terça-feira, 25 de abril de 2017

GÊNERO REPORTAGEM

(Imagem do Google - click nela)

Você já notou que todas as atividades humanas estão relacionadas com a utilização da língua? O tempo todo estamos envolvidos em diversas situações em que a comunicação faz-se necessária, por isso, é natural que exista uma infinidade de gêneros textuais.
Os gêneros textuais estão a serviço das interações verbais, sejam elas orais ou escritas, e por esse motivo não podem ser considerados como estruturas textuais invariáveis. Embora dinâmicos e incontáveis, apresentam características que possibilitam sua sistematização, já que são enunciados que se assemelham temática, estilística e estruturalmente.
Entre os diversos gêneros, estão os gêneros jornalísticos, cuja função social é de grande relevância, haja vista a influência da mídia na contemporaneidade. Quando os textos do universo jornalístico são estudados a partir da visão de gênero, o entendimento das ações discursivas neles realizadas é facilitado. Para que você conheça melhor o discurso adotado pela mídia, o Brasil Escola apresenta para você algumas características do gênero textual reportagem. Vamos lá?

A reportagem:

Os gêneros jornalísticos podem ser divididos em duas grandes categorias: os gêneros que compõem o jornalismo opinativo e os gêneros que constituem o jornalismo informativo. No jornalismo opinativo, as opiniões do autor do texto ficam explícitas; no jornalismo informativo, os textos têm como objetivo noticiar, ou seja, narrar acontecimentos. A reportagem é considerada pelos estudiosos da linguagem como um gênero “problemático”, já que não possui definição clara dentro do campo linguístico.
Alguns estudiosos defendem que a reportagem nada mais é do que uma notícia ampliada, enquanto outros acreditam que se trata de um gênero autônomo. Entre os que defendem a primeira visão, a reportagem extrapola os limites da notícia, mas apresenta relação direta com o gênero. Para aqueles que acreditam ser a reportagem um gênero autônomo, ela não pode ser relacionada com a notícia, já que sua função não é a cobertura de um fato, ou seja, não possui caráter noticioso.

O propósito comunicativo da reportagem é informar a respeito de um assunto, o que não significa que esse assunto esteja necessariamente relacionado com temas do momento. Para Patrick Charaudeau, teórico que estuda os discursos da mídia, a “reportagem jornalística trata de um fenômeno social ou político, tentando explicá-lo”. Esse fenômeno social sobre o qual o estudioso se refere diz respeito aos acontecimentos produzidos no espaço público e que são de interesse geral.
► A reportagem apresenta elementos que não são próprios do gênero notícia, entre eles o levantamento de dados, entrevistas com testemunhas e/ou especialistas e uma análise detalhada dos fatos. Embora preze pela objetividade, característica importante dos gêneros jornalísticos, a reportagem invariavelmente apresenta um retrato do assunto a partir de um ângulo pessoal, por isso, ao contrário da notícia, ela é assinada pelo repórter. Nesse gênero é comum encontrar também o recurso da polifonia, pois nele existem outras vozes que não a do repórter, por isso o equilíbrio entre os discursos direto e indireto. A finalidade maior da polifonia é permitir que o repórter aborde o tema de maneira global e, dessa maneira, isente-se da apresentação dos fatos.
Observe agora dois exemplos que vão ajudá-lo(a) a compreender melhor as diferenças entre reportagem e notícia. Boa leitura e bons estudos!
Exemplos de Reportagem:
Professores não falam de educação
Tese de mestrado defendida na Universidade de São Paulo (USP) expõe a falta de voz dos educadores na mídia

Os professores não contam para ninguém o que se passa dentro da escola – ao menos, não para jornalistas. Há cerca de 10 anos, desde que a ONG Observatório da Educação começou a acompanhar o tratamento dado pela mídia a políticas educacionais, o educador não tem voz nas reportagens sobre o tema. A cada novo índice ou política pública proposta, gestores falam, historiadores, economistas e acadêmicos opinam, mas educadores não são ouvidos.
O fenômeno, acompanhado por Fernanda Campagnucci desde 2007, quando era editora do site do Observatório da Educação, foi tema de mestrado defendido pela jornalista em 2014 na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). A dissertação “O silêncio dos professores” identifica e analisa o processo de construção desse silenciamento.
O trabalho mostra como os profissionais responsáveis por ensinar as pessoas a terem capacidades como autonomia, pensamento crítico e capacidade de reflexão sentem-se tolhidos a não falar sobre sua profissão e rotina. São figuras raras não apenas nas reportagens educacionais, mas no próprio debate sobre as medidas a tomar para que seu desempenho seja bom.
“É um silêncio construído e reiterado”, afirma Fernanda, que entrevistou dez profissionais de várias regiões da cidade de São Paulo para explicar por que não falam ou o que ocorre quando conversam com jornalistas. O estudo também ouviu jornalistas que comentam suas tentativas frustradas de entrevistas. A conclusão é de que os educadores não são silenciados propositalmente ou deixam de falar por convicção, mas por uma “impregnação na cultura institucional” que inclui fatores como condições de trabalho e autoimagem do professor.
Muitos citam que declarações à imprensa são proibidas por lei. De fato, até 2009, um resquício da ditadura, popularmente chamado de “lei da mordaça”, proibia as entrevistas. Uma campanha do próprio observatório culminou na mudança da legislação, mas não do comportamento dos professores. “Mesmo os mais novos, quando entram, aprendem com os mais velhos que não devem falar do que acontece dentro da escola. Eles não citam exatamente o artigo, no máximo o estatuto do servidor sem ser específico”, conta.
As entrevistas também mostraram que o cuidado é aprendido na prática. Dos dez professores, dois foram escolhidos por já terem falado em reportagens e um deles foi repreendido pela diretora. “Embora as secretarias de Educação afirmem que há liberdade de expressão, o trabalho para silenciar é explícito”, diz Fernanda. Durante as greves estaduais, por exemplo, um comunicado dúbio reforça que não é permitido falar pelas instituições e acaba reprimindo qualquer fala. Da mesma forma, quando ocorre um caso pontual, como um episódio de violência, uma equipe de “gestão de crise” é enviada para “intermediar” o diálogo. Como resultado, nenhum professor comenta o assunto.
A desvalorização geral do educador também acaba por impactar subjetivamente o professor. “Ele vê reportagens que falam sobre educação e sabe que não é assim. Às vezes vive um conflito entre a realidade que vivencia e a que é retratada, mas acaba tão estigmatizado pela mídia, pela sociedade, até mesmo dentro da família que muda a sua autoimagem e aceita”, lamenta a pesquisadora.
Outro problema é a precariedade do trabalho. A profissão tem grande número de profissionais temporários, contratados sem concurso e que são dispensados após alguns meses. Também são muitos os docentes em estágio probatório por terem sido aprovados há menos de três anos. Mesmo os que são efetivos têm pouco vínculo com a direção, pela alta rotatividade ou pela jornada que, não raro, estende-se por mais de uma escola. No Estado de São Paulo, por exemplo, 26% dos docentes lecionam em dois ou mais estabelecimentos. “Eles não se sentem seguros o suficiente, estão em um ambiente burocrático e sem vínculos fortes, por isso uma entrevista é algo tão difícil”, explica a mestre.
Segundo sua pesquisa, depois de certo ponto da carreira, falar sobre o próprio trabalho passa a ser estranho para o professor que nunca tomou tal iniciativa. “A situação toda vai criando uma pré-disposição para não falar que depois se torna permanente ao longo da carreira.”
O levantamento mostrou também que os casos de professores retratados em reportagens são exceções extremas, em que os educadores aparecem como heróis apesar de um contexto ruim ou como responsáveis pela má qualidade na Educação, de forma isolada. A constatação deu origem à campanha “Nem herói nem culpado, professor tem que ser valorizado”, do mesmo Observatório da Educação. “Estas reportagens reforçam ainda mais a visão de que os educadores em geral não estão preparados.”
Para ela, apesar de todos os setores da sociedade e especialmente os governos desempenharem um papel de protagonista no silêncio, educadores e jornalistas podem ajudar a romper o ciclo vicioso. Por parte da imprensa, Fernanda diz que é preciso enfocar a falta de liberdade de expressão. “A mídia não pode naturalizar o silenciamento dos professores nem deixando de procurá-los e nem em respostas como ‘não respondeu à reportagem’. Quanto mais for enfatizada a razão dos educadores não constarem nos textos, maior a visibilidade para este problema”, diz.
Ao mesmo tempo, ela acredita que o tema deve constar das formações continuadas dentro das escolas e servir de reflexão para os educadores. “Todo esforço para mostrar a realidade influencia para que haja mudanças. É um processo amplo, que envolve questões objetivas e subjetivas do educador sobre o seu papel. O primeiro passo é tomar consciência”, conclui.
Por Cinthia Rodrigues
Disponível em: Carta na Escola. Acesso em 15/04/15.
Notícia:
Professores de São Paulo decidem manter greve 

Paralisação iniciada em março teve continuidade aprovada em assembleia com 20 mil pessoas 
Os professores estaduais de São Paulo que estão em greve desde o dia 16 de março decidiram manter a paralisação em assembleia realizada nesta sexta-feira (10). A greve já dura 28 dias e terá a continuidade votada novamente na próxima assembleia do dia 17 de abril. O encontro será realizado na avenida Paulista. A categoria também planeja uma nova manifestação para a próxima quarta-feira (15).
A passeata organizada pelos professores depois do encontro de ontem reuniu 20 mil pessoas na zona sul de São Paulo, por volta das 17h40, de acordo com a Polícia Militar.  Os docentes reivindicam 75,33% de aumento salarial como necessário para a equiparação salarial com os profissionais de ensino superior completo (como determina o Plano Nacional de Educação).
Além disso, exigem a plena aplicação da jornada do piso, a reabertura de classes fechadas, o imediato desmembramento das salas superlotadas, uma nova forma de contratação de professores temporários, aumento do vale-transporte e refeição, transformação do bônus em reajuste salarial e água em todas as escolas para todos.
Disponível em: Notícias R7. Acesso em 15/04/15

FONTE: Por Luana Castro (Graduada em Letras)



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