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Você já notou que todas as atividades humanas estão
relacionadas com a utilização da língua? O tempo todo estamos envolvidos em
diversas situações em que a comunicação faz-se necessária, por isso, é natural
que exista uma infinidade de gêneros textuais.
Os gêneros textuais estão
a serviço das interações verbais, sejam elas orais ou escritas, e por esse
motivo não podem ser considerados como estruturas textuais invariáveis. Embora
dinâmicos e incontáveis, apresentam características que possibilitam sua
sistematização, já que são enunciados que se assemelham temática, estilística e
estruturalmente.
Entre os diversos gêneros, estão os gêneros
jornalísticos, cuja função social é de grande relevância, haja vista a
influência da mídia na contemporaneidade. Quando os textos do universo
jornalístico são estudados a partir da visão de gênero, o entendimento das
ações discursivas neles realizadas é facilitado. Para que você conheça melhor o
discurso adotado pela mídia, o Brasil Escola apresenta para você algumas
características do gênero textual reportagem. Vamos lá?
A reportagem:
► Os gêneros
jornalísticos podem ser divididos em duas grandes categorias: os gêneros
que compõem o jornalismo opinativo e os gêneros que constituem o jornalismo
informativo. No jornalismo opinativo, as opiniões do autor do texto ficam
explícitas; no jornalismo informativo, os textos têm como objetivo noticiar, ou
seja, narrar acontecimentos. A reportagem é considerada pelos estudiosos da
linguagem como um gênero “problemático”, já que não possui definição clara
dentro do campo linguístico.
► Alguns
estudiosos defendem que a reportagem nada mais é do que uma notícia ampliada,
enquanto outros acreditam que se trata de um gênero autônomo. Entre os que
defendem a primeira visão, a reportagem extrapola os limites da notícia, mas
apresenta relação direta com o gênero. Para aqueles que acreditam ser a
reportagem um gênero autônomo, ela não pode ser relacionada com a notícia, já que
sua função não é a cobertura de um fato, ou seja, não possui caráter noticioso.
► O
propósito comunicativo da reportagem é informar a respeito de um assunto, o
que não significa que esse assunto esteja necessariamente relacionado com temas
do momento. Para Patrick Charaudeau, teórico que estuda os discursos da mídia,
a “reportagem jornalística trata de um fenômeno social ou político, tentando
explicá-lo”. Esse fenômeno social sobre o qual o estudioso se refere diz
respeito aos acontecimentos produzidos no espaço público e que são de interesse
geral.
► A
reportagem apresenta elementos que não são próprios do gênero notícia, entre
eles o levantamento de dados, entrevistas com testemunhas e/ou especialistas e
uma análise detalhada dos fatos. Embora preze pela objetividade,
característica importante dos gêneros jornalísticos, a reportagem
invariavelmente apresenta um retrato do assunto a partir de um ângulo pessoal,
por isso, ao contrário da notícia, ela é assinada pelo repórter. Nesse gênero é
comum encontrar também o recurso da polifonia, pois nele existem outras vozes
que não a do repórter, por isso o equilíbrio entre os discursos direto e
indireto. A finalidade maior da polifonia é permitir que o repórter aborde o
tema de maneira global e, dessa maneira, isente-se da apresentação dos fatos.
Observe agora dois exemplos que vão ajudá-lo(a) a
compreender melhor as diferenças entre reportagem e notícia. Boa leitura e bons
estudos!
Exemplos de Reportagem:
Professores
não falam de educação
Tese de mestrado defendida na Universidade de São Paulo (USP) expõe a falta de voz dos educadores na mídia
Tese de mestrado defendida na Universidade de São Paulo (USP) expõe a falta de voz dos educadores na mídia
Os professores não contam para ninguém
o que se passa dentro da escola – ao menos, não para jornalistas. Há cerca de
10 anos, desde que a ONG Observatório da Educação começou a acompanhar o
tratamento dado pela mídia a políticas educacionais, o educador não tem voz nas
reportagens sobre o tema. A cada novo índice ou política pública proposta,
gestores falam, historiadores, economistas e acadêmicos opinam, mas educadores
não são ouvidos.
O fenômeno, acompanhado por Fernanda
Campagnucci desde 2007, quando era editora do site do Observatório da Educação,
foi tema de mestrado defendido pela jornalista em 2014 na Faculdade de Educação
da Universidade de São Paulo (USP). A dissertação “O silêncio dos professores”
identifica e analisa o processo de construção desse silenciamento.
O trabalho mostra como os profissionais
responsáveis por ensinar as pessoas a terem capacidades como autonomia,
pensamento crítico e capacidade de reflexão sentem-se tolhidos a não falar
sobre sua profissão e rotina. São figuras raras não apenas nas reportagens
educacionais, mas no próprio debate sobre as medidas a tomar para que seu
desempenho seja bom.
“É um silêncio construído e reiterado”,
afirma Fernanda, que entrevistou dez profissionais de várias regiões da cidade
de São Paulo para explicar por que não falam ou o que ocorre quando conversam
com jornalistas. O estudo também ouviu jornalistas que comentam suas tentativas
frustradas de entrevistas. A conclusão é de que os educadores não são
silenciados propositalmente ou deixam de falar por convicção, mas por uma
“impregnação na cultura institucional” que inclui fatores como condições de
trabalho e autoimagem do professor.
Muitos citam que declarações à imprensa
são proibidas por lei. De fato, até 2009, um resquício da ditadura,
popularmente chamado de “lei da mordaça”, proibia as entrevistas. Uma campanha
do próprio observatório culminou na mudança da legislação, mas não do
comportamento dos professores. “Mesmo os mais novos, quando entram, aprendem
com os mais velhos que não devem falar do que acontece dentro da escola. Eles
não citam exatamente o artigo, no máximo o estatuto do servidor sem ser
específico”, conta.
As entrevistas também mostraram que o
cuidado é aprendido na prática. Dos dez professores, dois foram escolhidos por
já terem falado em reportagens e um deles foi repreendido pela diretora.
“Embora as secretarias de Educação afirmem que há liberdade de expressão, o
trabalho para silenciar é explícito”, diz Fernanda. Durante as greves
estaduais, por exemplo, um comunicado dúbio reforça que não é permitido falar
pelas instituições e acaba reprimindo qualquer fala. Da mesma forma, quando
ocorre um caso pontual, como um episódio de violência, uma equipe de “gestão de
crise” é enviada para “intermediar” o diálogo. Como resultado, nenhum professor
comenta o assunto.
A desvalorização geral do educador
também acaba por impactar subjetivamente o professor. “Ele vê reportagens que
falam sobre educação e sabe que não é assim. Às vezes vive um conflito entre a
realidade que vivencia e a que é retratada, mas acaba tão estigmatizado pela
mídia, pela sociedade, até mesmo dentro da família que muda a sua autoimagem e
aceita”, lamenta a pesquisadora.
Outro problema é a precariedade do
trabalho. A profissão tem grande número de profissionais temporários,
contratados sem concurso e que são dispensados após alguns meses. Também são
muitos os docentes em estágio probatório por terem sido aprovados há menos de três
anos. Mesmo os que são efetivos têm pouco vínculo com a direção, pela alta
rotatividade ou pela jornada que, não raro, estende-se por mais de uma escola.
No Estado de São Paulo, por exemplo, 26% dos docentes lecionam em dois ou mais
estabelecimentos. “Eles não se sentem seguros o suficiente, estão em um
ambiente burocrático e sem vínculos fortes, por isso uma entrevista é algo tão
difícil”, explica a mestre.
Segundo sua pesquisa, depois de certo
ponto da carreira, falar sobre o próprio trabalho passa a ser estranho para o
professor que nunca tomou tal iniciativa. “A situação toda vai criando uma
pré-disposição para não falar que depois se torna permanente ao longo da
carreira.”
O levantamento mostrou também que os
casos de professores retratados em reportagens são exceções extremas, em que os
educadores aparecem como heróis apesar de um contexto ruim ou como responsáveis
pela má qualidade na Educação, de forma isolada. A constatação deu origem à
campanha “Nem herói nem culpado, professor tem que ser valorizado”, do mesmo
Observatório da Educação. “Estas reportagens reforçam ainda mais a visão de que
os educadores em geral não estão preparados.”
Para ela, apesar de todos os setores da
sociedade e especialmente os governos desempenharem um papel de protagonista no
silêncio, educadores e jornalistas podem ajudar a romper o ciclo vicioso. Por
parte da imprensa, Fernanda diz que é preciso enfocar a falta de liberdade de
expressão. “A mídia não pode naturalizar o silenciamento dos professores nem
deixando de procurá-los e nem em respostas como ‘não respondeu à reportagem’.
Quanto mais for enfatizada a razão dos educadores não constarem nos textos,
maior a visibilidade para este problema”, diz.
Ao mesmo tempo, ela acredita que o tema
deve constar das formações continuadas dentro das escolas e servir de reflexão
para os educadores. “Todo esforço para mostrar a realidade influencia para que
haja mudanças. É um processo amplo, que envolve questões objetivas e subjetivas
do educador sobre o seu papel. O primeiro passo é tomar consciência”, conclui.
Por Cinthia Rodrigues
Disponível
em: Carta na Escola. Acesso em 15/04/15.
Notícia:
Professores
de São Paulo decidem manter greve
Paralisação iniciada em março teve continuidade aprovada em assembleia com 20 mil pessoas
Os professores estaduais de São Paulo
que estão em greve desde o dia 16 de março decidiram manter a paralisação em
assembleia realizada nesta sexta-feira (10). A greve já dura 28 dias e terá a
continuidade votada novamente na próxima assembleia do dia 17 de abril. O encontro
será realizado na avenida Paulista. A categoria também planeja uma nova
manifestação para a próxima quarta-feira (15).
A passeata organizada pelos professores
depois do encontro de ontem reuniu 20 mil pessoas na zona sul de São
Paulo, por volta das 17h40, de acordo com a Polícia Militar. Os docentes
reivindicam 75,33% de aumento salarial como necessário para a equiparação
salarial com os profissionais de ensino superior completo (como determina o
Plano Nacional de Educação).
Além disso, exigem a plena aplicação da
jornada do piso, a reabertura de classes fechadas, o imediato desmembramento
das salas superlotadas, uma nova forma de contratação de professores
temporários, aumento do vale-transporte e refeição, transformação do bônus em
reajuste salarial e água em todas as escolas para todos.
FONTE: Por Luana Castro (Graduada em Letras)
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