domingo, 16 de junho de 2013

LITERATURA

AS CINCO VANGUARDAS EUROPEIAS (CONTEÚDO ADAPTADO):

Por Cássio José

As vanguardas europeias foram manifestações artístico-literárias que passaram pelo Panorama da Literatura do Brasil e deixaram de certa forma, sua contribuição, no que podemos dizer ruptura da estética até então reinante no nosso país. De acordo com o que se vê por parte dos postulantes da Literatura, foi na Semana da Arte Moderna que essas “estéticas literárias” foram influenciando os pensamentos de alguns literatos brasileiros pela inovação que se pretendia. Aqui, por fins acadêmicos, trataremos das seguintes correntes de estética europeia que em dado momento foi pressuposto para esse pensamento ideológico de Modernismo na Literatura Brasileira: Expressionismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo e Surrealismo

EXPRESSIONISMO: Surgido em 1910, foi manifestação de povos nórdicos, germânicos e eslavos. Essa tendência expressou a angústia do período anterior à Primeira Guerra Mundial, voltando-se para os produtos artísticos dos primitivos e para as manifestações do mundo interior, expressas no uso aleatório de cores intensas e distorção das formas, como atesta o quadro O grito, do norueguês Edvard Munch.

Ficha Técnica - O GRITO
Autor: Edvard Munch
Onde ver: Galeria Nacional, Oslo, Noruega
Ano: 1893
Técnica: Óleo e pastel sobre cartão
Tamanho: 91cm x 73,5cm
Movimento: Expressionismo

Ler a resenha sobre a tela acima: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3840734

CUBISMO: Em 1907, Pablo Picasso pintou Lês demoiselles d‘Avignon (As senhoritas de Avignon) e inaugurou o Cubismo. Segundo essa tendência, as figuras, reduzidas a formas geométricas apresentam, ao mesmo tempo, o perfil e a frente, mostrando mais de um ângulo de visão. A literatura cubista, inaugurada por Apollinaire, preocupou-se com a construção física do texto: valorizou o espaço da folha e a camada significante das palavras e negou a estrofe, a rima, o verso tradicional. Esse seria o embrião da nossa poesia concreta, da década de 50.
Ficha Técnica : LES DEMOISELLES D’AVIGNON
Autor: Pablo Picasso
Ano: 1907
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 243,9cm x 233,7cm
Movimento Artístico: 
cubismo
Museu: Museu de Arte Moderna, Nova Iorque.


FUTURISMO: Essa estética celebrava os signos do novo mundo – a velocidade, a máquina, a eletricidade, a industrialização. Apregoando a destruição do passado e dos meios tradicionais de expressão literária, o Futurismo (tendência que mais influenciou a primeira fase do Modernismo) propunha:

- Liberdade de expressão;
- Destruição da sintaxe;
- Abolição da pontuação
- Uso de símbolos matemáticos e musicais;
- Desprezo ao adjetivo e ao advérbio.
- Apologia da máquina, da velocidade, da luz e da própria sensação dinâmica;
- Libertação e exaltação das energias;
- Exaltação do presente, da velocidade e das formas dinâmicas produzidas pela civilização, refletindo a vida moderna;
- Alternância de planos e sobreposição de imagens, ora fundidas, ora encadeadas, para dar a noção de velocidade e dinamismo;
- Arabescos contorcidos, linhas circulares emaranhadas, espirais e elipses;
- Geometrização dos planos em ângulo agudo, mais dinâmico, abolindo totalmente os ângulos retos cubistas na organização espacial, permitindo a sugestão da fragmentação da luz;
- Cores muito contrastadas, em composições violentas e chocantes.


Ficha Técnica - DINAMISMO DE UM CICLISTA:
Autor: Umberto Boccioni 
Onde ver: Acervo particular 
Ano: 1913 
Técnica: Óleo sobre tela 
Tamanho: 70cm x 95cm 
Movimento: Futurismo


DADAÍSMO: Este foi o mais radical e destruidor movimento da vanguarda européia. Fundado por Tristan Tzara, negava o presente, o passado, o futuro e defendia a idéia de que qualquer combinação inusitada promove um efeito estético. O Dadaísmo refletiu um sentimento de saturação cultural, de crise social e política.


Ficha Técnica - O Crítico de Arte:
Autor: Raoul Hausmann 
Onde ver: Tate Collection, Londres, Reino Unido 
Ano: 1919 
Técnica: Litografia e fotocolagem em papel 
Tamanho: 32cm x 25,5cm 
Movimento: Dadaísmo
Leia sobre a arte dadaísta:

SURREALISMO: Inaugurado com a publicação do Manifesto Surrealista, em 1924, este foi o último movimento da vanguarda, sofrendo influências das teorias de Freud, o Surrealismo caracterizou-se pela busca do homem primitivo através da investigação do mundo do inconsciente e dos sonhos. Na literatura, o traço fundamental foi a escrita automática (o autor deixa-se levar pelo impulso e registra, sem controle racional, tudo o que o inconsciente lhe ditar, sem se preocupar com a lógica.
Ficha Técnica – A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA
Autor: Salvador Dalí
Onde ver: MoMa, Nova York, Estados Unidos
Ano: 1931
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 24cm x 33cm
Movimento: Surrealismo

Leia sobre:

Comentário Crítico:
Percebe-se que os literatos brasileiros em algumas escolas literárias (como no Romantismo e Realismo, por exemplo), desejavam mostrar o “verdadeiro” Brasil. E isso, evidentemente, não poderia ser diferente, na nova estética literária brasileira, o que se percebe certa abertura e espaço, bem como sua influência da literatura estrangeira ou de ideologias que vinham de fora. Parece que os autores olham para o Brasil e fazem de sua literatura “palco de manifestações reais” do que realmente o Brasil é expondo as variadas facetas ou realidade do nosso país. Alguns livros didáticos até afirmam que a realidade verdadeira do Brasil era ignorada pela Literatura até então.
As vanguardas como movimentos artísticos, estética literária ou correntes da Literatura Europeia foram resultados ou consequências do que aconteceram no cenário europeu do século XX: problemas políticos, conflitos entre países vizinhos, intercâmbio entre a Primeira e Segunda Guerra Mundial...
A expressão vanguarda pode ser entendida como parcela dos intelectuais que exerce um papel pioneiro, desenvolvendo técnicas, ideias e conceitos novos, avançados, especialmente nas artes. O que havia de comum era nada mais do que conflitos ou debates de uma herança do século passado. É um grito do novo: os padrões da antiga estética literária e artística devem ceder lugar àquilo que estava por vir: O Modernismo. Havia assim manifestações desse “novo” em suas obras e divulgação de novas estratégias formais do tempo. 
Podemos, assim, refletir de uma desestruturação ou falta de uma literatura fixamente ou realmente brasileira. E se assim o é, tem forte influência estrangeira: É então, como se diz da boca de postulantes da Literatura um movimento que expressa pela arte o que é de fato o nosso país em dado momento? Somos simplesmente consequência ou resultado do que acontece lá fora no cenário mundial e reestruturados em um “quebra-cabeça” que na época foi apresentado como “Literatura Brasileira”.

REFERÊNCIAS:
ABAURRE, Maria Luiza; FADEL, Tatiana; PONTARA, Marcela Nogueira. Português: Língua, Literatura, Produção de texto. São Paulo: Moderna, 2004. 

OLIVEIRA, Ana Teresa Pinto de. Literatura Brasileira: Teoria e prática. São Paulo: Rideel, 2006.


FONTE: Blog do Prof. Cássio José.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

LIMA BARRETO

SUGESTÃO DE LEITURA:   ENSAIO (TEXTO ACADÊMICO):

O ensaio é de autoria da acadêmica Sarah Fernanda de Carvalho: contempla vida e obra do nacionalista/anarquista Afonso Henriques de Lima Barreto.

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 1881. Seus textos possuem características jornalísticas (aspecto de crônica) e urbanistas.

Lima Barreto procurava mostrar a realidade como ele percebia, fazendo duras críticas à sociedade, costumes e valores através de seus personagens. Ele utiliza o discurso em 3ª pessoa, pois dessa forma se distancia das personagens, tornando-se onisciente, além de transmitir para as personagens valores que estão presentes na sua essência. Seus contos são imprevisíveis, como por exemplo, o conto “Um Especialista”, no qual dois amigos que se encontram todas as tardes comentam sobre a vida, os amores, os negócios, até que um dos amigos comenta que está namorando uma bela mulata e por fim acaba por descobrir que ela é sua filha, dessa maneira acaba acontecendo um incesto não proposital.

É perceptível a presença autobiográfica nos contos de Lima Barreto. Ele faz uma mescla da sua biografia com um pouco de ficção, como fica nítido em vários contos. Em “O filho de Gabriela”, a personagem Horácio, assim como Lima Barreto, tem seus estudos bancados pelo padrinho, porém sempre se sentiu deslocado; em “Harakashy e as escolas de Java” Lima Barreto faz uma sátira às escolas brasileiras (corrupção no ensino) e à Academia Brasileira de Letras (na qual foi barrado), metaforizadas nas instituições de Java: o jovem Harakashy foi expulso das escolas de Java assim como Lima Barreto sofreu na Escola Politécnica, ele sofreu muito preconceito por ser negro e pobre, e por isso nunca conseguiu concluir o curso. Nesses dois contos é visível a presença do tom irônico de Lima Barreto, no qual ele deixa-se levar por impulsos íntimos, todos frutos da mágoa e do sentimento de inferioridade que passou a sentir após vários fatos negativos que ocorreram em sua vida.

É notável a presença da crítica ao falso moralismo da sociedade burguesa. Em “A Nova Califórnia”, é feita uma crítica à ganância. O falso moralismo é quebrado com a descoberta do lucro, existe também a valorização do que a sociedade rejeita: a única pessoa que não viola as sepulturas em busca de ossos é o bêbado Belmiro que ficou bebendo, indiferente a tudo que acontecia, sem se preocupar em obter lucro através dos ossos dos mortos. Uma curiosidade: esse conto foi adaptado para a Rede Globo e foi ao ar como novela – Fera Ferida. No conto “O homem que sabia Javanês” um amigo conta a outro sobre as espertezas e trapaças que usou para sobreviver: uma delas foi fingir que sabia Javanês sem o saber. Ele conta que foi até nomeado cônsul e representou o Brasil em uma reunião de sábios, deu palestras e publicou pelo mundo em Java. Esse conto mostra a falta de honestidade para conseguir, de certa forma, se dar bem na vida e tirar sempre alguma vantagem sobre os outros. Em “Cló” é retratada a decadência moral de uma família durante o carnaval no Rio de Janeiro, tendo como personagem principal Cló, filha do casal Isabel e Maximiliano, que procura sem rodeios se insinuar para o Doutor André, um amigo da família que é casado. O conto termina com Cló se entregando ao Doutor André (“... Ao acabar, era com prazer especial, cheia de dengues nos olhos e na voz, com um longo gozo íntimo que ela, sacudindo as ancas e pondo as mãos dobradas pelas costas na cintura, curvava-se para o Doutor André e dizia vagamente: Mi compra ioiô! E repetia com mais volúpia, ainda uma vez: Mi compra ioiô!”). Nesse conto fica retratado o cotidiano de uma família suburbana carioca, diferente das famílias burguesas que eram retratadas por Machado de Assis, em que a elite pondera, quer sempre manter uma imagem, são hipócritas e escondem o que realmente são. Já para as famílias suburbanas não existem pudores nem hipocrisia, eles são o que são sem esconder nada. Em “Como o Homem chegou” é feita uma crítica à burocracia. Numa delegacia do interior, um delegado manda um louco em um carro blindado com um médico, sendo este tão “intelectual” que, durante a viagem de dois anos com total falta de cuidado com o louco e um excesso de preocupação técnica, o paciente chega morto. “Adélia” é um conto com uma carga social denunciativa enorme, faz uma crítica a um hábito comum para a época: o de haver casamentos das garotas que viviam na Casa de Expostos (orfanato) no dia de Santa Isabel. É narrada a história de Adélia, que fora deixada pelos pais em um orfanato e se casou no dia de Santa Isabel, sem amor. No princípio a vida sexual ativa lhe agradou muito, mas passados dois anos de casamento o marido caiu enfermo, e ela, insatisfeita com a vida de enfermeira de alguém que não ama, acaba cedendo a um convite recebido e começa a se prostituir mesmo sentindo-se cobiçada, desejada e ganhando muito dinheiro. Adélia nunca perdeu o olhar distante e perdido que cultivou desde que foi deixada pelos pais no orfanato e que foi casada no dia de Santa Isabel. Em “Uma vagabunda”, Frederico conta ao amigo Chaves a história de Alzira, uma vagabunda que certa vez lhe pedira dinheiro emprestado, mais precisamente cinco mil réis, logo após se encontrarem em um bar. Logo depois, vendo-o pagar a conta com um volumoso monte de dinheiro, pediu-lhe mais cinco mil, que Frederico negou. Alzira indignada atirou os cinco mil que lhe haviam sido emprestados na cara de Frederico. Após um tempo, Frederico sujo, maltrapilho, vivendo uma péssima fase entra em um bar no qual Alzira está. Ela o cumprimenta educadamente e lhe oferece a passagem do bonde, que de imediato Frederico nega, mas que acaba por aceitar. Esse conto quebra os estigmas sociais e os estereótipos que a sociedade hipócrita faz de mulheres como Alzira. A cena final demonstra a imperfeição dos juízos sem provas dos pré-conceitos.

Nos contos de Lima Barreto, as mulheres são retratadas de uma forma muito peculiar. Em “Lívia” é contada a história de uma moça que já teve inúmeros namoros, mas nenhum resultou em casamento, por isso ela passa os dias sonhando com um casamento que lhe dê estabilidade e lhe tire de sua vida miserável. Esse conto faz uma crítica às mulheres que pensam em casar-se não por amor, mas sim por mera conveniência para solucionar problemas financeiros e viver de forma luxuosa. Essas mulheres têm um pensamento racional em relação ao amor e ao casamento. Lívia age de maneira leviana. Já em “Um e Outro” é contada a história de Lola, uma mulher dissimulada que abandonou o marido e tornou-se amante de luxo do homem que um dia fora seu patrão, mas apesar de todos os seus amantes ricos e poderosos, ela gosta mesmo do rude motorista que dirige o carro de luxo em que passeia. Quando vai ao encontro dele depois de uma semana, descobre que ele deixou de dirigir o carro de luxo para dirigir um táxi. Ela imediatamente perde a atração por ele (“... Não era o mesmo, não era o semideus, ele que estava ali presente; era outro ou antes ele era degradado, mutilado, horrendamente mutilado. Guiando um “táxi”...Meu Deus!...” ). É possível identificar características do Pré-Modernismo nos contos de Lima Barreto, pois mostram a realidade da humanidade.
Outra característica de Lima Barreto é o xenofobismo. Ele tem repugnância a tudo que é estrangeiro, como fica explícito no conto “Miss Edith e seu tio” – o título, por si só, já estrangeiro –, em que é narrada a história de dois ingleses: Miss Edith e seu tio, que chegam a uma pensão no Rio de Janeiro e mantêm-se arrogantemente distantes. Todos na pensão sentem-se inferiores aos magníficos ingleses. Essa suposta superioridade não é só física, mas também é intelectual. Porém, no final, toda essa superioridade é quebrada quando Angélica, uma das empregadas da pensão, pega a sobrinha saindo do quarto do tio (“... Premida pelo serviço, Angélica saiu do aposento da inglesa; e foi nesse instante que viu a santa sair do quarto do tio, em trajes de dormir. O espanto foi imenso, a sua ingenuidade dissipou-se e a verdade queimou-lhe os olhos... – Que pouca vergonha! Vá a gente fiar-se nesses estrangeiros... Eles são como nós...”). Mais uma vez acontece a prática do incesto, como em “Um Especialista”.

Durante toda a sua vida como escritor, Lima Barreto foi tido como relaxado, pois escrevia de uma maneira mais acessível ao leitor, escrevia para atingir um público de leitores menos assíduos. Por essa razão foi negado na Academia Brasileira de Letras. Em suas obras privilegiava os negros, pobres e desfavorecidos, valorizando a minoria insignificante. Seus textos eram ficcionais, porém os acontecimentos eram quase todos reais e alguns vividos pelo próprio Lima Barreto.

Seus contos possuem um grande leque de problematização e uma densidade psicológica sem igual. Lima Barreto é um autor que fez uso da ironia para se defender e através dela acabar com os paradigmas da sociedade, escrevendo contos cujos temas servem também para os dias atuais. O crítico Rodrigo Lacerda define Lima Barreto e a sua relação com a ironia: “A ironia em relação aos poderosos, que garante boas risadas até hoje. Outra é a defesa do patrimônio público, uma obsessão desse escritor que se tornou um porta-voz das classes populares. A terceira é a prosa mais ligeira que o normal da época, construída de forma menos rebuscada, preocupando-se menos em obter uma sonoridade retumbante e um ímpeto grandioso.”

Referências:
BARRETO, Lima. Melhores contos de Lima Barreto; seleção de Francisco de Assis Barbosa. 8 ed. – São Paulo: Global, 2002 – (Melhores contos)

GRAÇA ARANHA

Resumo da Obra Canaã:

Milkau, alemão, recém-chegado, o a uma colônia de imigrantes europeus, no Espírito Santo, aluga um cavalo para ir do Queimado à cidade de Porto do Cachoeiro. Junto com ele vai o guia, um menino de 9 anos, filho de um alugador de animais, no Queimado. Finalmente, chega ao sobrado do comerciante alemão, Roberto Schultz, em Cachoeiro. Na parte inferior do edifício fica o armazém, onde é negociada toda sorte de produtos. É apresentado a outro imigrante, von Lentz, filho de um general alemão. Milkau deseja arrematar um lote de terra para se estabelecer. Schultz apresenta-lhe o agrimensor, Sr.Felicíssimo, que está para ir ao Rio Doce fazer medições de terra. Milkau, desejando aí se estabelecer, decide se juntar ao agrimensor e convida o indeciso Lentz para acompanhá-lo.

Milkau vê na fusão das raças adiantadas com as selvagens, o rejuvenescimento da civilização. Enquanto acredita na humanidade, pensa encontrar no Brasil Canaã, "a terra prometida". Lentz só se ocupa da superioridade germânica, ficando enaltecido com o triunfo dos alemães sobre os mestiços. Para ele, a mistura gera uma cultura inferior, uma civilização de mulatos que serão sempre escravos e viverão em meio a lutas e revoltas.À noite, reúnem-se a Felicíssimo e ouvem de alguns homens da terra e dos trabalhadores alemães lendas, evocando o Reno e despertando saudades. Os planos dos dois imigrantes diferem; Milkau deseja manter seu pedaço de terra e anseia por uma justiça perfeita sem ganâncias ou lutas. Lentz está determinado a ampliar sua propriedade, ter muitos trabalhadores sob seu comando. Sonha com o domínio do branco sobre o mulato, numa confirmação de seu poder.

Após as medidas tomadas por Felicíssimo, Milkau pode levantar sua casa e Lentz deixa-se ficar, triste e angustiado, incapaz de abandonar o companheiro, dedicando-se às viagens e compras da casa. No trajeto, encontra-se sempre com um velho colono alemão taciturno, em companhia de seus cães ferozes, mas fiéis. Mais tarde, encontrará esse velho morto em casa, guardado pelos animais e devorado pelos urubus.

Acontece uma festa no sobrado de Jacob Müller. Milkau diz a Lentz que era isso o que buscava: uma vida simples em meio à gente simples, matando o ódio e esquecendo da dor. Lentz vê em tudo aquilo uma existência vazia e inútil. Milkau conhece, nesse dia, no sobrado de Müller, uma colona, Maria Perutz, que não consegue mais esquecer o encontro com o rapaz. A história de Maria é triste e solitária. Ela e a mãe moravam com um velho, seu filho, a nora Ema e o neto, Moritz Kraus. Repentinamente, Kraus falece e a situação na casa de Maria se modifica. Ema e o esposo decidem separar a moça do filho, temendo uma aproximação amorosa. A família quer ver Moritz casado com a rica Emília Schenker e o enviam para longe de Jequitibá. O rapaz parte com certa alegria, deixando Maria desgostosa, pois os dois já eram amantes.Franz Kraus é procurado por um Oficial de Justiça que, desejando saber porque a morte do velho não foi notificada, passa-lhe um documento sobre a necessidade de arrolamento dos bens de Augusto Kraus. O grupo se instala na casa e passa a chamar os colonos, amedrontando-os com extorsões e violências. Após a visita, cobram de Franz Kraus a alta importância de quatrocentos mil réis, além de demonstrarem certo interesse em Maria, notadamente o procurador Brederodes. Kraus sente-se ultrajado e roubado. A vida de Maria por essa época piora. Maria aguarda desesperadamente o retorno de Moritz para lhe contar sobre o filho que espera. Os pais do rapaz não tardam perceber o que se passa. Passam o dia a cochichar, a tramar para se verem livres dela. Tratam-na com mais rigor, não lhe dão quase comida, dobram-lhe os trabalhos. Uma manhã, trêmula e exausta deixa cair um prato. Encolerizada, Ema grita para que ela abandone a casa. Amedrontada, arruma uma trouxa e sai. Pede auxílio ao pastor, mas esse, dominado pela cunhada, docemente afasta Maria que parte para a vila em busca de abrigo.

Maria encontra uma estalagem, onde empenha a trouxa de roupa em troca de comida e abrigo. A dona do estabelecimento lhe dá dois dias para encontrar um emprego, mas a busca é em vão. Certo dia, na hora do almoço, Milkau reconhece Maria na estalagem. Ao saber de sua história, prontifica-se a ajudá-la, levando-a para a casa de uns colonos.Um dia trabalhando no cafezal, começa a sentir as dores do parto. Temendo retornar à casa, resiste até cair e, esvaindo-se em sangue, dá luz ao bebê. Alguns porcos, que estavam nas proximidades, correm para lambê-los, mordendo o bebê que falece. A filha dos patrões chega nesse instante e, sem nada perguntar, volta à casa, dizendo que Maria tinha matado o bebê e dado a criança aos porcos. Dois dias depois, Perutz estava presa na cadeia de Cachoeiro.

A população germânica, horrorizada com o crime de Maria, prepara-se para a vingança e o exemplo. Pede-lhes que deixem a punição da mãe assassina para os alemães. O procurador Brederodes, ignorado por Maria na época, insiste em puni-la para que aprenda a não ser tão orgulhosa. Chama todos os alemães de hipócritas e parte, deixando Shultz desmoralizado. Milkau fica sabendo do destino de Perutz e o encontro com ela em Cachoeiro choca-o. Volta a vê-la dias seguidos, passando a ser olhado com desprezo e desconfiança, pois, talvez, fosse o amante. Repelido pelos moradores, resigna-se com a condição de inimigo, permanecendo ao lado de Maria. Certa manhã, estando em companhia de Felicíssimo, Milkau encontra Maria, sendo levada por dois soldados para o tribunal. Em cada fase do julgamento, é apontada culpada. Milkau acompanha todas as sessões, chegando a ficar amigo do juiz Paulo Maciel. Este lhe diz que o final não será feliz, pois os depoimentos não deixam brecha para a inocência.

A avaliação não é das melhores. O juiz impossibilitado de fazer justiça por uma série de circunstâncias observa que a decadência ali existente é um "misto doloroso de selvageria dos povos que despontam para o mundo, e do esgotamento das raças acabadas. Há uma confusão geral".

Finalmente, numa noite, Milkau tira Maria da prisão e foge com ela, correndo pelos campos em busca de Canaã, "a terra prometida", onde os homens vivem em harmonia."

FONTEhttp://aranhagraca.blogspot.com.br/2009/03/resumo-da-obra-canaa-graca-aranha.html

LEIA AINDA: 
http://www.algosobre.com.br/resumos-literarios/canaa.html

MONTEIRO LOBATO



RESUMOS DOS CONTOS DE URUPÊS:

(Por Rebeca Cabral)


Os faroleiros é um conto que narra a história de Eduardo, que viveu em um farol por alguns dias e nesse tempo testemunhou uma tragédia. Depois de ler um livro – O perturbador do tráfego – ficou curioso da vida em um farol e assim conheceu Gerebita, o faroleiro de Albatrozes. Através do dinheiro conseguiu passar uma temporada no farol, lá Gerebita lhe falou sobre o ajudante que tinha, Cabrea, o único homem que não podia ter sido escolhido para esse cargo. Ao falar de Cabrea, Gerebita acabou fazendo Eduardo acreditar que o homem era louco. E assim em uma noite ele acordou com barulhos de luta e testemunhou Gerebita matando Cabrea. A resposta do crime foi legítima defesa e o corpo foi entregue ao mar. Eduardo jurou segredo, mas saindo do farol contou o caso e veio descobrir que entre os faroleiros havia uma rixa porque Cabrea fugiu com a mulher de Gerebita.

O Engraçado Arrependido conta a história do chamado Pontes. Desde sempre ele fazia todos rirem absurdamente. Era considerado o homem mais engraçado das redondezas, mas com o passar dos anos ele se cansou de levar esse título. Decidiu se tornar um homem sério e a sua seriedade só lhe deixou mais engraçado – na opinião alheia. Ele tentou procurar emprego, mas todos achavam que ele estava era fazendo mais uma grande piada. Pensou então no Estado, ali o aceitariam. Queria a coletoria federal, cargo do major Bentes. O homem sofria de um aneurisma e podia morrer a qualquer momento, deixando a vaga. Pontes contava com um parente do Rio de Janeiro que lhe garantiria a vaga assim que ela estivesse disponível e, para isso, Pontes só teria que avisá-lo quando o major viesse a falecer. Mas Bentes se fazia forte e assim Pontes estudou tudo que existia sobre aneurisma e chegou à conclusão de que um grande esforço poderia matar o homem. Em seguida se aproximou dele e se tornou homem de sua amizade. Pontes acreditava que rir bastante era um esforço fatal ao major e assim descobriu o que lhe faria rir e trabalhou na melhor piada de todas. Em um jantar, deu seu golpe fatal: Bentes explodiu em uma última gargalhada. Pontes, então, tomado de culpa, correu para casa onde se escondeu por uns dias. Quando saiu da sua reclusa, recebeu uma carta do parente carioca que lhe dizia que o cargo havia sido ocupado, pois ele demorara a saber da morte do major. Alguns dias depois, o povo ria de Pontes, que se enforcara em uma ceroula.

A Colcha de Retalhos conta a história de uma família. José da Alvorada era o patriarca e há pouco recebera a visita de um amigo. Este encontrou, no rancho da família, o amigo José, naturalmente, a sua esposa Ana, a filha Maria das Dores e a sogra Joaquina. D. Ana na época já aparentava mais idade do que tinha e era atormentada por varias doencinhas. Maria das Dores era uma menina tímida e calada e Joaquina nos seus setenta anos ainda era animada e disposta. Ela costurava uma colcha de retalhos que daria à neta como presente de noivado, os retalhos que compunham a colcha eram todos pedacinhos dos vestidos que a menina usara ao longo da vida. O amigo foi ali para propor um negocio a José, mas este não se animou e, por isso, acabou indo embora. Dois anos se passaram e D. Ana morreu, e corria um boato que Maria das Dores fugira com um rapaz para a cidade, não pra se casar, mas para “ser moça”. Em uma noite, o amigo da família Alvorada sentiu que deveria ir até o rancho. Foi e lá encontrou Joaquina, já bastante envelhecida, que lhe contou a tristeza de ter perdido suas filha e neta. Ao ver a colcha de retalhos, ela lhe contou o que cada um daqueles pedacinhos representava e disse que seu último desejo era ser enterrada com a colcha. O amigo foi embora e depois ficou sabendo que a velha morrera e seu desejo não fora cumprido.

A vingança da peroba fala da briga entre duas famílias, a dos Nunes e a dos Porungas. A primeira família era composta mais por mulheres, só viera apenas um menino que, por influência do pai bêbado, começou logo logo a beber, a fumar e a bater nas mulheres; a terra não tinha selo e cultivo nenhum. Os Porungas, por sua vez, tinham um rancho bem cuidado, animais gordos e faziam até mesmo uma boa colheita. Chegou um dia em que Nunes decidiu reagir e enriquecer suas terras também. Plantou milho e precisava de um monjolo e por isso derrubou uma peroba que ficava na linha das terras entre os Nunes e os Porungas. Na manhã seguinte à derrubada da árvore, os Porungas vieram reclamar, falando que a árvore também lhes pertencia já que ficava no meio da linha de divisa. Nunes respondeu que se metade era dele, ele ia usar sua metade. Construiu o monjolo, o ajudante lhe disse que havia lendas de que as árvores têm alma e se vingavam daqueles que as derrubavam. Com o monjolo pronto, Nunes sonhava com a prosperidade que o milho lhe traria, mas a ferramenta não prestou como deveria. Ele até tentou arrumá-la, mas nada se deu. Logo ele virou motivo de riso entre o povo, porque um dos Porungas veio espiar o monjolo e contou a todos a porcaria que era. Foi assim que Nunes se pôs a beber com o filho. Mais tarde, entre os gritos das mulheres, encontrou a cabeça do menino separada do corpo graças ao monjolo.

Um Suplício Moderno conta o caso de Biriba. O governo da época tinha um cargo chamado estafetamento e tratava-se de uma espécie de pombo-correio que devia fazer a correspondência entre duas cidades que não eram ligadas pela via férrea. Biriba tinha se dado mal em todos os seus negócios, era lerdo e acabou por perder a fazenda e fechar o botequim. Sua vida se resumia a arrumar o seu topete e se interessar por política. O partido que defendia dava a ele sempre os piores ofícios como barganha pelo baixo número de votos que recebia. Quando o seu partido ganhou as eleições, Biriba experimentou o sabor da vitória e já sonhava com altos cargos quando a ele sobrou o de estafeto. Nada pior: quem ficava com esse cargo vivia na estrada, nunca chegava porque sempre havia a volta e a jornada seguinte e ainda tinha que enfrentar sol e chuva com folga de um único dia nos meses ímpares. Biriba, que só respondia “sim senhor”, seguiu no cargo, mesmo emagrecendo e empalidecendo. Reclamou e nem demissão conseguiu. Por fim nasceu nele a idéia de trair o partido. Nas eleições seguintes, ficou encarregado de levar um “papel”, algo essencial. Na ida se meteu no mato e ficou na casa de um negro por dez dias; quando voltou seu partido tinha perdido e ele, quando questionado do que ocorrera, dizia não entender, pois havia entregado o papel no dia seguinte à sua partida. No novo governo vieram lhe comunicar que todos foram demitidos, mas o cargo dele seria sempre dele. À noite, Biriba amarrou a égua e sumiu.

Meu Conto de Maupassant conta a história de dois viajantes. Os dois conversavam no trem até que um avistou uma árvore e contou uma história ao colega de quando era delegado ali na região. Ele dizia que vieram lhe contar que um tal italiano que ali vivia, do tipo ruim, bêbado e jogador, tinha matado uma velha com uma foice, separando-lhe a cabeça e o corpo que se encontravam ali ao pé da árvore. Ele prendeu o italiano e tudo levava a acreditar que ele era o culpado, mas no dia seguinte já estava solto. Mesmo assim ele continuou de olho no italiano que vendeu seus negócios e foi embora. Anos mais tarde o caso ressurgiu e prenderam o tal, ele voltou sem objeções e olhava o tempo inteiro pela janela. Quando passou por aquela árvore, pulou fora do trem e depois encontraram-no com a cabeça rachada nos pés da mesma árvore. Um tempo depois, o filho da velha morta foi preso por matar um companheiro com a foice e, estando preso, confessou ter matado a mãe.

Pollice Verso fala da história de Nico, filho do coronel Inácio Gama. O coronel era metido em leituras e usava sempre entre suas frases palavras complicadas. Certa vez, vendo o filho maltratar os animais, disse que o menino daria para médico e assim o fez. Quando homem, Nico saiu da fazenda e foi para a cidade, onde se formou em Medicina. Lá também entrou nos amores com uma francesa, Yvonne, que já tinha prometido a mais oito homens o seu coração, e a cada um indicara uma constelação para lembrarem-se dela. Depois disso, Nico voltou às terras do pai. Passava todo o tempo farto da vida no interior lembrando-se dos amigos, amores e farras da cidade. Olhava para as estrelas e lembrava-se de Yvonne e sonhava em ir a Paris ter com ela. Nesse ponto que adoeceu o Major Mendanha, que tinha trinta contos. Chamaram o Nico para tratar dele, o menino diagnosticou a doença e declarou a cura em um mês. Porém era costume naquela época dar a herança ao médico que tratava o doente caso ele morresse. Assim Nico, que sonhava com o dinheiro fácil – motivo pelo qual fez medicina – para ir a Paris ter com Yvonne, optou por deixar morrer o major. Entrou na justiça e ganhou os trinta contos. Foi para a Europa ter com sua amada. Escrevia pro pai dizendo ter palestras com ilustres médicos e ser residente em três hospitais, mas a verdade é que os três hospitais eram os três cabarés que freqüentava quando não estava no apartamento de Yvonne. No Brasil, ficava o coronel iludido e a mãe já era morta mesmo.

Bucólica – ele era um amante da natureza, gostava das flores... Era sensível. Ficou sabendo que a Anica tinha morrido, perguntava do quê, mas ninguém sabia responder. Tinha morrido. Só isso podiam e sabiam dizer. Finalmente encontrou Inácia, uma agregada da casa dos Suãs – família da menina – essa saberia do que a menina tinha morrido. A negra contou. A menina tinha morrido de sede! Era aleijada, estava doente e então Inácia foi ao bairro do Libório, mas começou a chover e ela ficou presa por lá. À noite, Anica pediu água para a mãe, mas ela não buscou e a pobre, já sofrendo na cama, ficou a gemer com sede. Encontraram o corpo dela na cozinha, aos pés do pote de água. Não conseguiu nem alcançar o pote, a caneca estava como antes, toda a cozinha estava como antes, exceto pelo corpo da aleijada que se arrastou até lá para morrer de sede tão perto da água.

O Mata-Pau – o capataz e ele estavam andando pelas terras quando pararam para beber água. Ali ele avistou uma árvore e perguntou que tipo de planta era aquela. O capataz explicou que era um mata-pau, uma árvore que parasitava na outra até matá-la. Seguiram o caminho até que passaram por uma casinha, o antigo sítio do Elesbão. O capataz, então, foi contar a história do sítio. Elesbão vivia ali com o pai, quando entrou na puberdade disse que queria casar e o pai, crendo que o rapaz era homem, falou-lhe que escolhesse a noiva. Ele casou se com Rosinha, era feia e as moças da família tinham má fama, mas mesmo assim casou-se. Viviam bem no sítio e a moça acabara ficando bonita, engordara e era uma das mais belas da redondeza. Foi quando ouviram o choro de uma criança lá fora. No dia seguinte encontraram o bebê e resolveram criá-lo. Chamava-se Manuel Aparecido. Conheciam-no por Ruço e, à medida que crescia, ia mostrando que não era bom rapaz. Elesbão reclamou com o pai que se arrependera de ter acolhido o bebê. O pai morreu. Viviam só os três agora, e Ruço já chegava aos dezoito anos quando ele e Rosinha começaram um caso. Na rua comentavam, falaram pra Elesbão abrir os olhos, mas ele acabou morrendo sem nada saber. Neste tempo Rosinha envelhecera muito mais do que a quantia de anos passados e ela amava Ruço mais do que ele a ela. Ele a maltratava, mas mesmo assim, como última prova de amor, ela fez a vontade dele e vendeu as terras do sítio, iriam embora. Na noite antes da partida, Rosinha acordou com a casa pegando fogo, ela estava sozinha e trancada, mas conseguiu escapar. Amanheceu no mesmo lugar onde encontrara Ruço quando ainda era um bebê. Levaram-na para o hospital, as queimaduras curaram, o juízo se perdeu. Mas ainda foi feliz, pois quando sua vida iria virar um inferno, enlouqueceu.

Bocatorta conta a história de um negro horroroso, com a boca torta e a gengiva parecendo uma ferida com pedaços de dentes, pernas tortas e pés desalinhados. Ele morava no mato da fazenda do coronel Zé Lucas. Vargas, que contava do tal negro a Eduardo, era noivo de Cristina, a filha do coronel. O doutor ficou interessado pelo negro e quis conhecê-lo, assim, no dia seguinte iriam visitá-lo. Cristina não se animou com a visita, pois quando criança metiam medo nela usando a imagem do Bocatorta e até pouco tempo tinha pesadelos em que o negro a perseguia. Eduardo, então, incentivou-a a acompanhá-los, porque nada melhor que a realidade para curar os enganos da imaginação. No jantar falaram sobre um caso que corria na cidade: no túmulo da Luizinha, moça morta recentemente, foi encontrado a terra fuçada e pegadas estranhas a humanos e a animais. E dessa vez o padre tinha visto também, não só o coveiro. Na manhã seguinte, todos foram ver o Bocatorta. Cristina fez todo o caminho calada e temerosa. Quando chegaram à tapera, o negro saiu da porta que mal passaria um homem rastejando e ficou ali no cercado junto com seu cachorro magro e sarnento. Cristina e sua mãe, d. Ana, se afastaram de imediato e evitaram olhá-lo. Eduardo, após ver o monstro, se afastou também. Logo estavam de volta. No dia seguinte, Cristina amanheceu febril, foi diagnosticada a pneumonia e no décimo dia ela morreu. Eduardo, na noite da morte de Cristina foi visitar o túmulo de sua ex-noiva. Andando pelo cemitério à procura do túmulo dela, deparou-se com um corpo alvo agarrado por um outro, negro como carvão. Eduardo saiu correndo e só parou quando chegou à casa do coronel. Contou que mexiam no túmulo de Cristina, o que fez sairem o coronel, o capataz e Eduardo. O último ficou no meio do caminho desmaiado. O coronel e o capataz foram atrás do necrófilo Bocatorta e quando já o tinham preso, chamaram Eduardo. Iam matar com um tiro o negro, mas Eduardo deu uma sugestão melhor. Jogaram-no pântano que tinha na fazenda, tão profundo que era preciso três bambus amarrados um no outro para alcançar seu fundo. No dia seguinte o cachorro do Bocatorta chorava ao lado do pântano e o corpo de Cristina estava de novo enterrado levando o beijo do negro consigo. O único beijo que ele já experimentara.

O Comprador de Fazendas conta uma história ocorrida na chamada fazenda do Espigão, tida como a pior fazenda que já existiu. Já tinha falido três donos e agora levava mais um para a bancarrota, chamava-se Davi. Já perdido em dívidas, ia vender a fazenda. Veio para olhar as terras um tal de Pedro Trancoso, preparam tudo para convencê-lo de que era uma boa terra. Quando o rapaz chegou, achou toda a fazenda muito boa e aceitou o preço que foi proposto, sem levar os animais nem a mobília. Partiu no outro dia levando alguns ovos e a barriga cheia de bolinhos, frango e manteiga. Tudo arranjado para a visita dele. Voltaria na semana seguinte para fechar o negócio. Assim, no coração da família nasciam os sonhos. A mãe, Isaura, já sonhava com uma bela e grande casa; Zico, o filho, já tinha garantido com o pai seis contos para começar seu armazém e Zilda, a filha romântica, sonhava com o casamento com o tal do Pedro Trancoso que ficara cheio de galanteios para com ela. Acontece que os dias passaram e ele não voltou. Davi escreveu a um parente que era da mesma cidade do comprador e este contou-lhe que a verdade é que ele não passava de um picareta que dizia-se interessado pelas fazendas em todo o país para se aproveitar da hospitalidade dos donos das terras. Assim os sonhos da família ruíram. Um tempo depois, Pedro Trancoso voltou ao Espigão. Ele havia ganhado na loteria e queria casar com Zilda, dando ao sogro o posto de organizador das terras do Espigão, as quais iria comprar. Mas quando se aproximou da fazenda, foi recebido com lambadas e posto dali pra fora sem nada dizer. A pobre da Zilda ficou na janela vendo as esperanças que tinham lhe nascido com a volta dele morrerem. Depois com o tempo concluiu que morrer de amores é coisa só de romances.

O Estigma conta a história de dois amigos. Bruno andava por essas terras quando por acaso chegou à fazenda de Fausto, antigo amigo da época da escola que não via há tempos. Encontrou-o casado e com filhos, mas logo viu que casara pelo arranjo financeiro, pois a mulher era má. Vivia ali também uma mocinha, Laura, prima de Fausto, que ficando órfã foi recolhida por ele. Bruno galanteou com ela e depois de conhecer as terras do amigo foi embora. Anos mais tarde eles se reencontraram, Fausto então lhe contou a tragédia que fora sua vida. Naquele primeiro reencontro Fausto disse a Bruno que Laura era o único raio de luz e calor existente na Noruega fria que era sua vida, seu casamento. Depois disso, Fausto descobriu que amava Laura, lutou contra o sentimento, mas seu relacionamento com sua esposa, que já não era bom, piorou. Em um dia, ele saiu para caçar e viu Laura saindo também em direção a floresta, pois ela tinha o costume de ir para lá bordar. Fausto acabou não caçando, mas refletindo muito sobre sua vida. Quando voltou, um dos seus filhos lhe perguntou se ele tinha visto a Laurinha que tinha saído há tempo e não voltara. A esposa estava trancada no quarto e não queria ver ninguém. Fausto saiu com seus homens atrás de Laura e depois de muita busca encontraram-na morta, ferida por um tiro. A moça suicidou-se com o revólver de Fausto. A esposa não quis ver a moça morta, usando a sua gravidez como pretexto. Fausto nunca entendera a morte de Laura, sem nenhuma carta que justificasse e ainda usando o revólver dele, o mesmo que só ele e a esposa sabiam onde ficava. Finalmente quando nasceu o filho, descobriu todo o mistério. O menino nasceu com uma cicatriz que refazia com precisão o ferimento e o sangue que foi encontrado em Laura. Fausto não se conteve e mostrando o corpo do menino à sua esposa a acusou do crime, ela não disse nada e em pouco tempo morreu. Fausto, então a essa altura da história, chamou o filho para mostrar a Bruno a marca de nascença. Este, que ia fazer um comentário, foi calado por Fausto, pois o menino não sabia da verdade.

Velha Praga fala da praga que é o homem, ou melhor, o caboclo. Ele vem com sua mulher, que carrega um menino na barriga, um no braço e outro de sete anos agarrado em sua saia com uma faquinha na cintura e já com um fumo na boca, além de um cachorro sarnento. Erguem uma tapera de sapê, penduram o santo e se estabelecem ali. Em agosto, deitam fogo na terra, destroem tudo com ele, ainda olham e falam “que fogo bonito”. Com isso deixam a terra pura cinza e em setembro, quando a chuva vem, plantam milho. Depois, quando a terra para de dar o milho, eles vão embora. Em pouco tempo a terra engole a taperinha que construíram. A justiça não faz nada contra o fogo que eles causam, a lei não os prende por isso. O caboclo apenas é “tocado”, mandado embora das redondezas, mas sempre repete a dose onde se estabelece e depois vai embora, deixando a natureza se encarregar de esquecer sua passagem.

Urupês fala do caboclo. Começa contando como na literatura caminharam até chegar ao índio e depois o trocaram pelo cabloco. Fala também de como nos livros o cabloco é uma coisa muito diferente da realidade. Porque, na verdade, o caboclo não tem nada de admirável, o que ele vende é o que a terra dá e a qualquer um basta colher; ele não precisa de banco porque seu calcanhar rachado lhe serve de tamborete; ele não conhece talher porque as mãos já fazem o papel da faca, do garfo, da colher, usa no máximo uma tigela. Vive em sua casa de sapê e, se uma goteira aparece, coloca uma tigela para aparar a água; buracos na parede servem de gaveta. Justifica-se dizendo que não vale a pena. Qualquer serviço não vale a pena pro caboclo, pro jeca. Não precisa de guarda-roupa porque só tem a que veste e uma que está lavando. Democracia conhece só como ir buscar os papéis com um coronel e votar em nem sabe quem. Doença se cura com três caroços de feijão e etc; parto perigoso resolve com uma foto de são Benedito. De religião tem os santos como os coronéis do céu e usa de Deus como justificativa, “Deus quis”. Arte não produz nenhuma. E assim vai todo o conto retirando do caboclo todo o romantismo.

FONTE: http://vestibular.brasilescola.com/resumos-de-livros/urupes.htm

PRÉ-MODERNISMO NO BRASIL

LEITURA CRÍTICA:

ABL é contra a proibição do livro "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, nas escolas

Academia Brasileira de Letras se posicionou contrária à tentativa de censura ao livro "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, pedida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), que alegou ter conteúdo racista na obra do escritor.
Em reunião plenária realizada na tarde do dia 4 de novembro, na ABL, a Casa manifestou repúdio “contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística”, e apoiou o Ministro da Educação, Fernando Haddad, contrário à determinação do CNE, que proibiu a circulação do livro no país.
De acordo com a decisão dos Acadêmicos, “cabe aos professores orientar os alunos no desenvolvimento de uma leitura crítica. Um bom leitor sabe que tia Anastácia encarna a divindade criadora dentro do Sítio do Picapau Amarelo. Se há quem se refira a ela como ex-escrava e negra, é porque essa era a cor dela e essa era a realidade dos afro-descendentes no Brasil dessa época. Não é um insulto, é a triste constatação de uma vergonhosa realidade histórica”.
A ABL sugere ainda que seria muito melhor se os responsáveis pela educação estimulassem uma leitura mais aprofundada por parte dos alunos, ao invés de proibir as crianças de saberem disso.
Os Acadêmicos afirmaram que é necessário aos professores e formuladores de política educacional ler a obra infantil de Lobato e se familiarizar com ela. “Então saberiam que esses livros são motivo de orgulho para uma cultura. E que muito poucos personagens de livros infantis pelo mundo afora são dotados da irreverência de Emília ou de sua independência de pensamento. Raros autores estimulam tanto os leitores a pensar por conta própria quanto Lobato, inclusive para discordar dele. Dispensá-lo sumariamente é um desperdício. A obra de Monteiro Lobato, em sua integridade, faz parte do patrimônio cultural brasileiro e apelamos ao senhor Ministro da Educação no sentido de que se respeite o direito de todo cidadão a esse legado, e que vete a entrada em vigor dessa recomendação”, concluíram os Acadêmicos.
FONTE: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS


ATENÇÃO SOBRE OS SITES (OU BLOGS) PARA LEITURA: (3º ANO)

Sobre os autores do Pré-Modernismo  e características:

http://www.graudez.com.br/literatura/premodernismo.html#d4e1134

BOA LEITURA!!!!!!!!!!!!