domingo, 30 de abril de 2017

FOCO NARRATIVO


 TIPOS DE NARRADORES 

1. Narrador-personagem (protagonista ou testemunha):

A boca, no papel

O garoto da vizinha me pediu que o ajudasse a fazer (a fazer, não, a completar) um trabalho escolar sobre a boca. Estava preocupado porque só conseguira escrever isto: ‘Pra que serve a boca? A boca serve para falar, gritar e contar. Serve também pra comer, beber, beijar e morder. Eu acho que a boca é um barato’. Queria que eu acrescentasse alguma coisa.
- Que coisa?
- Qualquer coisa, ué. Escrevi só quatro linhas, a professora vai bronquear.
- Mas em quatro linhas você disse o essencial. Para mim, só faltou dizer que a boca serve também para calar. Em boca fechada não entra mosquito.
- Isso não dá nem uma linha - e os olhos do garoto ficaram tristes. - Por favor, me ajude…
Então resolvi fazer a minha redação, como aluno ausente do Colégio Esperança, e passá-la ao coleguinha, a título de assessor de emergência.
A boca! Tanta coisa podemos falar sobre a boca, mas é sempre por ela que falamos dela. Até caneta e o lápis são uma espécie de boca para falar sobre a boca. Eles vão riscando e saem as palavras como se saíssem por via oral. (Risquei a expressão “por via oral”. É muito sofisticada, ninguém vai acreditar que fui eu que escrevi. Mas foi sim).
A boca é linda quando é de mulher que tem boca linda. Fora disso, nem sempre. A boca é muito rica de expressões, mas não se deve confundi-la com a chamada boca rica. (Mordomia, negociatas, pregão de ações da Vale do Rio Doce aos milhões etc.) A boca de que estou falando, aliás, escrevendo, pode ser alegre, amarga, ameaçadora, sensual, deprimida, fria, sei lá o quê. Uma boca pode variar muito de expressão e mesmo não ter nenhuma. Uma das bocas mais gozadas que eu já vi foi a boca–de-chupar-ovo, uma boquinha de nada, da minha tia Zuleica. Se fosse um pouquinha mais apertada, eu queria ver ela se alimentando – por onde? Mas esta boca está fora da moda, só aparece no jornal nos retratos das melindrosas de 1928, que faziam a boca ainda menor desenhando o contorno com o batom. Os lábios ficavam de fora, de longe.
Estou lendo escondido as poesias de Gregório de Matos. Dizem que ele tinha o apelido de Boca do Inferno por causa dos negócios que escrevia e que eram infernais. Infernais no tempo dele, pois na rua e em toda parte já escutei coisas muito mais cabeludas, xii!…
Toquinho canta uma letra que fala em boca da noite, acho que ele queria falar no anoitecer, É bonito, mas não consigo imaginar essa boca na cara da noite. Sou mais a boca do dia, que não sei se alguém já teve ideia de falar nela, mas o amanhecer engolindo a escuridão da noite é mais legal que o anoitecer papando os restos do dia.
Boca por boca, não ando atrás da boca-livre, que aliás nunca passou perto de mim, e só um grupo consegue, os privilegiados. Se a boca fosse livre para todos, então a vida seria melhor. É a tal história: quanta gente fazendo boquinha pra conseguir o quê? Nada. E com quatro ou cinco bocas em casa pra sustentar.
Diz-se que o uso do cachimbo faz a boca torta, e eu pergunto: por que não botar o cachimbo ora no outro canto da boca, pro torto endireitar? Se o vatapá põe a gente de água na boca, me expliquem por que, depois de comer, o cara pede um copo d’ água.
Gente que não admite discussão nem leva desaforo para casa manda logo calar a boca. Mas já vi gente dando palmadinha na própria boca e dizendo “Cala-te, boca”. E ela obedece. Às vezes já é tarde, a boca disse uma besteira inconveniente , e o jeito é o cara se lastimar , com cara de missa de sétimo dia : “Ai, boca, que tal disseste”!
E assim, de boca em boca, vai correndo o dito maldito. Me disseram que um cara bom de discurso, palavreado fácil , como certos deputados e prefeitos por aí, merece o título de boca de ouro. Fala tão bonito que a gente vê barrinhas de ouro saltarem da língua dele. Mas é só de mentirinha. Esse ouro não melhora a sina do povo nem a nossa dívida externa, que é uma boca larga imensa, engolindo todas as reservas da gente. E contra essa história de inflação, custo de vida e tal e coisa, nem adianta mesmo botar a boca no trombone. Os de lá de cima fazem boca-de–siri- ou , senão, boca de defunto , porque, como advertia o saudoso Ponte Preta , siri , mesmo sem boca , já está falando.
E eu faço igual, além do mais porque já não estou em idade de fazer redação em colégio.



(ANDRADE, Carlos Drummond de. Moça deitada na grama. Rio de Janeiro: Record, 1987. p.17-9.)


2. Narrador-observador: 

O espelho

Esboço de uma nova teoria da alma humana

Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a cidade, com as suas agitações e aventuras, e o céu, em que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida e sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo.
Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação. Esse homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre quarenta e cinquenta anos, era provinciano, capitalista, inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e cáustico. Não discutia nunca; e defendia-se da abstenção com um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança bestial; e acrescentava que os serafins e os querubins não controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e eterna.
Como desse esta mesma resposta naquela noite, contestou-lha um dos presentes, e desafiou-o a demonstrar o que dizia, se era capaz. Jacobina (assim se chamava ele) refletiu um instante, e respondeu: - Pensando bem, talvez o senhor tenha razão. Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este casmurro usou da palavra, e não dois ou três minutos, mas trinta ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a cair na natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente os quatro amigos. Cada cabeça, cada sentença; não só o acordo, mas a mesma discussão tornou-se difícil, senão impossível, pela multiplicidade das questões que se deduziram do tronco principal e um pouco, talvez, pela inconsistência dos pareceres. Um dos argumentadores pediu ao Jacobina alguma opinião, - uma conjetura, ao menos.
 - Nem conjetura, nem opinião, redarguiu ele; uma ou outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração acerca da matéria de que se trata. Em primeiro lugar, não há uma só alma, há duas...

(...)
(Joaquim Maria Machado de Assis)
Concluir a leitura desse texto:


3. Narrador-onisciente:
                                                                           Amor

Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e o escolhera.
Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera.
O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento mais úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.
O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.
A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.
O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranquila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.
(...)
(Clarice Lispector)

Concluir leitura desse texto:

PESQUISA: A teoria do foco narrativo: Leia tudo! Escreve melhor que sabe  detalhes sobre                                     esse elemento da narrativa:



Sucesso no trabalho!

Prof. Delinha 

terça-feira, 25 de abril de 2017

ESTILO: PONTUAÇÃO EM DIÁLOGOS



COMUNICAÇÃO

É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um… um… como é mesmo o nome?
“Posso ajudá-lo, cavalheiro?”
“Pode. Eu quero um daqueles, daqueles…”
“Pois não?”
“Um… como é mesmo o nome?”
“Sim?”
“Pomba! Um… um… Que cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É uma coisa simples, conhecidíssima.”
“Sim senhor.”
“O senhor vai dar risada quando souber.”
“Sim senhor.”
“Olha, é pontuda, certo?”
“O quê, cavalheiro?”
“Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um… Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta; a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. E isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?”
“Infelizmente, cavalheiro…”
“Ora, você sabe do que eu estou falando.”
“Estou me esforçando, mas…”
“Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?”
“Se o senhor diz, cavalheiro.”
“Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.”
“Sim senhor. Pontudo numa ponta.”
“Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?”
“Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra vez. Quem sabe o senhor desenha para nós?”
“Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé. Sou uma negação em desenho.”
“Sinto muito.”
“Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de vida. Não sou um débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. 0 desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho algum problema com os números — mais complicados, claro. 0 oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como você está pensando.”
“Eu não estou pensando nada, cavalheiro.”
“Chame o gerente.”
“Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa que o senhor quer, é feita do quê?”
“É de, sei lá. De metal.”
“Muito bem. De metal. Ela se move?”
“Bem… É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim, assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim.”
“Tem mais de uma peça? Já vem montado?”
“É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço.”
“Francamente…”
“Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo, outra volta e dique, encaixa.”
“Ah — tem dique. É elétrico.”
“Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar.”
“Já sei!”
“Ótimo!”
“O senhor quer uma antena externa de televisão.”
“Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo…”
‘Tentemos por outro lado. Para o que serve?”
“Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa.”
“Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco alfinete de segurança e…”
“Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança!”
“Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!”
“É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um… um… como é mesmo o nome?”

Luís Fernando Veríssimo. Para gostar de ler — Crônicas.

OBSERVAÇÃO: Você pode acessar outros sites:

http://www.ronizealine.com/2016/02/dialogos-como-pontuar-corretamente.htmlhttp://www.ronizealine.com/2016/02/dialogos-como-pontuar-corretamente.html

GÊNERO REPORTAGEM

(Imagem do Google - click nela)

Você já notou que todas as atividades humanas estão relacionadas com a utilização da língua? O tempo todo estamos envolvidos em diversas situações em que a comunicação faz-se necessária, por isso, é natural que exista uma infinidade de gêneros textuais.
Os gêneros textuais estão a serviço das interações verbais, sejam elas orais ou escritas, e por esse motivo não podem ser considerados como estruturas textuais invariáveis. Embora dinâmicos e incontáveis, apresentam características que possibilitam sua sistematização, já que são enunciados que se assemelham temática, estilística e estruturalmente.
Entre os diversos gêneros, estão os gêneros jornalísticos, cuja função social é de grande relevância, haja vista a influência da mídia na contemporaneidade. Quando os textos do universo jornalístico são estudados a partir da visão de gênero, o entendimento das ações discursivas neles realizadas é facilitado. Para que você conheça melhor o discurso adotado pela mídia, o Brasil Escola apresenta para você algumas características do gênero textual reportagem. Vamos lá?

A reportagem:

Os gêneros jornalísticos podem ser divididos em duas grandes categorias: os gêneros que compõem o jornalismo opinativo e os gêneros que constituem o jornalismo informativo. No jornalismo opinativo, as opiniões do autor do texto ficam explícitas; no jornalismo informativo, os textos têm como objetivo noticiar, ou seja, narrar acontecimentos. A reportagem é considerada pelos estudiosos da linguagem como um gênero “problemático”, já que não possui definição clara dentro do campo linguístico.
Alguns estudiosos defendem que a reportagem nada mais é do que uma notícia ampliada, enquanto outros acreditam que se trata de um gênero autônomo. Entre os que defendem a primeira visão, a reportagem extrapola os limites da notícia, mas apresenta relação direta com o gênero. Para aqueles que acreditam ser a reportagem um gênero autônomo, ela não pode ser relacionada com a notícia, já que sua função não é a cobertura de um fato, ou seja, não possui caráter noticioso.

O propósito comunicativo da reportagem é informar a respeito de um assunto, o que não significa que esse assunto esteja necessariamente relacionado com temas do momento. Para Patrick Charaudeau, teórico que estuda os discursos da mídia, a “reportagem jornalística trata de um fenômeno social ou político, tentando explicá-lo”. Esse fenômeno social sobre o qual o estudioso se refere diz respeito aos acontecimentos produzidos no espaço público e que são de interesse geral.
► A reportagem apresenta elementos que não são próprios do gênero notícia, entre eles o levantamento de dados, entrevistas com testemunhas e/ou especialistas e uma análise detalhada dos fatos. Embora preze pela objetividade, característica importante dos gêneros jornalísticos, a reportagem invariavelmente apresenta um retrato do assunto a partir de um ângulo pessoal, por isso, ao contrário da notícia, ela é assinada pelo repórter. Nesse gênero é comum encontrar também o recurso da polifonia, pois nele existem outras vozes que não a do repórter, por isso o equilíbrio entre os discursos direto e indireto. A finalidade maior da polifonia é permitir que o repórter aborde o tema de maneira global e, dessa maneira, isente-se da apresentação dos fatos.
Observe agora dois exemplos que vão ajudá-lo(a) a compreender melhor as diferenças entre reportagem e notícia. Boa leitura e bons estudos!
Exemplos de Reportagem:
Professores não falam de educação
Tese de mestrado defendida na Universidade de São Paulo (USP) expõe a falta de voz dos educadores na mídia

Os professores não contam para ninguém o que se passa dentro da escola – ao menos, não para jornalistas. Há cerca de 10 anos, desde que a ONG Observatório da Educação começou a acompanhar o tratamento dado pela mídia a políticas educacionais, o educador não tem voz nas reportagens sobre o tema. A cada novo índice ou política pública proposta, gestores falam, historiadores, economistas e acadêmicos opinam, mas educadores não são ouvidos.
O fenômeno, acompanhado por Fernanda Campagnucci desde 2007, quando era editora do site do Observatório da Educação, foi tema de mestrado defendido pela jornalista em 2014 na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). A dissertação “O silêncio dos professores” identifica e analisa o processo de construção desse silenciamento.
O trabalho mostra como os profissionais responsáveis por ensinar as pessoas a terem capacidades como autonomia, pensamento crítico e capacidade de reflexão sentem-se tolhidos a não falar sobre sua profissão e rotina. São figuras raras não apenas nas reportagens educacionais, mas no próprio debate sobre as medidas a tomar para que seu desempenho seja bom.
“É um silêncio construído e reiterado”, afirma Fernanda, que entrevistou dez profissionais de várias regiões da cidade de São Paulo para explicar por que não falam ou o que ocorre quando conversam com jornalistas. O estudo também ouviu jornalistas que comentam suas tentativas frustradas de entrevistas. A conclusão é de que os educadores não são silenciados propositalmente ou deixam de falar por convicção, mas por uma “impregnação na cultura institucional” que inclui fatores como condições de trabalho e autoimagem do professor.
Muitos citam que declarações à imprensa são proibidas por lei. De fato, até 2009, um resquício da ditadura, popularmente chamado de “lei da mordaça”, proibia as entrevistas. Uma campanha do próprio observatório culminou na mudança da legislação, mas não do comportamento dos professores. “Mesmo os mais novos, quando entram, aprendem com os mais velhos que não devem falar do que acontece dentro da escola. Eles não citam exatamente o artigo, no máximo o estatuto do servidor sem ser específico”, conta.
As entrevistas também mostraram que o cuidado é aprendido na prática. Dos dez professores, dois foram escolhidos por já terem falado em reportagens e um deles foi repreendido pela diretora. “Embora as secretarias de Educação afirmem que há liberdade de expressão, o trabalho para silenciar é explícito”, diz Fernanda. Durante as greves estaduais, por exemplo, um comunicado dúbio reforça que não é permitido falar pelas instituições e acaba reprimindo qualquer fala. Da mesma forma, quando ocorre um caso pontual, como um episódio de violência, uma equipe de “gestão de crise” é enviada para “intermediar” o diálogo. Como resultado, nenhum professor comenta o assunto.
A desvalorização geral do educador também acaba por impactar subjetivamente o professor. “Ele vê reportagens que falam sobre educação e sabe que não é assim. Às vezes vive um conflito entre a realidade que vivencia e a que é retratada, mas acaba tão estigmatizado pela mídia, pela sociedade, até mesmo dentro da família que muda a sua autoimagem e aceita”, lamenta a pesquisadora.
Outro problema é a precariedade do trabalho. A profissão tem grande número de profissionais temporários, contratados sem concurso e que são dispensados após alguns meses. Também são muitos os docentes em estágio probatório por terem sido aprovados há menos de três anos. Mesmo os que são efetivos têm pouco vínculo com a direção, pela alta rotatividade ou pela jornada que, não raro, estende-se por mais de uma escola. No Estado de São Paulo, por exemplo, 26% dos docentes lecionam em dois ou mais estabelecimentos. “Eles não se sentem seguros o suficiente, estão em um ambiente burocrático e sem vínculos fortes, por isso uma entrevista é algo tão difícil”, explica a mestre.
Segundo sua pesquisa, depois de certo ponto da carreira, falar sobre o próprio trabalho passa a ser estranho para o professor que nunca tomou tal iniciativa. “A situação toda vai criando uma pré-disposição para não falar que depois se torna permanente ao longo da carreira.”
O levantamento mostrou também que os casos de professores retratados em reportagens são exceções extremas, em que os educadores aparecem como heróis apesar de um contexto ruim ou como responsáveis pela má qualidade na Educação, de forma isolada. A constatação deu origem à campanha “Nem herói nem culpado, professor tem que ser valorizado”, do mesmo Observatório da Educação. “Estas reportagens reforçam ainda mais a visão de que os educadores em geral não estão preparados.”
Para ela, apesar de todos os setores da sociedade e especialmente os governos desempenharem um papel de protagonista no silêncio, educadores e jornalistas podem ajudar a romper o ciclo vicioso. Por parte da imprensa, Fernanda diz que é preciso enfocar a falta de liberdade de expressão. “A mídia não pode naturalizar o silenciamento dos professores nem deixando de procurá-los e nem em respostas como ‘não respondeu à reportagem’. Quanto mais for enfatizada a razão dos educadores não constarem nos textos, maior a visibilidade para este problema”, diz.
Ao mesmo tempo, ela acredita que o tema deve constar das formações continuadas dentro das escolas e servir de reflexão para os educadores. “Todo esforço para mostrar a realidade influencia para que haja mudanças. É um processo amplo, que envolve questões objetivas e subjetivas do educador sobre o seu papel. O primeiro passo é tomar consciência”, conclui.
Por Cinthia Rodrigues
Disponível em: Carta na Escola. Acesso em 15/04/15.
Notícia:
Professores de São Paulo decidem manter greve 

Paralisação iniciada em março teve continuidade aprovada em assembleia com 20 mil pessoas 
Os professores estaduais de São Paulo que estão em greve desde o dia 16 de março decidiram manter a paralisação em assembleia realizada nesta sexta-feira (10). A greve já dura 28 dias e terá a continuidade votada novamente na próxima assembleia do dia 17 de abril. O encontro será realizado na avenida Paulista. A categoria também planeja uma nova manifestação para a próxima quarta-feira (15).
A passeata organizada pelos professores depois do encontro de ontem reuniu 20 mil pessoas na zona sul de São Paulo, por volta das 17h40, de acordo com a Polícia Militar.  Os docentes reivindicam 75,33% de aumento salarial como necessário para a equiparação salarial com os profissionais de ensino superior completo (como determina o Plano Nacional de Educação).
Além disso, exigem a plena aplicação da jornada do piso, a reabertura de classes fechadas, o imediato desmembramento das salas superlotadas, uma nova forma de contratação de professores temporários, aumento do vale-transporte e refeição, transformação do bônus em reajuste salarial e água em todas as escolas para todos.
Disponível em: Notícias R7. Acesso em 15/04/15

FONTE: Por Luana Castro (Graduada em Letras)



sexta-feira, 7 de abril de 2017

Ignácio de Loyola Brandão faz 80 anos e lança livro de crônica



Ignácio de Loyola Brandão não gosta da ideia de que suas lembranças e as histórias que viveu caiam no esquecimento – dele, inclusive. Por isso também, ele escreve. Mas garante que faz isso tudo sem nostalgia e que jamais entraria na máquina do tempo e voltaria para a Araraquara da sua infância e juventude. “Meu tempo é esse”, afirma.
O mundo era pequeno, tudo era proibido. Não havia diversão em sua cidade, tão cheia de preconceito. Nem telefone, ele reclama. “Gosto de fazer essa memória para não perder essas coisas”, diz. Mas Ignácio, nascido em 1936, viu esse mundinho crescer e se tornar global. O homem pisou na lua, Elvis, Beatles e Rolling Stones surgiram, o computador foi criado, todo mundo passou a andar com um telefone no bolso. Viveu a ditadura e a democracia, mas nunca, porém, nesses 80 anos que completa no domingo, 31, viu tanto ódio, incompreensão, agressão e despautério como vê nesses dias tão complicados.
E a perplexidade despertada pelo momento atual o levou a fazer algo que não fazia há 10 anos: escrever um romance. Era com Desta Terra Nada Vai Sobrar a Não Ser o Vento Que Sopra Sobre Ela que ele queria comemorar o aniversário, mas não gostou do rumo que a história estava tomando, recomeçou do zero e não pôde terminar. O livro novo não faz exatamente uma reflexão sobre o Brasil de hoje, mas reflete esse país que vem assombrando o escritor.
É a volta do autor dos emblemáticos Zero (1975), que vendeu 900 mil exemplares, e Não Verás País Nenhum (1981), mais de um milhão de cópias comercializadas, ao romance situado num país tentando superar questões urgentes – a ditadura, no caso do primeiro, o meio ambiente, no do segundo, e de tudo um pouco – corrupção, terrorismo, refugiados, etc. – no romance prometido para 2017.
Antes disso, porém, apresenta Se For Pra Chorar Que Seja de Alegria (Global), com uma seleção de crônicas, quase todas publicadas no Caderno 2. O lançamento será nesta quarta-feira, 27, às 18h30, na Livraria Martins Fontes (Av. Paulista, 509). Este é só o começo dos festejos. No domingo, Ignácio e sua filha Rita Gullo fazem o show Solidão no Fundo da Agulha, em que ele conta seus causos e ela canta as músicas que o remetem àquelas histórias. O encontro ocorre no mesmo local, a partir das 13 horas, quando ele faz nova sessão de autógrafos. Às 16h30 haverá um coquetel e o show.
Cronista do jornal O Estado de S. Paulo há 23 anos, Loyola Brandão acaba de ganhar o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, no valor de R$ 300 mil, pelo conjunto da obra. É o triunfo do escritor que queria ser cineasta – sonho realizado pelo filho. Mas eram outros tempos e ele, que foi também jornalista, descobriu como era gostoso escrever romances e contos.
“Eu tinha tesão de sair correndo do jornal, voava para a pensão e batia a máquina a noite inteira. Eu não tinha um projeto literário; só queria escrever a história que estava na cabeça. E eu também gostava de fingir que era escritor. Os amigos chamavam para sair e eu, sem um tostão, dizia: ‘Hoje eu não posso, estou escrevendo’. Eles achavam lindo.”
Ignácio conversou com o Caderno 2, do jornal O Estado de S. Paulo sobre literatura, memória, tempo, a influência do pai e muito mais. Leia a seguir trechos da conversa.
São 80 anos de vida, 51 desde a publicação da primeira obra e muita história para contar. Devem cobrá-lo por um livro de memórias, mas não é isso o que o senhor vem fazendo nas crônicas?
Sempre. Mas nunca vou escrever isso, não tenho nada o que dizer. Mesmo porque na biografia não posso inventar e nas crônicas eu invento muito. O que faço é um pouco aquela ‘quase memória’ do Carlos Heitor Cony. Solidão no Fundo da Agulha é uma quase memória.
Esse projeto que inclui livro e show está dando muito certo, não?
Muito. Eu nunca me imaginei indo ao palco para fazer um show. É surpreendente. Tem pessoas de todas as idades. Eu me divirto. E talvez essa entrega minha no palco passe para as pessoas. Já fizemos mais de 100 apresentações.
O passado está sempre presente em seus livros.
É uma memória, mas sem nostalgia. Eu não sou saudosista. Conto coisas que aconteceram no passado, mas não quero voltar. Meu tempo é esse. Era tudo muito chato. Com 20 anos era tudo proibição. Vivi numa cidade sem telefone, sem diversão, cheia de preconceito. O mundo era muito fechado, pequenininho. Gosto de fazer essa memória para não perder essas coisas.
Nada deixou saudade?
Nada. Gosto de lembrar daquilo, mas não tenho saudades. Jamais entraria numa máquina do tempo. Deus me livre. Cada um nasce na sua época, mas eu gostaria de ter nascido hoje. Se bem que o que eu vi foi bem interessante. Vi todas as mudanças, o Elvis Presley, a Brigitte Bardot, os Beatles, Rolling Stones, o homem descer na lua. Vi chegar o celular, o computador. Trabalhei em jornal quando era com linotipo e clichê de zinco e trabalho em jornal hoje com toda essa informática.
Mas por que, então, gostaria de ter nascido hoje?
Sou realista, meu tempo está acabando. Não sei quanto mais vou viver. Mas não vou parar por isso. 80 é uma idade interessante. É gostoso ter vivido o que vivi e ver o que estou vendo.
O mundo, hoje, está mais chato?
Ele está complicado. Nunca vi tanto ódio, incompreensão, agressão, despautério. Nesse Brasil, viramos inimigos um do outro. É um país dividido. Se você for defender uma ideia política, o cara pode te dar um tiro. Eu peguei a Revolução Socialista, que ia mudar o mundo. Não mudou. Hoje, não sabemos o que pode mudar o mundo. Essa impotência é que paralisa. As tais utopias… Cadê? Quais são? O que é política hoje? Eu imagino, nesse livro novo, o parlamento se dissolvendo como uma geleia.
Desta Terra Nada Vai Sobrar a Não Ser o Vento Que Sopra Sobre Ela faz uma reflexão sobre o Brasil atual?
Não, só conta. Vai ser meio fábula, meio fantasia, mas com muita realidade.
Poderia falar mais sobre a obra?
O personagem, na casa dos 50, 60 anos, está andando de ônibus por cidades fictícias do Brasil para fugir de um relacionamento. Numa hora, o ônibus quase vazio penetra num túnel imenso. Alguém diz que o túnel é artificial, em uma montanha com todas as palavras inúteis ditas em todos os celulares por todas as pessoas. Depois, o motorista mostra uma obra magnífica feita pelo governo com milhões de dólares, com propina, superfaturamento, num local coberto pela Samarco. Continua andando e entra no setor das delações premiadas. Passa pelo Morro das Lamentações, que comporta todas as acusações: ‘nunca fiz isso’, ‘nunca roubei’. Todos aqueles chavões formam uma cordilheira. Nisso vai tendo o retrato de um país. Quando entro e começo a escrever, a coisa vem vindo. Como a Lava Jato: puxa uma pena e sai uma galinha. E tem muita ironia. Estou adorando, mas não sei o que vai virar.
Ele dialoga com o Não Verás, que foi premonitório?
Não sei. Pode até ser, e tenho que tomar cuidado. Ele se passa num tempo qualquer. Pode ser hoje, e não é hoje. As pessoas se agredindo por nada. O personagem vai pedir uma informação e a mulher sai correndo gritando que vai ser estuprada. E ele vai atrás para tentar acalmá-la. Correm atrás dele. Ele só queria uma informação. Mas o medo está presente o tempo inteiro.
Diz muito sobre o momento.
Eu acho. Está tudo paranoico, e eu também. O terrorismo não está no livro, mas vai entrar porque o mundo ficou paranoico, doido. É um perigo. Os refugiados também vão aparecer. Tenho medo que esse livro nunca acabe.
Já se passaram 51 anos desde sua estreia. O que ainda o atrai na literatura?
Em primeiro lugar, ela é uma grande fuga. Em segundo, não sei direito o que é vida e gostaria de entender por que estamos aqui. Mas faço literatura por uma grande catarse, ela é a minha terapia. Essas coisas estão dentro de mim e ficam saindo. Fico pensando se um dia tudo vai esvaziar dentro de mim.
Gostaria que esvaziasse?
Não! Tenho medo que isso aconteça. Por que eu faço? Tem gente que fala coisas bonitas como ‘porque quero me entender’. Não sei se eu quero me entender. Eu quero tirar. Está cheio de coisa aqui ainda.
E o que a literatura proporciona, hoje, para o senhor?
Alívio. De repente, estou tão carregado e quando ponho para fora, eu gosto. É tão gostoso criar coisas e saber que alguém vai ler, que pode gostar e se divertir. Eu me sinto útil. E quando trago essas memórias, é uma forma de recuperar um momento que foi bom.
Voltando no tempo, a essas memórias. Seu pai foi um grande leitor. Ele foi sua primeira influência?
Sim. Ele foi um grande leitor e comprava livros com um sacrifício enorme. Ele assinava o Estado, via que saía algum livro, dava o dinheiro que economizava para o chefe do trem ou para o maquinista, que comprava em São Paulo e levava para Araraquara. E ele lia, lia, lia. Ele voltava do trabalho na Estrada de Ferro Araraquara (começou como escriturário) às 17h30, picava a lenha para o fogão e, enquanto minha mãe cozinhava, ele ficava lendo na sala. Eu o via lendo e perguntava: ‘É bom, pai?’. Aí ele me contava. Ou às vezes ele ficava meio assim e eu falava: ‘É triste, pai?’. Eu era um moleque chato. Quando comecei a ler, ele pediu livros para uma prima. Foi ele que me deu O Patinho Feio, percebendo que eu me achava feio, e com ele descobri, inconscientemente, que eu podia ser outra coisa. Depois, me fascinei pelo Livro dos Porquês. Eu era um menino que perguntava tudo.
O senhor acaba de ganhar o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Já quis ser imortal?
Nunca me passou pela cabeça, mas esta tem sido a pergunta mais frequente nos últimos dias. Confesso que foi um momento mágico ganhar o Machado de Assis, recebê-lo com pompa. Me fez pensar. É decisão difícil, tentadora. Mais da metade dos acadêmicos é de amigos meus. Mas será a hora? Não seria necessário antes um “namoro”, como me disse uma amiga acadêmica? Frequentá-la mais, conhecer os mecanismos, participar. Amadurecer, primeiro.
Que balanço o senhor faz desses primeiros 80 anos?
Foram bem vividos. Fiz tudo o que eu queria fazer. E tudo o que eu queria fazer era escrever. Vivi disso – como jornalista e depois como escritor. Encontrei uma mulher sensacional, a Marcia. Tive filhos. Já fui muito ansioso e hoje sou menos. A experiência do aneurisma foi fundamental e minha vida é outra depois dele. Não tenho mais pressa.
E tem medo de alguma coisa?
Da morte eu não tenho mais. Sei que ela vai chegar uma hora. Não tenho medo do que vou encontrar lá. Quem sabe há um universo paralelo, outra vida, vida nenhuma? Tenho medo de ter uma longa doença e ir me decompondo. E tenho outro medo, que faz minha mulher e minha filha rirem muito, que é de virar morador de rua e ficar andando com o cobertorzinho para lá e para cá.
O que sobrou daquele menino perguntador?
Ainda sou aquele menino. Eu escrevo esses livros porque eu sou ele. Continuo a ser o menino que vende palavras, que faz perguntas, brinca na enxurrada, sobe em árvore. Eu nunca quis perder a fantasia e a imaginação infantil e acho que consegui não perder muito dela não.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
FONTE: http://istoe.com.br/ignacio-de-loyola-brandao-faz-80-anos-e-lanca-livro-de-cronicas/

SUGESTÃO DE ACERVO LITERÁRIO:



Livros para ler pelo menos uma vez em 2017

Livros para ler em 2017: temas abordados nas obras podem influenciar o momento que você está vivendo; Confira a lista:


Cada história contida em um livro nos ensina a lidar com diferentes fases e momentos de nossas vidas. Os livros têm o poder de nos auxiliar a enxergar sempre além e nos dão a oportunidade de vivenciar experiências únicas, as quais não teríamos oportunidade de viver sem lê-los.

Confira 13 livros, sobre diferentes temas e de diferentes estilos, que você deve ler pelo menos uma vez em sua vida. Identifique aquele que está mais relacionado com seu momento atual e boa leitura!
1. O CAÇADOR DE PIPAS, DE KHALED HOSSEINI
A história de Amir, um garoto afegão que se sente culpado por ter traído seu melhor amigo, tem como cenário uma série de acontecimentos políticos, que começa com a queda da monarquia do Afeganistão em 1973, golpe de estado comunista em 1978, invasão soviética em 1979, a migração de refugiados para o Paquistão e para os EUA e a implantação do regime Militar pelos Talibã.
2. NUMBER THE STARS, DE LOIS LOWRY
O livro mostra que diferenças culturais e religiosas não importam entre amigos. Number the Stars conta a história de Annemarie Yohansen, uma menina dinamarquesa que cresceu na Segunda Guerra Mundial com sua melhor amiga, Ellen, que é judaica. Quando Annemarie descobre o que os nazistas estão fazendo contra o povo judeu, faz de tudo para proteger Ellen e toda comunidade judaica.
3. ORGULHO E PRECONCEITO, DE JANE AUSTEN
A história mostra como a personagem Elizabeth Bennet lida com os problemas relacionados à educação, cultura, moral e casamento na sociedade aristocrática do início do século XIX, na Inglaterra. Orgulho e Preconceito, uma das obras mais duradouras da literatura inglesa, ensina a superar diferenças e a encontrar a alegria em tudo o que vivemos.
4. THE OUTSIDERS, DE SUSAN E. HINTON
Hilton escreveu The Outsiders quando tinha apenas 16 anos visando apresentar a realidade de um adolescente americano do século 20. O livro acompanha dois grupos rivais, os Greasers e os Socs, que são divididos por suas condições socioeconômicas e nos lembra que a transição para a vida adulta nunca foi uma tarefa fácil.
5. LITTLE WOMEN, DE LOUISA MAY ALCOTT
O livro conta a história de quatro irmãs crescendo durante a Guerra Civil Americana, entre 1861 e 1865, e como elas aprenderam a superar juntas as dificuldades da vida. Ensina, acima de tudo, sobre a importância da união familiar.
6. JANE EYRE, DE CHARLOTTE BRONTË
A obra conta as experiências de sua heroína homônima, Jane Eyre. O livro contém elementos de crítica social, com um forte senso de moralidade, mas não deixa de ser considerado a frente do seu tempo, dado o carácter individualista da personagem e a exploração do classicismo, religião e feminismo.
7. POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA, DE HARPER LEE
O livro é baseado nas memórias familiares da autora, assim como em um evento ocorrido próximo a sua cidade natal, em 1936, quando ela tinha dez anos de idade. Conhecido pela sua vivacidade e humor, discute assuntos sérios como estupro, desigualdade racial e as injustiças do sistema jurídico.
8. ANNE OF GREEN GABLES, DE L. M. MONTGOMERY
Quando Anne Shirley, órfã de 11 anos, vai morar com uma nova família, descobre que houve algum erro: eles queriam adotar um menino. Enquanto essa descoberta deixa Anne insegura, com medo de não ser amada, você verá como a imaginação e o coração bondoso de uma criança pode te tocar. Uma história emocionante de amor e amizade, que nos lembra de que a vida pode nos apresentar boas surpresas, mesmo quando acontecem coisas que não estávamos esperando.
9. THE GIRL WHO FELL FROM THE SKY, DE HEIDI W. DURROW
Após uma tragédia, a menina Rachel vai morar com sua avó em um bairro predominantemente branco. Com sua pele negra e seus olhos azuis, a garota enfrenta o desafio de aprender a viver em um mundo preconceituoso. A obra discute a construção cultural e nos desafia a confrontar nossos prejulgamentos.
10. O DIÁRIO DE BRIDGET JONES, DE HELEN FIELDING
O livro tem sido um símbolo do feminismo para mulheres de todo o mundo. Humorística e reconfortante, a obra apresenta comentários cômicos, mas críticos sobre o significado de ser mulher na sociedade atual.
11. ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS, DE LEWIS CARROLL
O livro infantil é um conto de magia que gira em torno de Alice e um mundo imaginário. A história, que encanta crianças e adultos com seu discurso entre o real e o faz de conta, pode ser interpretada de diversas maneiras. Uma delas afirma que a narrativa representa a adolescência, com uma entrada inesperada, as mudanças, confusões e transformações que aparecem com o desenrolar da trama.
12. O PEQUENO PRÍNCIPE, DE ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY
Um dos livros mais traduzidos do mundo, a obra conta a história de um garoto que cai de um asteroide na Terra quando estava buscando entender a humanidade. Durante sua viagem, ele encontra uma série de personagens, que o auxiliam a compreender o poder transformador da amizade e da confiança.
13. A CULPA É DAS ESTRELAS, DE JOHN GREEN
A história tocante aborda a vida de Hazel, uma adolescente com câncer que convive com outros jovens em seu grupo de apoio à doença – juntos, eles compartilham seus medos e alegrias. O livro consegue capturar a doença com ternura e autenticidade, lembrando os leitores que o amor, a amizade e a fé transcendem tudo, inclusive a própria morte.


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