Proposição
Canto I (estrofes 1-3), em que Camões proclama ir
cantar as grandes vitórias e os homens ilustres – “as armas e os barões
assinalados”; as conquistas e navegações no Oriente (reinados de D. Manuel e de
D. João III); as vitórias em África e na Ásia desde D. João a D. Manuel, que
dilataram “a fé e o império”; e, por último, todos aqueles que pelas suas obras
valorosas “se vão da lei da morte libertando”, todos aqueles que mereceram e
merecem a “imortalidade” na memória dos homens.
A proposição aponta também para os “ingredientes”
que constituíram os quatro planos do poema que ja referimos em cima e podemos
como podemos ler em varias partes do poema:
“…da
Ocidental praia lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram além
da Tapobrana…”
“…o peito
ilustre lusitano…”.”…as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando
/ A Fé, o império e as terras viciosas / De África e de Ásia…”
“…
esforçados / Mais do que prometia a força humana…”.”A quem Neptuno e Marte
obedeceram…”
“…Cantando
espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e arte…”.”…Que eu
canto o peito ilustre lusitano…”
Invocação
A invocação (estrofes 4-5) às ninfas do Tejo. É o
pedido de inspiração às musas. Na religião grega antiga, as musas são nove
deusas, filhas de Zeus e Memória. Sua função está ligada ao canto, à poesia e
às artes em geral. São elas que inspiram os poetas e artistas. A musa da poesia
épica, a mais importante das nove irmãs, chama-se Calíope. Invocando a presença
da deusa, os poetas esperam que seus cantos sejam inspirados e se imortalizem.
Camões, em mais de uma oportunidade, dirige-se a
Calíope; mas a invocação inicial, que ocupa a quarta e quinta estrofes do
poema, Camões dirige às Tágides. Trata-se de uma invenção do poeta. Tágides
seriam ninfas do rio Tejo; com essa invenção, ele indica sua inspiração
nacionalista:
E vós,
Tágides minhas, (…)
Daí-me agora um som alto e sublimado,
um estilo grandíloquo e corrente.
Daí-me agora um som alto e sublimado,
um estilo grandíloquo e corrente.
Dedicatória
Canto I, estrofes 6-18, é o oferecimento do poema a
D. Sebastião, que encara toda a esperança do poeta, que quer ver nele um
monarca poderoso, capaz de retomar “a dilatação da fé e do império” e de
ultrapassar a crise do momento.
Termina com uma exortação ao rei para que também se
torne digno de ser cantado, prosseguindo as lutas contra os Mouros.
Exórdio
(estrofes 6-8) – início do discurso;
Exposição (estrofes 9-11) – corpo do discurso;
Confirmação (estrofes 12-14) – onde são apresentados os exemplos;
Peroração (estrofes 15-17) – espécie de recapitulação ou remate;
Epílogo (estrofes 18) – conclusão.
Exposição (estrofes 9-11) – corpo do discurso;
Confirmação (estrofes 12-14) – onde são apresentados os exemplos;
Peroração (estrofes 15-17) – espécie de recapitulação ou remate;
Epílogo (estrofes 18) – conclusão.
Narração
Começa no Canto I, (estrofes 19) e constitui a
acção principal que, à maneira clássica, se inicia “in medias res”, isto é,
quando a viagem já vai a meio, “Já no largo oceano navegavam”, encontrando-se
já os portugueses em pleno Oceano Índico.
Este começo da acção central, a viagem da
descoberta do caminho marítimo para a Índia, quando os portugueses se encontram
já a meio do percurso do canal de Moçambique vai permitir:
A
narração do percurso até Melinde (narrador heterodiegético);
A narração da História de Portugal até à viagem (por Vasco da Gama);
A inclusão da narração da primeira parte da viagem;
A apresentação do último troço da viagem (narrador heterodiegético).
A narração da História de Portugal até à viagem (por Vasco da Gama);
A inclusão da narração da primeira parte da viagem;
A apresentação do último troço da viagem (narrador heterodiegético).
A narrativa organiza-se em quatro planos: o da
viagem, e o dos deuses, em alternância, ocupam uma posição importante. A
História de Portugal está encaixada na viagem. As considerações pessoais
aparecem normalmente nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a
visão crítica do poeta sobre o seu tempo.
Epílogo
O epílogo (a parte final do poema, abrangendo as
estrofes 145 a 156 do Canto X) inicia-se com uma das mais belas e angustiadas
estrofes de todo o poema, na qual o poeta mostra-se triste, abatido, desiludido
com a pátria (em virtude da decadência em que Portugal se encontrava), que não
merece mais ser cantada:
“Não
mais, musa, não mais, que a lira tenho
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho,
não no dá a Pátria, não, que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
dua austera, apagada e vil tristeza.”
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho,
não no dá a Pátria, não, que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
dua austera, apagada e vil tristeza.”
Convém lembrar que em 1580, oito anos após a
publicação do poema, as preocupações de Camões descritos em “Os Lusíadas”,
tornaram-se realidade: Portugal perde autonomia, passando para o domínio
espanhol.
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