terça-feira, 28 de setembro de 2010

TO EDUCATOR: Paulo Freire: Re-Leitura Para Uma Teoria Da Informática Na Educação

A relação da “alfabetização, leitura e escrita” com o “poder”, não esgota o pensamento freireano. A linguagem, a comunicação e os elementos comunicacionais formam um dos eixos fundamentais da sua proposta educativa para ajudar o homem e a mulher a libertar-se da manipulação e domesticação, desenvolvendo sua capacidade crítico-reflexiva. Especialmente em relação ao tema da formação do professor no uso de elementos mais sofisticados de comunicação, Paulo Freire não desprezou a cultura midiática. Considerou que as competências de um professor são as da leitura e da escrita, bem como a competência de saber enfrentar os fatos cotidianos através da comunicação humana, seja esta por meio da escrita ou de redes telemáticas. Ou seja, propõe que se trabalhe em favor do alfabetismo conceptual e político, porém sempre em relação dialética. Nesta ótica, a questão é desvendar, desarmar e recriar fatos complexos de leitura e escrita.

A teoria vai além do âmbito escolar. Ela está preocupada com os espaços públicos onde o conhecimento é produzido desde que o professor da escola pública, cada vez mais, se move em espaços amplificados de educação, enfrenta trabalhos com grupos diversos, organiza-se como educador, compreende linguagens múltiplas: desde a materna, a audiovisual até a informática. Reconhecer na proposta de Paulo Freire uma alternativa em relação a incorporação da informática na própria ação educativa é uma das chances de reconstruir uma prática estancada por muito tempo desde o poder de alguns setores sociais.

No Programa de Formação de Professores, um dos eixos básicos deve ser o da apropriação, pelos educadores, dos avanços científicos do conhecimento humano que possam contribuir para a qualidade da escola que se deseja. Inovar não é criar do nada, dizia Paulo Freire, mas ter a sabedoria de revistar o velho. Revistar sua prática para pensar a informática na escola é coerente com o sonho de fazer uma escola de qualidade para uma cidadania crítica. Isto implica, por sua vez, o conceito de escola cidadã, ou seja, o lugar de produção de conhecimento, de leitura e de escrita onde o computador ou a rede de computadores constituirão elementos dinamizadores, favorecendo o funcionamento progressivo da instituição e da própria cidadania democrática.

DÉCADA DOS ANOS 60: o ensino-aprendizagem em ambientes interativos.

A alfabetização, entendida como aquisição das competências lingüísticas (leitura e escrita) e lógico-matemática, parece insuficiente nos dias atuais para estabelecer uma comunicação efetiva. A alfabetização freireana é um desenvolvimento da capacidade crítico-reflexiva do homem, que procura liberar-se da manipulação, e prolonga-se por toda a vida do indivíduo. Freire considerou que o “dialogismo“, mais do que o “binarismo“, seria a base da estrutura intelectual da nossa época.

A vigência da língua como forma, como instrumento ingênuo e neutro de uso necessitava de um aprendizado receptivo, de escuta e imitação; para isto o Behaviorismo de base Skinneriana viabilizou a transmissão em sala de aula. Freire não se conformava com este tipo de educação. Com os elementos de seu tempo, procurou construir uma consciência crítica. Na década dos anos 60, por exemplo, para muitos o audiovisual emergente passou sem ser observado. Para Paulo Freire, entretanto, alfabetizar com os elementos de seu tempo foi uma preocupação constante. No Nordeste brasileiro, como confirma Moacir Gadotti, Paulo Freire buscava fundamentar o ensino-aprendizagem em ambientes interativos, através do uso de recursos audiovisuais. Mais tarde, reforçou o uso de novas tecnologias, principalmente o vídeo, a TV e a informática.

Seu método de alfabetização, aprovado pela Conferência Nacional dos Bispos no Brasil (1963), foi adotado imediatamente pelo Movimento de Educação de Base (MEB) como adequado para alfabetizar através da Telescola (Educação a distância usando rádio e monitores).

Aproximar-se da cultura e do universo vocabular de seu tempo de maneira crítica diferencia a proposta freireana de educação. Embora não haja uma proposta linear no pensamento de Paulo Freire a respeito da relação Educação/Comunicação, é bom lembrar alguns acontecimentos que marcaram a pedagogia freireana.

Foi um dos primeiros educadores que entendeu que a educação se realiza em outros lugares além da escola. Isto foi muito forte no pensamento de Paulo Freire. Alfabetização, leitura, escrita e lugares públicos ampliados de educação são elementos fundamentais para a conscientização cidadã. Ele estava no momento e lugar necessário com seu pensamento libertador, emancipador para um trabalho compartilhado. Mesmo sob o risco de ser nomeado de irreverente, anarquista ou comunista, ele enfrentou a linguagem soberba e arrogante da academia, por entender que o saber popular não é inferior ou superior a outros tipos de saberes, senão que é um saber a partir do qual se elucida. Com base nesses saberes começou a pensar a Informática. A escrita, para Paulo Freire, nunca foi uma técnica ingênua ou neutra nem o desenho de letras; tal como qualquer outra técnica, é uma ferramenta que permite a solução de problemas vitais.

DÉCADA DOS ANOS 70: comunicação ou extensão?

A experiência de alfabetização no Chile durante a Reforma Agrária desse país foi fundamental ao pensamento freireano. O desafio foi formar técnicos para o setor agrário com seu método. No livro “Comunicação ou extensão“, Freire reflete sobre o trabalho do agrônomo como educador e abre a discussão sobre o binarismo: comunicação ou extensão? técnica ou pedagogia? Freire deixa clara a importância da comunicação no processo de conhecimento. A técnica é importante no conjunto, mas a conscientização continua a ser vital. É contundente ao afirmar que a tarefa do educador é a de problematizar, junto aos educandos, o conteúdo que os mediatiza. Nesse sentido, a extensão é descrita como uma forma de estender aos camponeses o conhecimento e os métodos necessários a um programa de reforma agrária. Este estudo semântico revolucionou o pensamento freireano, ao propor desvendar as relações homem-mundo.

A história que se segue deixa transparecer a inquietação da pedagogia freireana “em relação ao fazer-ingênuo”. No final dos anos 70, apareceu na linguagem brasileira a expressão “fazer a cabeça”. A reação de Paulo Freire ante este fato, aparentemente irrelevante, foi expressiva. Como educador radical, fundamentou que não aceitava dar a impressão de cruzar os braços ante a cabeça dos outros ou ante o destino que se dê à cabeça deles. Em relação aos meios de comunicação, argumentava que “fazer a cabeça” significava que o sujeito que “faz a cabeça do outro” nega o outro para produzi-lo à sua maneira. E é contra essa indiferença ou manipulação que Paulo Freire se rebelou. Na sua proposta pedagógica o “fazer a cabeça do outro” não tem lugar, bem como na sua concepção de educação como prática da liberdade não se desprezam as tecnologias: devem ser enfrentadas e discutidas. Freire não rejeita as tecnologias de informação e comunicação ou informática. Ao contrário, ele procura por meio delas reforçar a humanização do homem, para o qual se faz necessário o uso cuidadoso e crítico das mesmas.

Com esta preocupação, já na década de 70 são elaboradas propostas de integração meios-escolas no âmbito do 1o grau, junto à Prefeitura do Município de São Paulo.

DÉCADA DOS ANOS 80: leitura das imagens e a penetração da informática.

A leitura das imagens e a penetração da informática constituiram-se nos eixos principais do livro “Sobre educação (Diálogos)”, volume 2 (Paulo Freire e Sérgio Guimarães, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1984, com segunda edição em 1986).

Segundo Freire, a leitura de imagens demanda uma certa e indiscutível experiência que tem a ver com a classe social. Em seu diálogo com Sérgio Guimarães, Freire constata que também as crianças de periferia estão tendo uma certa experiência, por exemplo com o cinema, no seu bairro, com as imagens da televisão na venda da esquina, ou em sua própria casa. O problema é saber como é que elas estão reagindo, qual está sendo a leitura dessas imagens. Enfatiza que o problema não está apenas em trazer os meios de comunicação para dentro das escolas, mas em saber a quem eles estão servindo.

Em relação à penetração da informática nas escolas no Brasil, Freire foi claro ao reiterar que não é contra a informática mas que, com certeza, deve haver alguma multinacional interessada em vender computadores, para referir-se aos interesses específicos do mercado que subjazem nesta penetração. Como homem de seu tempo, reconheceu a importância do uso racional dos computadores nas escolas brasileiras, sem deixar de questionar a quem estarão servindo a finalidade implícita nessa experiência de incorporação maciça da informática.

Os computadores e o “efeito cavalo de Tróia”

Sérgio Guimarães, dialogando com Paulo Freire, chama de “efeito cavalo de Tróia” a introdução maciça de computadores nas escolas brasileiras. Ou seja, quando se introduz um novo instrumento na escola, sua implantação se dá através do programa didático, o que atrela recurso a todos os conteúdos e a todos os passos da aprendizagem. O resultado é a “sofisticação” do ensino autoritário e tradicional por meio da nova tecnologia. Se calca ao velho modelo, o computador. O conhecimento fragmentado é oferecido ao educando para que ele engula, assimile e responda através de critérios já estabelecidos. A avaliação é realizada com critérios preestabelecidos. Neste ponto, a teoria freireana critica fortemente o uso do computador. Na verdade, a teoria Behaviorista prestou-se muito bem a este tipo de aprendizagem. Nesta ótica, os “softwares educativos” oferecem, por exemplo, um prêmio ou um castigo para quem atinja, ou não, a atividade programada. Paulo Freire acrescentou que no caso do professor, o mesmo poder que o determina pode também programá-lo para reproduzí-lo. Por isso, insiste que sua crítica é política e não tecnológica. Freire não foi contrário ao computador, mas achou fundamental poder “programar o computador”. Nesse sentido, Paulo Freire não admitiu o binarismo nem a dicotomia entre teoria e prática educativa. O pensamento de Paulo Freire foi aproveitado, em 1985, pela Secretaria de Educação de Novo Hamburgo (RS, Brasil), para a informatização da sua rede de escolas. Nessa oportunidade, reuniram-se 500 professores aos quais se apresentou o computador, bem como a obra “Educação e Mudança” de Paulo Freire. Acredita-se que a reflexão em torno desta obra permitiu o desenvolvimento de uma rede de ensino muito importante e diferenciada na região Sul do Brasil.

A comunicação no pensamento freireano

A comunicação é considerada fundamental nas relações humanas, e a inter-relação de seus elementos básicos permite certa autonomia ao processo de comunicação com finalidade educativa. O esquema comunicativo básico, na relação educador-educando, é uma relação social igualitária, dialogal, que produz conhecimento. A comunicação é a relação que se efetiva pela co-participação dos sujeitos no ato de conhecer.

As características dos elementos são as seguintes:

a) Postura aberta do emissor e receptor para lograr um clima de mútuo entendimento;

b) Bi-endereçamento do processo onde as mensagens possam circular em ambos sentidos educador – educando;

c) Interação no processo que suponha a possibilidade de modificação das mensagens e intenções segundo a dinâmica estabelecida;

d) Moralidade na tarefa para rejeitar tentações de manipulação.

Na relação educador-educando deve-se privilegiar a responsabilidade mediadora do professor. Ou seja, sua capacidade de mediar o educando e o computador, gerenciando democraticamente a complexa rede propiciada pela informática, “problematizando, junto aos educandos, o conteúdo que os mediatiza”

DÉCADA DOS ANOS 90: formação do professor para o próximo século, desde a perspectiva freireana

Desde a formação inicial do professor, é imprescindível, segundo Paulo Freire, garantir-lhe sérias reflexões sobre sua própria prática educativa e possibilitar-lhe a organização crítica e coletiva de seu tempo e espaço de trabalho, por meio de projetos pedagógicos que façam uso adequado do computador. O diálogo, entende Freire, deve começar com o desvendar do conhecimento sobre a presença dos computadores e suas redes, no sentido figurado e técnico, na prática educativa, em todas as suas dimensões.

Freire, analisando a articulação entre o saber, as novas tecnologias e educação ao poder afirmou, em 1993:

Exatamente porque somos programados, somos capazes de pôr-nos diante da programação e pensar sobre ela, indagar e até desviá-la (…) Somos capazes de inferir até na programação da que somos resultado (…) A vocação humana é a de “saber” o mundo através da linguagem que fomos capazes de inventar socialmente (…) nos tornamos capazes de desnudar o mundo e de “falar” o mundo. Só podemos falar do mundo porque transformamos o mundo, e o processo não poderia ser ao inverso. Neste sentido, a linguagem não só é veículo do saber, senão que é saber. Não se pode compreender a vida histórica, social e política dos homens fora dele e da necessidade de saber. É um processo que acompanha a vida individual e social das pessoas no mundo com sua politicidade. Isto tem a ver com a forma de “estar sendo” no mundo; o saber fundamental continua constituindo a capacidade de desvendar a razão de ser do mundo, e este é um saber que nem é superior nem inferior aos outros saberes, senão que é um saber que elucida, que desoculta, ao lado da formação tecnológica (…) É o “saber político” que a gente tem que criar, cavar, construir, produzir para que a pós-modernidade democrática, a pós-modernidade progressista se instale e se instaure contra a força e o poder de uma outra pós-modernidade que é reacionária.(…) Necessita-se de homens, de mulheres, que ao lado dos saberes técnicos e científicos, estejam também inclinados a conhecer o mundo de outra forma, através de tipos de saberes não preestabelecidos. A negação disto seria repetir o processo hegemônico das classes dominantes, que sempre determinaram o que podem e devem saber as classes dominadas.

Deste modo, o aproveitamento das tecnologias da informação e comunicação não pode estar dissociado das condições próprias e institucionais de cada sociedade em geral e dos professores em particular.

Acredita Freire que conhecer o contexto do processo comunicacional em que a leitura e a escrita se produzem é de fundamental importância. É importante reconhecer, por exemplo, que existe uma sociedade fortemente atravessada pelo mercado que marca a produção das palavras, ao ponto de oferecer e demandar “conhecimentos”. Por isso, há com certeza, necessidade de formação em certas competências específicas para estar a par, pelo menos, de alguns dos novos emergentes meios comunicacionais, permitindo, desta forma, que os professores retomem seu próprio saber. Partindo de uma das premissas do pensamento freireano, segundo a qual o conhecimento é “entender o mundo-palavra”, reconhece-se a necessidade da apropriação, pelos educadores, dos avanços científicos do conhecimento humano que possam contribuir para a qualidade da escola que se quer”.

Por outro lado, o protagonismo do professor na leitura e escrita nos meios comunicacionais, desde a ótica freireana da”leitura do mundo”, pode oferecer um caminho para descobrir, decodificar e explorar o texto previamente escrito e gravado na memória do computador, o que virá, por sua vez, a caracterizar a competência do professor para o próximo milênio. Se bem que a escrita aparece como um processo inacabado, em nosso contexto, não há que deixar de afrontar este desafio, bem como o de começar a refletir e atuar para quando a tecnologia não seja o problema.

De qualquer modo, desde uma ótica freireana, os computadores e a leitura não são incompatíveis, nem perturbam ou impedem a leitura e a escrita. Mas, se se pretende desenvolver a competência comunicativa dos alunos por meio do desempenho nos computadores, tem que se começar por considerar as teorias crítico-construtivistas em relação à transformação do discurso escrito, tanto na alfabetização básica como no desempenho de habilidades de escrita mais avançadas. Nesse sentido, a mídia pode contribuir como ferramenta para aprender, bem como servir de objeto de conhecimento.

O legado de Paulo Freire em relação à representação construída sobre o mundo possibilita o “dizer” contextualizado nos próprios saberes “do mundo”, contribuindo para o professor sobreviver na sociedade cripto-conservadora-pós-moderna, no dizer de Nick Cohen. Para tanto, talvez seja necessário pensar numa pedagogia da representação.

Bibliografia

BREEDE, Werner. Paulo Freire e os computadores. In: GADOTTI, M. (Org.) Paulo Freire: uma biobibliografia. Cortez, Brasília, DF, UNESCO, São Paulo, 1996, p.530.

BURGOS, Carlos Crespo. Paulo Freire e as teorias da comunicação. In: GADOTTI, M. (Org.). Paulo Freire: uma biobibliografia. Cortez, Brasília, DF, UNESCO, São Paulo, 1996, p.620-621.

FREIRE, Paulo. Comunicação ou extensão. Paz e Terra, São Paulo, 1970.

____________& GUIMARÃES, Sergio. Sobre educação (Diálogos). 2ªed. Paz e Terra, São Paulo, 1984. V.2, Discussão sobre Meios de comunicação de massa, a informática, o processo educativo e seu substrato político e ideológico.

_____________ Á sombra desta mangueira. Olho de d’Água, São Paulo, 1995.

_____________Conversando com educadores., Roca Viva, Montevideo, 1990.

_____________ Educação como prática da liberdade. Paz e Terra, Rio de Janeiro 1986.

_____________ A importância do ato de ler. Cortez, São Paulo, 1986.

_____________Educação e Mudança. 14ª. ed., Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1979.

_____________ Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987.

_____________& GUIMARÃES, Sérgio. Aprendendo com a própria história. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987.

_____________ & RIVIÈRE, P. O processo educativo segundo Paulo Freire e Pichon Rivière., Vozes, São Paulo, 1987.

GADOTTI, Moacir. Escola vivida, escola projetada. 2ªed., Papirus, São Paulo, 1995.

________________ História das idéias pedagógicas. 2ªed., , Ática, São Paulo, 1994.

________________ As muitas lições de Paulo Freire. In: Paulo Freire: poder, desejo e memórias da libertação/Peter McLaren, Peter Leonard, Moacir Gadotti [et.al.] trad. Marcia Moraes., ArtMed, Porto Alegre, 1998, p.25-34.

GEERTZ, C.A, Estar lá, escrever aqui. In: Diálogo. Lidador, Rio de Janeiro, 1990.

KNOBEL, M., Paulo Freire e a juventude digital em espaços marginais. In: Paulo Freire: poder, desejo e memórias da libertação / Peter McLaren, Peter Leonard, Moacir Gadotti [et.al.], trad. Marcia Moraes., ArtMed, Porto Alegre, 1998, p.175-189.

LIMA, Lauro de Oliveira. Método Paulo Freire: Processo de aceleração da alfabetização de adultos.In: Tecnologia, educação e democracia., Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1979, p.175-176.

LIMA, Lauro de Oliveira. Mutações em educação segundo McLuhan. Vozes, São Paulo, 1971.

LIMA, Venício A de. Conceito de comunicação em Paulo Freire. Em: GADOTTI, M. Paulo Freire: uma biobibliografia, IPF, 1996, São Paulo, p. 39.

Texto produzido para a pesquisa “Perfil sobre a inter-relação Comunicação/Educação no âmbito da cultura Latino-Americana”

Por Profa. Margarita Victoria Gomez


Fonte: http://www.eca.usp.br/nucleos/nce/perfil_margari.html /
http://petersond.wordpress.com/2006/09/10/paulo-freire-re-leitura-para-uma-teoria-da-informatica-na-educacao/

LEITURA ESCOLAR: Onde o poder da grande mídia não chega

O acesso às novas tecnologias e as facilidades de filmar, gravar, produzir sons e imagens e distribuí-los a baixo custo nas próprias comunidades periféricas, cria novos "espaços públicos" externos e fora do alcance da grande mídia.

Os incríveis índices de aprovação do presidente Lula e do seu governo e a expectativa de que a candidata por ele apoiada vença as eleições ainda no primeiro turno – agora confirmada pela unanimidade dos institutos de pesquisa de "opinião pública" – vem deixando muita gente boa desorientada.

Teóricos de ocasião e autodesignados "formadores de opinião" estão perdidos diante do insucesso da cobertura de oposição sistematicamente praticada pela grande mídia nos últimos anos – aliás, confirmada pela presidente da ANJ em março passado – e têm oferecido explicações sem sentido para salvar as aparências.

Quem forma a "opinião pública"?

Afinal o que é opinião pública? Qual é o papel da grande mídia na sua formação? Quem são os seus formadores? Qual é o papel da mídia – e, portanto, dos jornalistas – na democracia representativa liberal?

A opinião pública tem sido objeto de estudo e reflexão desde pelo menos o século 18 e, no século 20, passou a fazer parte do debate conceitual e teórico na academia. Mais do que isso, seu significado se tornou objeto da própria disputa política de vez que serve aos interesses privados da grande mídia (a) defini-la como resultado das pesquisas que financia ou faz; (b) atribuir a si mesma o papel de "falar em nome da opinião pública"; e, sobretudo, (c) ser considerada como sua principal formadora.

O que está envolvido em tudo isso, por óbvio, é a disputa pelo poder: o enorme poder de "fazer a cabeça" das pessoas.

Descartada pelo marxismo clássico como falsa consciência e ideologia que mascara o interesse de classe, a opinião pública ocupa um papel central nas chamadas democracias consentidas liberais (G. Sartori), pois é considerada, no plano das idéias, o equivalente ao "preço das mercadorias", uma e outro resultantes da livre competição racional no mercado.

A opinião do cidadão informado e esclarecido surgiria do confronto plural de idéias no processo racional de debate público informado pela mídia. O sujeito da opinião, portanto, não seria o membro alienado de uma "massa", mas o cidadão esclarecido de um "público".

Na perspectiva liberal, caberia à mídia, acima dos interesses em jogo, o papel de fornecer ao público a pluralidade e a diversidade das informações necessárias à formação de sua opinião e, claro, à tomada de decisão política, em geral, e eleitoral, em particular. A liberdade da imprensa seria, portanto, a garantia do fluxo livre de informações, responsável pelo funcionamento do mercado de idéias e, em última instância, da própria democracia representativa.

Os excluídos despertam...

Como explicar, então, que, apesar de estar sendo "bem informada", a maioria da opinião pública brasileira esteja se formando politicamente com opinião oposta àquela explicitamente defendida pela grande mídia, ou seja, favorável não só ao presidente Lula, mas ao seu governo e à sua candidata?

Tenho argumentado a algum tempo que a grande mídia insiste em não enxergar a nova realidade (ver, por exemplo, neste Observatório, "A velha mídia finge que o país não mudou"). Certamente são muitas as explicações para o que vem acontecendo em relação à opinião pública brasileira.

Entre elas, com certeza, está a maior diversidade de fontes de informação política hoje disponível [internet] e o crescimento às vezes imperceptível do nível de consciência de camadas significativas da população sobre a mídia comercial, seu enorme poder e seus interesses. E ainda: a crescente consciência de que a comunicação é um direito fundamental da cidadania.

Jovens da periferia de Brasília

Essa longa reflexão vem a propósito de rápido, mas intenso contato que tive com grupos de jovens e educadores populares da periferia de Brasília, discutindo com eles sobre as relações entre a mídia e a violência durante o seminário "A juventude quer viver: diga não à violência e ao extermínio de jovens", realizado na Universidade Católica de Brasília, no último fim de semana.

O acesso às novas tecnologias e as facilidades de filmar, gravar, produzir sons e imagens e distribuí-los a baixo custo nas próprias comunidades periféricas, cria novos "espaços públicos" externos e fora do alcance da grande mídia.

Um exemplo: chega a ser surpreendente o conteúdo de músicas hip-hop que artistas populares criam descrevendo criticamente o padrão de cobertura que a grande mídia oferece sobre o jovem da periferia dos centros urbanos. Basta a esses artistas o confronto da sua realidade cotidiana com o que se escreve, se fala e se mostra a seu respeito. Revela-se comparativamente para milhões de jovens como o seu cotidiano é omitido ou grosseiramente distorcido. Eles são de fato excluídos e assim se consideram.

Para esses jovens, restrições à liberdade de expressão são uma realidade histórica, só que praticadas não pelo Estado, mas exatamente pela grande mídia que não oferece a eles o acesso e o espaço que deveria ser seu de direito [direito de antena].

Novos tempos

Essa realidade começa a ser mudada, todavia, pelos próprios jovens. E sem qualquer participação da grande mídia: são rádios comunitárias, shows de hip-hop, portais na internet, vídeos e outros recursos que começam a formar redes alternativas de comunicação comunitária a serviço da liberdade de expressão de milhares e milhares de jovens da periferia.

Nestes "espaços públicos" a grande mídia não interfere na formação da opinião. Aqui o conteúdo dos jornalões, das revistas semanais e das redes dominantes de rádio e televisão serve, na verdade, para confirmar a exclusão social e cultural, além de alimentar a crítica conscientizadora.

Talvez esteja aí – nas comunidades organizadas de jovens das periferias das grandes cidades – uma das explicações para o retumbante fracasso da grande mídia na formação da opinião pública em relação ao presidente Lula, ao seu governo e à sua candidata à Presidência.

O tempo dirá.

Por Venício Lima

Publicado em 02/09/2010

*Venício A. de Lima é professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Liberdade de Expressão vs. Liberdade de Imprensa – Direito à Comunicação e Democracia, Publisher, 2010.

Fonte: Observatório da Imprensa

LEITURA ESCOLAR: Neoliberalismo

Podemos definir o neoliberalismo como um conjunto de idéias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do estado na economia. De acordo com esta doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois este princípio garante o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país.

Surgiu na década de 1970, através da Escola Monetarista do economista Milton Friedman, como uma solução para a crise que atingiu a economia mundial em 1973, provocada pelo aumento excessivo no preço do petróleo.

Características do Neoliberalismo (princípios básicos):

- mínima participação estatal nos rumos da economia de um país;

- pouca intervenção do governo no mercado de trabalho;

- política de privatização de empresas estatais;

- livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização;

- abertura da economia para a entrada de multinacionais;

- adoção de medidas contra o protecionismo econômico;

- desburocratização do estado: leis e regras econômicas mais simplificadas para facilitar o funcionamento das atividades econômicas;

- diminuição do tamanho do estado, tornando-o mais eficiente;

- posição contrária aos impostos e tributos excessivos;

- aumento da produção, como objetivo básico para atingir o desenvolvimento econômico;

- contra o controle de preços dos produtos e serviços por parte do estado, ou seja, a lei da oferta e demanda é suficiente para regular os preços;

- a base da economia deve ser formada por empresas privadas;

- defesa dos princípios econômicos do capitalismo.

Críticas ao neoliberalismo

Os críticos ao sistema afirmam que a economia neoliberal só beneficia as grandes potências econômicas e as empresas multinacionais. Os países pobres ou em processo de desenvolvimento (Brasil, por exemplo) sofrem com os resultados de uma política neoliberal. Nestes países, são apontadas como causas do neoliberalismo: desemprego, baixos salários, aumento das diferenças sociais e dependência do capital internacional.

Pontos positivos

Os defensores do neoliberalismo acreditam que este sistema é capaz de proporcionar o desenvolvimento econômico e social de um país. Defendem que o neoliberalismo deixa a economia mais competitiva, proporciona o desenvolvimento tecnológico e, através da livre concorrência, faz os preços e a inflação caírem.

AUTOR: Milton Friedman: um dos idealizadores do neoliberalismo

FONTE: http://www.suapesquisa.com/geografia/neoliberalismo.htm

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

EDUCAÇÃO: A MAIOR PRIORIDADE NO MUNDO ATUAL

Vive-se num mundo onde se faz necessário, a cada dia, pessoas mais bem educadas. Contudo, os investimentos em educação não se voltam para cobrir essa necessidade. As verbas destinadas à educação ainda são minúsculas ante a grandeza do seu significado. Depois, os educadores são aviltados pelos baixos salários que não lhes permitem, sequer, comprar livros. Nesse cenário de desprestígio, professor pode até ser surrado, em sala de aula, como aconteceu, recentemente, aqui em Rio Branco. Daí surge a pergunta: para que serve a educação? O questionamento não é para atacar ou subestimar o papel da educação para a formação das pessoas. Pelo contrário, é para valorizar esse setor tão carente. A educação deve ser a alavanca central do desenvolvimento, não só no sentido de maximização de recursos financeiros, mas como algo capaz de estimular as potencialidades das pessoas.

É um cansaço observar que para muitos governos o que importa em educação não é propriamente a qualidade ou a sua relevância para a vida das pessoas e para o desenvolvimento do país. É mais importante atender a interesses transitórios, ao invés de colocar recursos em projetos de longo prazo, que não geram dividendos políticos imediatos e não dão visibilidade para votos eleitorais. Não há convicção quanto ao valor estratégico dos investimentos em educação. Para muitos, dinheiro bem aplicado é o do pagamento das dívidas externa e interna, ou na construção de grandes obras como pontes, viadutos, estradas. Porém, essa lógica do atraso, a cada dia que passa, fragiliza-se diante de evidências e fatos que indicam o contrário.

Um estudo realizado pela UNESCO mostra uma relação positiva entre anos de escolaridade e taxa de crescimento de um país. Aponta que investimentos em capital humano, além de terem uma taxa de retorno privada elevada (entre 5% e 15% para cada ano adicional de escolaridade), têm, também, uma taxa de retorno social elevada, que pode atingir de três a quatro vezes as taxas de retorno privadas. Se a taxa de retorno social é mais elevada, o investimento público, em educação, está não apenas justificado, como também se eleva à condição de investimento prioritário, diante da situação social e educacional do país.

A educação não é queima de dinheiro. É queima de ignorância. Cabe à UNESCO, como organização especializada das Nações Unidas, nas áreas de educação, ciência, cultura e comunicação, lembrar e insistir sempre: a educação se paga quando suas verbas são bem utilizadas. A educação dá frutos, não na safra do próximo outono, mas ao longo de muito tempo, abrindo os caminhos para os países saírem da pobreza e da periferia. Sem essa visão estadista não será possível romper o círculo que perpetua o atraso e a miséria humana.

Um dos principais pontos que diferencia um país desenvolvido, de primeiro mundo, de um país subdesenvolvido, de terceiro mundo, é o histórico de investimentos realizados em educação e em cultura. Esses investimentos são à base de toda e qualquer sociedade que espera obter sucesso no futuro. Por isso, os países europeus têm um índice de desenvolvimento humano muito maior do que se tem na América Latina. Isso resulta do investimento maciço que a Europa fez, no passado, em cultura e educação. Explica-se porque a Europa é considerada o berço das artes.

Enfim, o compromisso com a Educação é dever de todos, governo, políticos, educadores, sociedade. Esse conjunto irmanado poderá tirar o país do atraso em que está mergulhado, salvar a juventude atual que pouco respeito possui aos valores educacionais. Poderá, também, operar o milagre de salvar milhares de jovens da marginalidade. Educar pessoas é garantir o futuro da nação. Assim, se os planos são para um ano, cultivem-se arroz; se são para dez anos, cultivem-se árvores. Mas se os planos são para a vida de pessoas, daqui a cem anos, cultive-se educação.


AUTORA: Luísa Galvão Lessa (Professora Universitária)

SUPERAMOS A EDUCAÇÃO NEOLIBERAL?

Existe uma indagação que se faz presente em nosso atual momento histórico: Superamos a educação neoliberal fomentada nos anos 90 pelas políticas públicas compensatórias dos governos de centro-direita e neo-conservadora no Brasil? A reflexão que fazemos gira em torno deste debate, principalmente nestes tempos de critica política ao modelo neoliberal até mesmo por parte daqueles que no passado implantaram o sistema. Para se entender esta complexa temática torna-se necessário a relação entre poder, política e educação. Por todos os lados, nestes dias eleitorais, o grande debate acerca da educação se aflora no Brasil. No entanto, percebe-se a existência de dois lados neste debate, duas visões diferenciadas em relação à finalidade da educação e sua real abrangência. O único ponto de convergência entre os dois lados é a consideração da importância da educação para a promoção da cidadania. A primeira visão pode-se chamar de civil democrática. A segunda visão pode-se chamar de produtivista.

A visão civil democrática da educação encara a educação de uma forma universal e a escola se encontra no particular das realidades humanas e sociais onde se aplica uma formação voltada para a promoção da cidadania, o exercício dos direitos sociais e os fundamentos da democracia. É uma educação centrada na figura do educando não-proprietário, não-consumidor, aqueles (as) que pertencem às camadas mais pobres da sociedade. O objetivo central é proporcionar a esse educando (a) a consciência para que se engajem nos movimentos coletivos da sociedade civil em busca de sua cidadanização. Nessa perspectiva educacional não há dicotomia entre formação para a cidadania e formação profissional. Segundo Paul Singer "o laço que une os procederes educativos é o respeito e a preocupação pela autonomia do educando, portanto pela auto-formação de sua consciência e pela sua gradativa capacitação para se libertar da tutela do educador e poder prosseguir, sozinho ou em companhia de seus pares, sua auto-educação". Nessa visão civil democrática podemos perceber que o educador indica caminhos para o educando conseguir se libertar de tudo aquilo que o prende, até mesmo, sua relação com o educador.

A visão produtivista da educação pensa a escola como preparação de indivíduos ao mercado de trabalho, ou seja, a função social da escola é inserir indivíduos na divisão social do trabalho. De certa forma, há uma tendência economicista nessa visão que busca como finalidade última a acumulação do capital humano. Esse indivíduo é visto como potencial para a produção que deve ter o esforço em buscar a capacitação que o insira no mundo produtivo. Pode-se perceber nessa visão uma forte tendência para formar o indivíduo livre dos movimentos coletivos, ou seja, um ser humano sozinho que possa servir aos ideais do Estado, do sistema e dos que dominam os meios de produção, sem questionar e sim defender os mesmos ideais. Como na Grécia antiga, onde o escravo era uma espécie de extensão de seu dono, aqui o indivíduo é uma espécie de extensão dos ideais daqueles que dominam os meios de produção e dos que possuem o monopólio do capital. A lógica educacional se afirma como termômetro da elevação social dos indivíduos a partir do momento em que há um aumento da produtividade, o que eleva a produção social e extermina-se a pobreza.

Diante da globalização em todas as partes do mundo, as transformações político-econômicas ocorridas desde o final da década de 80 tiveram profundas repercussões na América Latina, especificamente no Brasil. Tinha-se no Brasil um problema particular: o gigantismo da inflação que nos áureos anos da desestruturação econômica chegava aos 30% mês até a invenção do Plano Real pelo então ministro da fazenda Fernando Henrique Cardoso que teve o apoio do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Esse pseudo-sucesso da estabilidade econômica que hoje gira em torno dos 5% ao ano, levou alguns intelectuais e muitos políticos a considerarem as políticas neoliberais capazes de solucionar todos os males econômicos e sociais dos países adeptos ao novo sistema. Contudo, não podemos esquecer que o Brasil sofreu desgaste social, econômico e político ao adotar as medidas impostas pelo FMI aos países que cultuavam o projeto neoliberal. Países como a Bolívia, a Venezuela, a Argentina, o México e o Brasil sofreram golpes econômicos ao implantar esse modelo que via no ajuste estrutural a solução dos problemas de controle da inflação.

Hoje, está evidente que o neoliberalismo é bom para o capital e ruim para os trabalhadores porque não apresenta resposta para as questões sociais. O governo FHC ficou devendo uma política social consistente que tivesse compromissos claros com as questões sociais. Deixou de ser social-democrata para se tornar um "neoliberal envergonhado".

Evidentemente, que o governo Lula deu passos significativos para o rompimento com este modelo neoliberal, mas precisa avançar ainda mais na formulação de políticas econômicas solidárias que venham superar o alto índice de desigualdade social no Brasil.

No que se refere à educação, também houve uma tentativa, se bem que frustrada, de implantação do neoliberalismo. Com o fortalecimento da unidade escolar e a descentralização dos recursos públicos no governo FHC criou-se um currículo básico nacional e se deu ênfase à educação à distancia, ambos com profundos problemas ainda a serem resolvidos. No governo Lula aprofundou-se os vínculos entre Estado e sociedade civil, prova disso foram as políticas afirmativas das Cotas e do Prouni. Mas ainda precisamos avançar na superação das políticas neoliberais da gestão anterior, entre as quais destaco os desafios firmados no pacto educacional entre a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) com o governo FHC no então Plano Decenal de Educação para Todos:

1) A implementação de um currículo básico nacional que respeite a diversidade cultural e regional do país. Neste sentido, temos que avançar na formulação de políticas de autonomia das escolas que, por meio de seus projetos político-pedagógicos, devem construir o núcleo diversificado do currículo a partir de suas próprias necessidades e especificidades.

2) Um piso salarial de no mínimo US$ 300 dólares (R$ 513,00) que possa valorizar os profissionais da educação em seu todo. Neste sentido, tramita no Congresso Nacional a Lei que estabelece o Piso Salarial Nacional para todos os Estados da Federação.

3) E, por fim, uma definição clara do que cabe a cada esfera do governo em relação a educação.

No caso do governo FHC optou-se por uma perigosa descontinuidade administrativa no que se refere à educação. Devido às grandes mobilizações em torno do direito à educação, garantiu-se o direito para a maioria da população, mas ainda de má qualidade nas escolas públicas. O MEC, no governo FHC era e ainda é o órgão gestor de políticas afirmativas para facilitar o trabalho dos estados e municípios. E, no governo FHC, com o ministro Paulo Renato apresentou as seguintes opções as quais considero paliativas:

1) Campanha de mobilização: Educação como prioridade Nacional.

2) Implantação de Parâmetros Curriculares Nacionais.

3) Programa de Descentralização de recursos com repasse dos recursos direto para as escolas.

4) Programa do livro didático.

Devemos dar um destaque positivo para o lançamento do projeto que formalizou o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e a Valorização do Professor, antigo FUNDEF. No atual governo, tramita no Congresso Nacional a Lei do FUNDEB, que atingirá não somente o Ensino Fundamental, mas toda a Educação Básica. Diante dessa política afirmativa, muitas lições podem ser retiradas dessas inovações e experiências, pois apontam para um projeto educacional que supera dois problemas que estão na base da chamada crise educacional brasileira, a saber: a divisão entre o conceito de ensino público e ensino privado; e, a descentralização e desburocratização do sistema de ensino ainda não construído em sua totalidade.

Para superar a educação neoliberal implementada no Brasil nos anos 80 e 90, precisamos urgentemente formar na perspectiva da cidadania ativa. Numa época onde o pluralismo político torna-se um valor universal com a crescente onda da globalização da economia e das comunicações de um lado, e por outro lado, a emergência do poder local, tudo desponta num outro sistema de ensino realmente possível, cidadão e critico. De antemão, precisa-se afirmar a máxima de que a educação é dever do Estado e superar a ideia da privatização do ensino público e do Estado Mínimo. Mas, também é dever de todos e todas. Com tal conscientização é possível pressionar ainda mais o Estado para que cumpra seu dever de garantir a educação pública de qualidade. Neste contexto, é que surgem os projetos como o Projeto da Escola Cidadã do Instituto Paulo Freire que visa formar as pessoas para a cidadania ativa e para o desenvolvimento sustentável. Sabemos que não se muda a história sem conhecimento e muitos menos se muda 500 anos de história em simples 4 anos. Tudo é processo. Por isso, a necessidade de educar para o conhecimento da co-responsabilidade dos direitos sociais fazendo com que as pessoas se tornem sujeitos de suas histórias e que possam intervir no mercado como tais e não como povo sujeitado, domesticado, coisificado. Neste sentido, o mercado precisa se sujeitar à cidadania.

O nosso apartheid social não será superado com melhor distribuição de renda ou com solidariedade caritativa das classes médias. Será por meio da preparação de jovens para o trabalho profissional e intelectual, com uma educação de qualidade, integral, pública, renovada e, acima de tudo, uma escola comunitária.

Daí a necessidade de duas grandes proposições pedagógicas, a saber: a pedagogia do conflito e a pedagogia da práxis. A teoria pedagógica deve servir de guia para a prática educacional. Foi com essa intenção que Paulo Freire, Sérgio Guimarães e Moacir Gadotti reuniram-se para escrever o livro: Pedagogia: diálogo e conflito. Refletiu-se sobre a nossa situação concreta. Evidentemente que a pedagogia do diálogo contribui para a educação, uma outra educação, pós-neoliberal. Desde os tempos de Sócrates, o diálogo era compreendido como relação privilegiada entre duas pessoas em igualdade de condições.

A Pedagogia do Diálogo é histórica e se encontra em evolução. Seus principais defensores sofrem influencias do pensamento de sua época e das condições históricas da prática pedagógica libertadora. Entre eles, encontra-se Paulo Freire, que oferece a melhor compreensão dessa nova compreensão do diálogo, como podemos notar: o diálogo do oprimido, onde se encontram dois sujeitos (opressor e oprimido) que buscam apenas o significado das coisas, é um encontro que se realiza na práxis (ação + reflexão).

É neste sentido, da busca incondicional por uma nova educação para o século XXI, que acreditamos estar em processo de desestabilização do paradigma neoliberal. Já existem indícios deste momento novo, o surgimento de uma era pós-neoliberal. A educação brasileira ainda precisa avançar muito. Acabar com os mandos e desmandos daqueles que se encontram no poder é uma delas, pois sem gestão democrática nas escolas não se ensinará aos educandos o novo mundo, a nova educação, o novo tempo que queremos.

Autor: Claudemiro Godoy do Nascimento (Filósofo e Teólogo. Mestre em Educação/Unicamp. Doutorando em Educação/UnB. Professor da Universidade Federal do Tocantins - UFT/Campus de Arraias)

domingo, 26 de setembro de 2010

SOBRE A ESCRITA...

Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.

Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma ideia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.

Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.

Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.

Simplesmente não há palavras.

O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.

Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranquilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.

Simplesmente as palavras do homem.


Por Clarice Lispector

Fonte: http://www.releituras.com/clispector_escrita.asp

BULLYING: O QUE É?

No ano de 2000 tive conhecimento dos trabalhos já realizados e publicados sobre agressividade entre estudantes (bullying). Em outubro de 2001, visitei instituições em Londres e vi como o tema já era importante há alguns anos em vários países da Europa.

Por duas vezes estive com Michele Elliott, Diretora da Instituição Kidscape. Ali fui municiado com publicações e informações detalhadas sobre o fantástico trabalho desta instituição na prevenção e no atendimento aos casos de bullying. Ampliei conhecimentos com Helen Cowie, especialista em relacionamento entre jovens e bullying, Professora de Pós-Graduação na Universidade de Surrey Roehampton, Londres.

Ainda em Londres visitei a sede da Childline-UK, mega instituição fundada em 1986, e que distribuida por todo Reino Unido, recebe telefonemas de crianças e adolescentes em situação de risco. A principal queixa recebida pelo telefone 0800 nacional e gratuito é sobre bullying.

De volta ao Rio, através da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), desenvolvemos um projeto sobre o tema e apresentamos à Petrobras. Entre mais de dois mil concorrentes o projeto foi selecionado. Durante pouco mais de um ano, entre agosto de 2002 e outubro de 2003, mais de cinco mil e quinhentas crianças de 5º ao 8º Ano e de nove escolas públicas e duas escolas privadas responderam, por duas vezes, um questionário sobre a agressividade continuada e repetida entre os alunos de suas escolas; professores e pais passaram a discutir o tema; foram dados os primeiros passos para a implantação de uma política anti-bullying nessas escolas. Os meios de comunicação se interessaram e o assunto começou a chegar à população em geral.

Ainda em 2002, participamos de um seminário internacional sobre violência escolar, patrocinado pela UNESCO, em Brasília. Levamos ao conhecimento de alguns participantes, nacionais e estrangeiros, o trabalho que desenvolvíamos. Em outubro de 2003, levei pessoalmente o resultado da 1ª fase da pesquisa ao Professor Eric Debarbieux, coordenador do Observatório Europeu da Violência Escolar na Universidade de Bordeaux II, na França.

Como lidar com essa questão?

(Trecho da notícia: “Bullying na Internet leva adolescente ao suicídio”)

Alguém no MySpace está me perturbando/assediando/ameaçando - o que posso fazer a respeito disso?

O melhor a fazer se e quando você se encontrar nessa situação é simples: ignorá-los... Em 99,9% do tempo eles o deixarão em paz. Lembre-se, você sempre pode remover a pessoa da sua Lista de Amigos (em seguida, eles não poderão mais adicionar Comentários à sua página de Perfil), excluir os Comentários que deixaram em sua página de Perfil, e você pode inclusive excluir as mensagens que eles lhe enviam através do sistema de Correio do MySpace sem abri-las. Se você NÃO responder ao usuário ofensor (ou seja, NÃO lhe der atenção, NÃO deixá-lo lhe pregar uma peça), a maioria deles simplesmente irá embora.

Você também pode visualizar o perfil dele e clicar em "Bloquear Usuário", o que evitará que ele entre em contato com você. Pessoas inconvenientes ficam entediadas muito rapidamente quando você não permite que eles lhe perturbem. Se alguém ameaçá-lo, entre em contato imediatamente com um representante da lei.

Se você se sentir ameaçado, leia também as nossas dicas de segurança.

Caso eles tenham criado um perfil maldoso sobre você ou alguém que você conhece, entre em contato com o Serviço ao Cliente (e certifique-se de incluir o link para o perfil!).

Resumo reflexivo:

Foi dada a partida. Conseguimos levantar o véu que encobria uma situação por quase todos conhecida e até mesmo vivida: a agressividade entre alunos, a humilhação, a discriminação, as ofensas, a violência um tanto velada. Uma situação de atos repetidos, autênticos assédios, praticados contra algumas crianças nas escolas, por seus próprios colegas. A maioria das pessoas, sobretudo os professores, conhecia essa realidade, mas não aprendera a valorizá-la porque desconhecia sua consequências. Ou não as conhecia tanto quanto as vítimas. Sim, quem pode melhor falar sobre os atos repetidos de agressão entre alunos senão as próprias vítimas? Pesquisas em todos os países mostram que elas podem sofrer muito, sofrer tanto que podem chegar à depressão e à tentativa de suicídio. Mas o que dizer daqueles que praticaram esta forma de violência contra seus companheiros, sempre contra aqueles sem condições de enfrentar o agressor? Serão eles os adolescentes e adultos violentos do futuro? E as testemunhas silenciosas, que a tudo assistiram sem nada fazer? Será que vão crescer com sentimento de culpa pela sua covardia?

Como os pais podem ajudar?

Seu filho pode não contar a você que está sofrendo bullying na escola. Fique atento para os seguintes sinais que ele pode apresentar:

1) Agir de forma estranha, geralmente se isolando.

2) Apresentar sinais de trauma como ferimentos ou hematomas sem explicação.

3) Chegar com roupas rasgadas.

4) Demonstrar medo de ir à escola.

5) Ter problemas para dormir.

6) Apresentar mudanças de humor...

7) Parar de falar sobre a escola.

8) Encontrar desculpas para faltar à escola.

9) Fazer subitamente novas amizades.

10) Apresentar comportamento agressivo em casa (às vezes o que sofre bullying pode descontar nos irmãos).

Converse com seu filho:

1) Se você notar sinais de alerta de que seu filho pode estar sendo vítima de bullying, saiba que há maneiras de você conversar com ele sobre o que de fato está acontecendo na escola.

2) Faça perguntas provocadoras na terceira pessoa como, por exemplo, para sua filha "como as meninas se relacionam na escola" ou "como você se sente quando está na escola?".

3) Lembre-se de que o que você pode fazer de mais importante é escutar seu filho e abraçá-lo.

Como você pode ajudar:

Se seu filho é vítima de bullying na escola, você deve:

1) Levar o assunto a sério. Não minimizar o ocorrido.

2) Manter um diálogo aberto com seu filho sobre bullying.

3) Não pensar que o bullying acabou porque seu filho parou de falar sobre ele.

4) Dar conselhos consistentes.

5) Reforçar a auto-estima de seu filho. Ajudá-lo a achar uma atividade na qual ele se adapte.

6) Não agir sozinho. Encontre outros pais cujos filhos estão também sofrendo bullying ou presenciaram o bullying e se organizem.

7) Lembrar a seu filho que você o ama e encorajá-lo a conseguir aliados entre os colegas.

8) Contatar sua escola para contar o que está acontecendo.

O que não fazer:

1) Nunca dizer a seu filho/filha que o que está acontecendo faz parte de uma fase normal.

2) Não minimizar o problema.

3) Nunca diga a seu filho/filha que ele/ela está sendo exageradamente sensível.

4) Nunca lhe atribua a culpa por estar sofrendo bullying.

5) Nunca diga a ele que os colegas estão apenas brincando.

O que seu filho pode fazer:

Mesmo que seu filho seja contra, vá à escola e diga o que está acontecendo e trabalhe com a escola para ter a certeza de que seu filho será protegido. Você pode também ajudar seu filho a lidar com o autor do bullying desde o início das provocações, dizendo a eles que:

1) Reaja falando firme: "Pare com isto. Não gostei!"

2) Consiga colegas para ajudá-lo a enfrentar o autor do bullying.

A coisa mais importante para uma criança se lembrar é de que ela deve contar para um adulto logo que o bullying acontecer. Um adulto pode apoiar e dar força a uma criança e enfraquecer o autor do bullying.

Editor: Dr. Lauro Monteiro (Médico Psiquiatra)

Acesse: http://www.observatoriodainfancia.com.br/article.php3?id_article=258