uma postura mais responsável das pessoas públicas que, “ao que tudo indica, estão preocupadas apenas com o retorno financeiro pessoal, ignorando os danos do estímulo ao consumo de cerveja”. Conforme Pimenta, a utilização de símbolos nacionais e regionais cria uma cultura que normatiza o consumo de bebidas.

”No Brasil, o contrato do Mano Menezes com a Kaiser, dizem, supera 2 milhões por ano. O futebol é um símbolo, um patrimônio do povo brasileiro, um vínculo que temos especialmente com as crianças e a juventude. E o que temos? O técnico da seleção, principal expressão pública do futebol no Brasil, com um contrato milionário, vinculando seu nome a uma marca de cerveja e aparecendo todos os dias na televisão”, criticou Pimenta.

O parlamentar citou o exemplo do jogador de futebol David Beckham, da seleção da Inglaterra, que durante 10 anos foi garoto propaganda da Pepsi. “O Beckham, segundo as agências internacionais, rompeu seu contrato com a marca de refrigerante pela necessidade de vincular sua imagem a produtos mais saudáveis para crianças. Por pressão da sociedade, por apelo de seus fãs, especialmente do público jovem, o atleta milionário abriu mão de ser vinculado à imagem da indústria de refrigerante” comparou Pimenta

“País está de joelhos para indústria da cerveja”

Segundo o deputado, o Congresso precisa ter coragem para enfrentar esse verdadeiro poderio do “lobby”, porque existem, segundo ele, dois setores que hoje impedem que haja uma legislação sobre esse tema no Brasil: as grandes agências de publicidade e a indústria da cerveja. “O país inteiro está de joelhos diante de dois segmentos de grande capital econômico, é verdade, mas que não podem ter força suficiente para fazer com que o Parlamento se dobre a essa situação”, conclamou.

Críticas ao CONAR

O deputado acusou o Conselho de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) de ser tolerante com o abuso de sexualidade explorado pelas propagandas de cerveja, à utilização de esportistas, à vinculação a aparências saudáveis e exemplos de sucesso pessoal e profissional. Pimenta anunciou que na próxima semana irá entrar com uma representação no Conselho de Ética do CONAR solicitando maior rigor na análise de cada uma das peças publicitárias que estão no ar. “Todo o foco da propaganda é voltado para o público jovem que tem no seu imaginário exatamente aquelas questões que o CONAR aponta como a serem evitadas. Em nosso ponto de vista, a maioria dessas propagandas colide frontalmente com as tímidas e singelas normativas do próprio CONAR”, entende o deputado.

Publicidade não aumenta consumo”, dizem indústrias

As empresas de cerveja alegam que a publicidade não serve para aumentar o consumo, mas para fortalecimento da marca e manutenção ou crescimento de fatias no mercado. Para o deputado Pimenta aceitar esse argumento é um equívoco. “Basta vermos que, com a restrição da publicidade do cigarro e com a condescendência à propaganda da cerveja que ficou de fora da regulamentação, as indústrias dessa bebida aumentaram investimentos em publicidade e em mais de 100% sua produção no Brasil, tornando nosso país no terceiro maior produtor mundial”, rebate Pimenta.”

FONTE: Claudemir Pereira

terça-feira, 19 de abril de 2011

Leitura Formativa: Texto Argumentativo I



O Coração Econômico e Científico do Brasil

Como World Trade Center, era um dos símbolos do poder econômico dos Estados Unidos; a Amazônia, cuja boa parte situa-se, no Brasil, poderá vir a ser um dos últimos laboratórios vivos do Planeta. E sendo, depois de todo o ouro roubado pelos colonizadores, um dos maiores bens que ao Brasil ainda resta, há urgência em que os brasileiros e autoridades políticas a proteja da exploração interna, bem como da cobiça externa. Caso sejamos relapsos, sendo a Amazônia fonte de pesquisa e controle do clima, as consequências da destruição da “Floresta-Mãe” poderão ser desastrosas para gerações futuras.

Em primeiro plano, destacamos a Amazônia como um laboratório vivo para estudos científicos nas áreas de Biologia, Farmácia, Química, entre outras. Dona de uma quantidade inumerável de espécies tanto da fauna quanto da flora, a “floresta mais cobiçada do mundo” sofre ameaças constantes por conta da ação predatória de povos que por ela passam, sejam cidadãos brasileiros ou estrangeiros. E desse descuido com o uso sustentável dela, pois deveriam “explorá-la, sem esgotar-lhe os recursos naturais”, podem surgir prejuízos incalculáveis para o nosso país. Isso pode ser constatado no conhecido caso do cupuaçu, maior exemplo de biopirataria, cuja patente foi, finalmente, garantida pela lei 11.675 - sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada na edição de 20/05/2008 do Diário Oficial. Assim, em razão de situações como essa, precisamos cuidar do nosso laboratório vivo, garantindo a gerações futuras o direito à pesquisa científica.

Já, no âmbito do clima, não só nosso país, mas todo o Planeta sofre com mudanças em decorrência da ação predatória de indivíduos desmantelados com a “nossa sala de visita” – a Amazônia. Em 2010, notamos na pele, a elevação da temperatura em todas as regiões brasileiras, principalmente, as longas secas e quedas na umidade do ar no Centro-Oeste. Diante desse fato, reconhecemos a relevante participação da Amazônica, não só no controle da temperatura como também, no regime de chuvas por ser aquela “fonte de vapor d’água e calor na atmosfera global”, conforme classifica a ação da floresta, Ana Lúcia Azevedo. Todavia, o alerta que mais nos assusta, no ponto de destruição em que nos encontramos, vem do cientista britânico James Lovelock, “autor da famosa Teoria de Gaia (segundo a qual a Terra assemelha-se a um organismo vivo, com mecanismos para auto-regular suas funções)”. Segundo esse estudioso, mesmo que mudemos nossa relação com o Planeta, até o final desse século (XXI); vamos colher duras consequências, como por exemplo, o desaparecimento de todas as cidades que se encontram no mesmo nível dos oceanos. Mas, Antes de isso ocorrer, já estamos enfrentando outras catástrofes: vulcões, terremotos, chuvas em excesso; temperaturas cada dia mais elevadas; tornados, entre outros. Enfim, notamos que a Terra cambaleia na mão do homem.

Diante disso, certificamos que a agressão contra a Amazônia acarretará prejuízos inúmeros para as gerações futuras. Em lugar de a ciência avançar de forma sustentável, poderá perder um dos objetos mais valiosos para pesquisa - a Amazônia. E a situação climática? Segundo Jacques Chirac, ex-presidente da França, "O dia em que o clima escapará do controle está próximo. Estamos chegando ao irreversível. Nessa urgência, não há tempo para medidas mornas. É hora de uma revolução em nossas consciências, em nossa economia e em nossa ação política". Assim, uma Amazônia Sustentável, em testamento assinado por nós, poderá ser uma das garantias do nosso interesse na sobrevivência das próximas gerações.

Autora:  Delinha (postado duas vezes)

Esses textos (I, II e III) foram trabalhados na atividade lúdica da última aula (Cursinho Morenão). Servem agora à leitura cautelosa, detalhada.

Leitura Formativa: Texto Argumentativo II



QUEM SABE UM DIA UM PAÍS MELHOR.

Não precisamos ir muito longe para entendermos como são tratados os direitos da criança e do adolescente. Se andarmos pelas ruas de nossa própria cidade, notaremos uma triste realidade: as leis não são cumpridas. Segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, o direito à saúde, à alimentação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-la a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão. Mas a questão é: essa lei tem sido RESPEITADA? E a culpa sobre essa situação recai sobre quem?

A verdade é que, praticamente, quase todos os tópicos mencionados acima não têm sido observados pelas autoridades. Vejamos, por exemplo, que milhares de crianças, no Brasil, não frequentam as escolas, por falta de vagas nos colégios públicos ou ainda por compromisso de trabalho firmado com a família. E as outras que possuem esse privilégio, o de estudar, não desfrutam de um ensino de qualidade. Outro descaso que confirma esse fato refere-se ao direito à saúde. Nem mesmo os adultos, os mais jovens e os mais idosos conseguem usufruir dos cuidados necessários à saúde. Isso se deve a hospitais superlotados, constantes greves dos funcionários públicos, falta de medicamentos, e diversas outras situações que se tornam manchetes de jornais por todo o país.

Como falar de dignidade em um contexto assim? Segundo o IBGE, 2010, no Nordeste brasileiro, por exemplo, a cada mil nascidos, 32 morrem sem ver a luz do sol – o maior índice de morte infantil do Brasil. Como falar de dignidade, se milhares de adolescentes hoje vendem seu corpo como se fosse uma mercadoria? Como falar em cultura, se segundo o Ministério da Educação, 16 milhões de pessoas são analfabetas? Como falar em liberdade, se há milhares de adolescentes viciados em craque, cocaína e maconha nas periferias do Rio de Janeiro?

Como acreditar que as crianças estejam a salvo de toda forma de negligência se recebemos, frequentemente, menores batendo em nossas portas pedindo: “Tia, você tem algo para eu comer?” Não fazemos nada a respeito e, na maioria das vezes, ainda respondemos: “desculpe, não tenho!” – quando, na verdade, estamos com o armário abarrotado. Diante desse fato, não podemos dizer que crianças e adolescentes estão protegidos de qualquer crueldade e opressão.

Enfim, Talvez seja do Estado, a maior culpa, pois, como costumamos dizer, além de não cumprir sua função, desvia o dinheiro público. Mas a lei não aponta o Estado como o único responsável, indica também a família e a sociedade. E quem faz parte da sociedade? Nós! E o que temos feito para que a lei seja cumprida? Cabe a cada um, portanto, não ser negligente. Cabe-nos o cumprimento do nosso dever como cidadãos, como seres humanos e como cristãos. E sendo assim, mesmo que façamos bem a uma única criança dentre milhões, teremos feito a nossa parte, e contribuído para que o Brasil possa um dia ser um país melhor.

Autora:  Vanessa Giugni (postado duas vezes).

Leitura Formativa: Texto Argumentativo III



Pagar ou não pagar, esta é a questão

A opção dos que utilizam software livre e dos que utilizam software proprietário não é apenas uma opção tecnológica ou ideológica, mas tem relação com o desenvolvimento do país. A possibilidade de utilização de software livre, além de impulsionar a economia, representa o exercício da cidadania e facilita programas de inclusão digital.

A vigilância e a punição sobre aqueles que copiam, reproduzem ou modificam produtos de mídia, como CD’s, livros digitais e softwares, cuja matéria-prima é a informação ou o conhecimento, são severas. Agora proliferam defensores de sistemas colaborativos de produção de conhecimento. A vantagem já é sentida no bolso dos empresários, pois, ao contrário do software proprietário, desenvolvido por empresas privadas como a Microsoft, o software democrático, colaborativo ou livre, não  custa nada ( 76% das empresas, segundo o Ministério da Cultura de 2007, utilizam software aberto). Um notebook, por exemplo, que, ao invés do Windows, traz como sistema operacional o Linux, software livre,  custa 40% mais barato. Tudo isso representa mais combustível para aquecer a economia do país.

O software livre, cujo código fonte é aberto, permite que o usuário faça adequações aos mais diversos usos. A utilização de software colaborativa é mais rápida do que do software proprietário, ou privado, pois não há nova versão. Mas a questão não é só tecnológica. A concepção de que um software pode ser atualizado, modificado e melhorado pelo próprio usuário coaduna com a perspectiva de que o produto do processo educacional é um cidadão que seja autor e produtor do conhecimento e não meramente  consumidor de produtos ou informações,  alavanca do capitalismo. A Universidade Federal da Bahia (UFBA), por exemplo, possui o projeto “Tabuleiro Digital”, fundado pelo professor Nelson Pretto, em que a comunidade tem acesso à internet  graças ao software livre, de custo zero.

Um computador sem internet perde todo sentido no mundo globalizado. Um indivíduo sem acesso a ela está excluído da sociedade informacional, não podendo agir como cidadão no mundo. Para que serve um computador desconectado? Para nada. A não ser reforçar a ideia da exclusão digital, e por que não dizer social. Nesse sentido, softwares livres proporcionariam computadores conectados, pois os usuários teriam mais acesso aos aplicativos, softwares a custo zero. Uma licença do Windows 7 custa, aproximadamente, R$ 300, 00, fora outros aplicativos. Não há dúvida de que a ideia de softwares abertos à intervenção dos usuários representa uma poderosa ferramenta a favor da inclusão digital.

O desenvolvimento e a utilização cada vez maior do software livre, principalmente, nas sociedades emergentes, representariam um sentimento libertador na democratização da informação. A possibilidade crescente de acesso à softwares desse tipo, traria mais justiça social, mais integração do indivíduo com o mundo e menos desigualdade em relação ao acesso às tecnologias de informação.