A igualdade: uma Senhora ainda de olhar paradoxal
A mulher: ser de múltiplas funções. As mais antigas e prestigiadas: esposa e mãe. Por séculos a fio essas foram suas únicas atuações possíveis, pois até então, era concebida como ser incapaz de apresentar vontade e sabedoria próprias. Essa imagem da mulher “não-pensante”, mas, “submissa, obediente” pode ser observada, com nitidez, no enredo de “A Chapeuzinho Vermelho”, principalmente, nas primeiras versões: Chapeuzinho perfaz uma personagem ingênua, carente de orientação que, somente, pode manter-se longe do “Lobo Mau” se capaz de obediência incondicional. Essa condição estava atrelada a interesses outros do sexo oposto. Oposto por sede de governar. E as nobres funções, que poderiam ter contribuído para a autoestima da Mulher, relegaram-na à categoria de ingênua, dotada de pouca inteligência, carente de proteção masculina; enquanto, na verdade, ela carecia apenas de companheirismo, valorização e amor por parte do sexo oposto. Nesse caminhar lado a lado, o Homem escolheu não usufruir da coragem, da sabedoria, da força da Mulher; preferiu escondê-la atrás de si ao plantar na cultura o estereótipo: Mulher: “sexo frágil”.
Agora, se acreditamos na história da origem humana, somos obrigados a lembrar que o Criador determinou a ambos os gêneros (feminino e masculino) que atuassem lado a lado; ordem que se justifica no próprio ato da criação: a mulher modelada da costela do homem. Todavia, esse fato ficou esquecido, já no primeiro momento, por parte do Homem. E desde então, este justifica que a única culpada pela história seguir rumo diferente é a Mulher que, desde o início, deu um jeito de bloquear a felicidade do casal e obrigá-lo a espinhos e abrolhos. E, sendo assim, ela deveria subjugar a própria vontade ao poder do Homem – ser que, na sua maioria, nunca assumiu responsabilidade pela tragédia inicial e sobreviveu a gerações culpando a Mulher pela própria desgraça, aquele de leme sempre à mão. E da leitura equivocada do contexto inicial, boa parte dos homens subjugou, escravizou e reduziu a Mulher a uma servidora incondicional das suas necessidades (do quarto à cozinha; do berço à universidade), evidência clara de quem soube aproveitar a oportunidade de governar da casa ao resto do universo. E, por séculos o Homem soube usufruir desse poder. A história está aí para nos confirmar que isso é fato.
Sem supervalorizar o “feminismo”, apenas refletir sobre a trajetória feminina de forma bem sucinta, considero que as funções hodiernas da Mulher parecem-lhe mais justas: esposa, mãe, amante; criativa, persistente, escolarizada, humana, atualizada, inovadora; líder nos postos de trabalho, na política, entre tantos outros aspectos. “Líder”, termo que sustenta a nova ordem econômica do emprego em substituição ao antigo “chefe”, segundo o respeitado consultor Waldez Luiz Ludwig. Ao serem perguntados sobre qual sexo (se masculino ou feminino) preferem na liderança, no ambiente de trabalho, funcionários de grandes empresas, disseram sem “preconceito” preferirem o mal interpretado sexo “frágil”. Por quê? Não seria uma traição ao tradicional gênero masculino? Não seria, pois, inserta na nova ordem do mercado, longe de ser “chefe” - palavrinha detestada no Universo do Trabalho por qualquer funcionário - a Mulher se mostra mais interativa, humana e dotada - conforme disseram os entrevistados em reportagem recente à TV - das características válidas na atualidade: inovação e criatividade. Essa escolha também é reveladora de nova opinião sobre a Mulher - evidência de que os sexos começam a se entender, a se respeitar. E, nessa nova ordem, enfim, justiça à Mulher, pois têm superado o anonimato e conquistado valor próprio, ou seja, experimentado, em parte, sabor compartilhado do poder no mercado de trabalho.
Numa nova ordem de mercado, com certas vantagens, como se observou, anteriormente, a Mulher ainda não conquistou a tão sonhada igualdade, a promessa do Édem, pois em algumas funções ela não divide espaço com o Homem; porque assume, ainda, uma fatia muito pequena de responsabilidade e reconhecimento, como se vê nas áreas da Política e das Ciências, por exemplo. Na primeira, embora uma Mulher ocupe o mais alto cargo, em nosso país, ainda não temos a dimensão da sua influência nessa área. Precisamos esperar para vermos o quanto isso contribuirá para o aumento do interesse da Mulher em assuntos políticos do Brasil. Na segunda área, de acordo com a revista “UNESP Ciência” (2011), a Mulher ocupa 50% do campo da pesquisa científica; mas há hierarquia no universo acadêmico, ou seja, algumas áreas, como Física e Engenharia, são mais prestigiadas; enquanto que, Nutrição, Enfermagem, por exemplo, áreas em que atuam o maior número de mulheres, de acordo com Luci Muzzeti (Letras, UNESP), seguem com menor prestígio.
E o que dizer da Educação, área em que a Mulher está mais presente? Embora essa devesse ser a mais prestigiada por que se constitui base para as demais, não é assim que as peças se mexem no tabuleiro. Embora o jogo seja de damas não lhes oferecem tantos troféus. A desvalorização da área educacional, no país, parece alcançar também a Científica e, consequentemente, a Mulher que nela atua.
À Mulher, responsabilidades foram confiadas no ritmo da passagem dos séculos, sob olhares de desconfiança. Embora ainda ela queira mais, diante de tantas conquistas, deveria ser considerada “sexo frágil”? A imagem que me vem à cabeça é de um ser “frágil” de facão na mão abrindo picada numa densa floresta, sem medo de Lobo Mau. Embora, polivalente, dotada de coragem, persistência, força e sabedoria para mudar realidades à sua volta, a Mulher arranha a possibilidade de direitos iguais. Ainda que algumas tenham conquistado nobres cargos na política, na administração de empresas, nas ciências, nas artes, nas letras; entristece-nos a sorte de tantas outras iguais, no gênero e, diferentes, nas conquistas.
Em tempos tão mudados, tão modernos, em que a mulher encontra trilhas capazes de elevá-la a posições antes ocupadas somente pelo Homem, ainda assistimos a uma onda de violência que vilipendia a dignidade feminina. Diante de tamanho ultraje, a disposição da mulher em denunciar o desrespeito, a agressão muda essa realidade e, talvez em decorrência dessa coragem, os números tão elevados de violência contra a mulher tornam-se conhecidos dos brasileiros. Brasil, Terra famosa por suas belezas tropicas e por suas lindas mulheres, lidera com o 6º lugar, no ranking mundial, a violência contra a Mulher segundo confirma a TV Sinal.
Enfim, hoje, 08 de março de 2011, é dia para ambos os sexos refletirem sobre o papel que a Mulher ocupa na nossa sociedade, a brasileira; se é digna do tratamento violento que vem sofrendo por parte de parte do sexo oposto, pois em 87% dos casos, o Homem (companheiro, marido) é responsável, segundo afirma Carneiro (UFMA, 2011) ou se vale pelo bem que tem feito à humanidade nas áreas em que atua. É dia não apenas para elogios, reconhecimento, mas de tomada de posição sobre esse fato que constitui vergonha nacional e parece fazer-nos retroceder em tantas conquistas.
Feliz dia da Mulher para todas que tiverem sorte de nascer para essa luta!!!!!!!!!!!!
Parabéns aos homens que não fazem parte desse contexto, mas têm sido companheiros do sexo que não se mostra frágil!
Fonte: Deusdélia Pereira (Delinha):
Graduada em Letras (São Paulo – SP), Mestrado em Estudo de Linguagens, habilitada em Linguística e Semiótica pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); experiência na área de letras e literaturas (Portuguesa e Brasileira): redação (ensino e revisão de manuais ou livros impressos, apostilados didáticos – consultoria da editora CPB); ensino: Linguística, Língua portuguesa (geral), Linguagem Jurídica, Prática de Ensino, Estágio Supervisionado, Sociolinguística, Produção de Textos; escritora de livros e manuais de linguística (Ead), palestrante, capacitadora de professores (rede pública e particular), coordenação de projetos e eventos culturais, Consultora na área pedagógica, entre outros.
Dedico esse texto à minha filha Kattlen, a outras mulheres que fazem parte da minha vida (Grimalda, Zilma, Eva, Rosangela Villa, Júnia, Prof. Cida Negri, Gláucia Lima, Eleni W. Eliane K, Gláucia laranjeiras, Solange Fortes, Daniela Loureiro, Márcia Cardoso, Deise Monteiro, Elisangela Breda, Jéssica Crespo, Sarah...; minhas ex-alunas, alunas ) e às mais distantes nesse universo!
Fonte: Deusdélia Pereira (Delinha):
Graduada em Letras (São Paulo – SP), Mestrado em Estudo de Linguagens, habilitada em Linguística e Semiótica pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); experiência na área de letras e literaturas (Portuguesa e Brasileira): redação (ensino e revisão de manuais ou livros impressos, apostilados didáticos – consultoria da editora CPB); ensino: Linguística, Língua portuguesa (geral), Linguagem Jurídica, Prática de Ensino, Estágio Supervisionado, Sociolinguística, Produção de Textos; escritora de livros e manuais de linguística (Ead), palestrante, capacitadora de professores (rede pública e particular), coordenação de projetos e eventos culturais, Consultora na área pedagógica, entre outros.
Dedico esse texto à minha filha Kattlen, a outras mulheres que fazem parte da minha vida (Grimalda, Zilma, Eva, Rosangela Villa, Júnia, Prof. Cida Negri, Gláucia Lima, Eleni W. Eliane K, Gláucia laranjeiras, Solange Fortes, Daniela Loureiro, Márcia Cardoso, Deise Monteiro, Elisangela Breda, Jéssica Crespo, Sarah...; minhas ex-alunas, alunas ) e às mais distantes nesse universo!
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