quarta-feira, 20 de junho de 2012

Estrutura Interna de “Os Lusíadas”


Proposição
Canto I (estrofes 1-3), em que Camões proclama ir cantar as grandes vitórias e os homens ilustres – “as armas e os barões assinalados”; as conquistas e navegações no Oriente (reinados de D. Manuel e de D. João III); as vitórias em África e na Ásia desde D. João a D. Manuel, que dilataram “a fé e o império”; e, por último, todos aqueles que pelas suas obras valorosas “se vão da lei da morte libertando”, todos aqueles que mereceram e merecem a “imortalidade” na memória dos homens.

A proposição aponta também para os “ingredientes” que constituíram os quatro planos do poema que ja referimos em cima e podemos como podemos ler em varias partes do poema:
“…da Ocidental praia lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram além da Tapobrana…”
“…o peito ilustre lusitano…”.”…as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o império e as terras viciosas / De África e de Ásia…”
“… esforçados / Mais do que prometia a força humana…”.”A quem Neptuno e Marte obedeceram…”
“…Cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e arte…”.”…Que eu canto o peito ilustre lusitano…”

Invocação
A invocação (estrofes 4-5) às ninfas do Tejo. É o pedido de inspiração às musas. Na religião grega antiga, as musas são nove deusas, filhas de Zeus e Memória. Sua função está ligada ao canto, à poesia e às artes em geral. São elas que inspiram os poetas e artistas. A musa da poesia épica, a mais importante das nove irmãs, chama-se Calíope. Invocando a presença da deusa, os poetas esperam que seus cantos sejam inspirados e se imortalizem.
Camões, em mais de uma oportunidade, dirige-se a Calíope; mas a invocação inicial, que ocupa a quarta e quinta estrofes do poema, Camões dirige às Tágides. Trata-se de uma invenção do poeta. Tágides seriam ninfas do rio Tejo; com essa invenção, ele indica sua inspiração nacionalista:
E vós, Tágides minhas, (…)
Daí-me agora um som alto e sublimado,
um estilo grandíloquo e corrente.

Dedicatória
Canto I, estrofes 6-18, é o oferecimento do poema a D. Sebastião, que encara toda a esperança do poeta, que quer ver nele um monarca poderoso, capaz de retomar “a dilatação da fé e do império” e de ultrapassar a crise do momento.
Termina com uma exortação ao rei para que também se torne digno de ser cantado, prosseguindo as lutas contra os Mouros.
Exórdio (estrofes 6-8) – início do discurso;
Exposição (estrofes 9-11) – corpo do discurso;
Confirmação (estrofes 12-14) – onde são apresentados os exemplos;
Peroração (estrofes 15-17) – espécie de recapitulação ou remate;
Epílogo (estrofes 18) – conclusão.

Narração
Começa no Canto I, (estrofes 19) e constitui a acção principal que, à maneira clássica, se inicia “in medias res”, isto é, quando a viagem já vai a meio, “Já no largo oceano navegavam”, encontrando-se já os portugueses em pleno Oceano Índico.
Este começo da acção central, a viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia, quando os portugueses se encontram já a meio do percurso do canal de Moçambique vai permitir:

A narração do percurso até Melinde (narrador heterodiegético);
A narração da História de Portugal até à viagem (por Vasco da Gama);
A inclusão da narração da primeira parte da viagem;
A apresentação do último troço da viagem (narrador heterodiegético).

A narrativa organiza-se em quatro planos: o da viagem, e o dos deuses, em alternância, ocupam uma posição importante. A História de Portugal está encaixada na viagem. As considerações pessoais aparecem normalmente nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a visão crítica do poeta sobre o seu tempo.

Epílogo
O epílogo (a parte final do poema, abrangendo as estrofes 145 a 156 do Canto X) inicia-se com uma das mais belas e angustiadas estrofes de todo o poema, na qual o poeta mostra-se triste, abatido, desiludido com a pátria (em virtude da decadência em que Portugal se encontrava), que não merece mais ser cantada:

“Não mais, musa, não mais, que a lira tenho
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho,
não no dá a Pátria, não, que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
dua austera, apagada e vil tristeza.”

Convém lembrar que em 1580, oito anos após a publicação do poema, as preocupações de Camões descritos em “Os Lusíadas”, tornaram-se realidade: Portugal perde autonomia, passando para o domínio espanhol.

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