domingo, 26 de setembro de 2010

DISCURSO

E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:

deixa seu ritmo por onde passa.

Venho de longe e vou para longe:

mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho

e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes

andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,

mas houve sempre muitas nuvens.

E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,

como posso esperar que algum ouvido me escute?

Ah! Se eu nem sei quem sou,

como posso esperar que venha alguém gostar de mim?


Por Cecília Meireles

Fonte: http://www.fabiorocha.com.br/cecilia.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário